Algo marcante na tradição gnóstica e espiritualista é o seu conceito sobre o conhecimento, mais especificamente sobre o conhecimento de Deus.
Seja qual for a linha seguida, sempre será encontrada a ideia de que é possível, por meio de uma ampliação da consciência ou de algum tipo de iluminação, alcançar uma relação imediata com a divindade, um contato direto. Isto, porém, vai de encontro à visão cristã da realidade.
O cristianismo ensina que o homem decaiu de sua condição original e, por isso, perdeu o contato imediato com Deus. O que ele sabe hoje em relação às realidades superiores, não o sabe por experiência direta, mas por causa da Revelação. Esta apresenta, por meio de analogias e explicações, realidades que não são percebidas e não podem ser compreendidas imediatamente pelo homem.
Por isso, dentro da perspectiva cristã, não existe a ideia de conhecimento direto, nem iluminação, mas, simplesmente, a explicação das verdades superiores por meio da Revelação divina, que foi documentada e recolhida para a posteridade.
Isso não significa que os homens não podem ter algum tipo de experiência mística, mas o fato é que estas não são suficientes para explicar-lhe o conteúdo real do que existe além do mundo visível e sensível.
Até por causa da condição decaída humana, tornou-se impossível, para o homem, compreender essa realidade superior sem o auxílio da Revelação. Tomás de Aquino afirma isso quando diz que a revelação foi necessária para o homem conhecer aquilo que não podia alcançar com a razão natural.
E isso acontece porque o homem está apartado de Deus. Ele foi expulso do Paraíso e isso significa a existência de uma separação real em relação a seu Criador. Assim, todo o contato que ele tem com Deus acontece de maneira indireta. Aliás, Cristo cumpre exatamente a função de preencher esse abismo, atuando como intermediário entre ambos.
Em relação ao conhecimento ocorre o mesmo. Por conta da condição decaída, o que podemos saber por experiência direta são apenas aquelas coisas que possuem conteúdo sensível ou que estão envolvidas dentro da realidade perceptível. O que é possível saber por si mesmo é aquilo que é atingível por meio da análise, da inferência, do raciocínio, da síntese, enfim, da tentativa de desfragmentação dos dados disponíveis.
Não existe, portanto, a possibilidade de conhecer realidades superiores de maneira direta, com o mero uso dos instrumentos racionais e dos dados disponíveis pela experiência imediata. Negar isso seria, inclusive, tornar desnecessária a obra de Cristo, que o fez mediador entre a humanidade pecadora e o Deus puro.
A própria salvação, de alguma maneira, envolve o conhecimento direto de Deus e isto apenas se tornará possível quando, por meio da via salvífica que passa por Cristo, as pessoas forem revestidas de incorruptibilidade. Enquanto houver a mancha do pecado, que é a razão da separação em relação a Deus, ficaremos naturalmente apenas tateando a realidade (Atos 17.26).
Fonte: Fábio Blanco
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