Unico SENHOR E SALVADOR

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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Olímpiadas 2016 - Falsa Bandeira: O evento-encenação da “célula amadora” e os terroristas do Paintball

Saem bolivarianos e comunistas e agora entram terroristas islâmicos. Sim! 
Nós também temos terroristas. “Células amadoras” onde o batismo é feito através de webcam, compram armas do Paraguai pela Internet e pretendem fazer “treinos de lutas marciais” a poucos dias dos jogos olímpicos, suposto alvo dos intolerantes religiosos. 

Isso quem disse foi Alexandre de Moraes, ministro da Justiça, em uma coletiva convocada numa atmosfera de pompa e gravidade. Uma “investigação sigilosa” que, ao mesmo tempo, pode ser divulgada à Imprensa. E a grande mídia repercute com seus
correspondentes no Exterior para que, definitivamente, esse País seja levado à sério. 

Esse é mais um exemplar de uma longa história de “eventos-encenação” (Umberto Eco) que começa com o casamento de Lady Di e Príncipe Charles, passando pelos mísseis jogados no Sudão e Afeganistão por Bill Clinton para desviar a atenção de um escândalo sexual em 1998 até essa desajeitada estratégia do governo Temer repleta de contradições, timing e oportunismo, com direito a foto de um “terrorista de paintball”.

No ápice do escândalo sexual do presidente Bill Clinton envolvendo uma estagiária e charutos em pleno Salão Oval da Casa Branca em 1998 e a ameaça de sofrer um impeachment, o Governo respondeu ao ataque terrorista a duas embaixadas norte-americanas na África com um ataque de mísseis de cruzeiro contra alegadas posições terroristas no Sudão e Afeganistão. 

Muitos analistas viram nessa ação uma estratégia para derrubar a pauta midiática do escândalo. O Departamento de Estado falou que tudo foi “mera coincidência”.

E naquele mesmo ano era lançado o filme Mera Coincidência (Wag The Dog) que acompanha um presidente também envolvido em escândalos sexuais que precisa reverter a agenda da mídia a poucas semanas do final da campanha da reeleição. Contrata um conselheiro de relações públicas e um produtor de Hollywood para produzir uma guerra fictícia envolvendo supostos terroristas albaneses em guerra cenográficas em chroma key e muitos vídeos “vazados” para os telejornais .

Tanto na realidade como na ficção, esses exemplos tratam de dois elementos fundamentais na política: otiming e o oportunismo. 

E quando esses dois elementos estão presentes simultaneamente em um fato político há 99% de possibilidade de tudo ter sido manufaturado, seja em uma False Flag, Inside Job, factoide, pseudo-evento ou um evento-encenação.

Filme “Mera Coincidência” (1998): terrorismo em chroma key

A poucos dias do início das Olimpíadas no Rio, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes convoca a imprensa e anuncia que a Polícia Federal prendeu um grupo de dez brasileiros que conversavam em aplicativos de comunicação, como o WhatsApp, sobre intolerância racial, ódio e islamismo. E finalmente foram presos quando os comentários passaram para “atos preparatórios” como comprar arma pela Internet de uma loja paraguaia e planejar fazer treinamentos de artes marciais.

Uma célula do Estado Islâmico no Brasil? Sim, e para o ministro trata-se de uma “célula amadora”.

A coletiva à imprensa foi cercada com tonta pompa e atmosfera de gravidade necessárias – o ministro levantou a bola para ao longo do dia a grande mídia chutá-la para frente através dos seus correspondentes internacionais, ávidos pela possibilidade do Brasil também estar no circuito do terrorismo internacional e ser um país respeitado. Sim! Nós também temos terroristas. Embora ainda “amadores”.

A coletiva: pompa e atmosfera de gravidade

Umberto Eco em seu texto clássico Televisão: a Transparência Perdida (texto do livro Viagens na Irrealidade Cotidiana, Nova Fronteira, 1983) descrevia como a irrealidade cotidiana estava sendo progressivamente transmitida por uma nova forma de TV: 
A “neotevê” – aquela televisão onde a realidade deixou de ser menos os fatos imprevisíveis e espontâneos do que aqueles habilmente produzidos para se encaixar confortavelmente no script pré-estabelecido da grande mídia .

Para Eco, o casamento da família real inglesa (o “Royal Wedding”) em 1982 teria sido o acontecimento inaugural: produzido e roteirizado para ser telegênico e encaixado na grade de programação da BBC.

São os “eventos-encenação” onde relações públicas, marqueteiros e jornalistas transformam-se em consultores para a produção de eventos que consigam juntar em um único lance timing e oportunismo.

Contando com a rápida repercussão pela Neotevê. Afinal, os eventos-encenação têm appeal, telegenia e canastrice com design cuidadosamente planejado para a mídia – reparem no personagem canastrão criado pelo ministro Alexandre de Moraes: um misto de Kojak com um estudado olhar grave que frequentemente entra em conflito com sua fala gaguejante e engasgos constantes. Mas diferente do ministro, o velho Kojak da série dos anos 1970 era um policial que não se levava a sério…

Ministro da Defesa: pronto para a ação em seu colete de campanha…


Eventos-encenação são contraditórios

De início, um evento-encenação apresenta muitas contradições pela sua natureza esquizofrênica: embora encenada, tem que aparentar espontaneidade e a fatalidade do destino.

(a) A expressão “célula amadora” ‘e uma contradição de termos:
“célula”, um conceito tático de um movimento político organizado, com característica “amadora”. O ministro teve que criar um conceito inusitado para a mídia engolir a história de jovens se comunicando no WhatsApp e comprando armas pela Internet;

(b) O ministro declarou que nomes dos brasileiros seriam mantidos em sigilo para, segundo ele, assegurar o êxito das novas fazes de investigação. Como é possível sigilo em uma ação já amplamente repercutida na mídia pelo próprio ministro. Na Europa e em países acostumados a lidar com atos terroristas, as investigações são sempre mantidas em sigilo para que não sejam atrapalhadas e nem crie pânico desnecessário.

(c) A necessidade da prisão do grupo suspeito veio a partir do momento em que passaram para “atos preparatórios”. A poucos dias das Olimpíadas a “célula” decide (ou foi “acionada”) partir para ação, comprando armas pela Internet e decidindo treinar “artes marciais”. Tudo em cima da hora, numa ação que, mesmo para aqueles que assistem a filmes de ação (provavelmente a formação da “célula amadora”), sabem que uma ação terrorista num evento dessa magnitude levaria meses para ser planejada.

(d) As prisões foram feitas com base em uma única evidência: conversas em aplicativos como WhatsApp. Mas não estamos no país onde juízes tiram o serviço do aplicativo do ar como sanção pelo serviço não fornecer à Justiça os registros de conversas entre usuários? Essa contradição foi apresentada ao ministro na coletiva. Alexandre de Moraes gaguejou mais do que o normal.

Agora vamos ao núcleo político de um evento-encenação: timing e oportunismo. Evento que de tão conveniente, passamos a nos perguntar: quem sai ganhando?

O terrorista de paintball: uma questão de corte do enquadramento

Evidências de encenação


Manchetes de jornais e imagens telejornalísticas morderam a isca oferecida pelos ministros da Defesa e Justiça e desenvolveram a habitual narrativa clichê: brasileiros barbudos, convertidos ao islamismo e, ainda, um deles respondia dúvidas sobre aulas de árabe em um grupo no WhatsApp.

Mas chega a forçar a barra no limite da irresponsabilidade ao transformar um “terrorista de paintball” em ameaça real aos jogos olímpicos. Em rede social um internauta mostrou a foto utilizada por veículos de comunicação e autoridades na qual um dos suspeitos parece empunhar uma arma de grosso calibre. Essa foto é comparada com a original, sem o corte de enquadramento. 

Percebemos que a arma é nada mais do que um equipamento usado em paintball para disparar pequenas bolas de tinta nos adversários do jogo – sobre isso clique aqui.

Nada como uma arma escura e um rosto barbado e “étnico” para criar uma ameaça pública…

Timing

A convocação emergencial de coletiva a imprensa veio em momento perfeito – com direito a imagens na TV com o ministro da Defesa Raul Jungmann vestindo uma espécie de colete de campanha e dando novas declarações esquizofrênicas (falava em “calma” e “segurança” após a fala grave e gaguejante de Alexandre de Moraes) acompanhado de militares com roupas de camuflagem como “papagaios de pirata”.

Tudo acontece após o massacre em Nice e a poucos dias dos jogos olímpicos. E também em meio a um ataque em um shopping em Munique, Alemanha. Isso após um outro ataque a machado em um trem em Würzburg, também Alemanha – e, como sempre, o “terroristas” ou se matam ou são mortos no final pela polícia.

Como sabemos, um Estado autoritário deve sempre contar com um inimigo externo para criar legitimidade pelo medo e terror. O atual governo interino de Michel Temer sabe que a sua missão é amarga e ingrata: enfiar goela abaixo do populacho todas as medidas neoliberais antipopulares, antissociais e anti-trabalhistas – Estado mínimo e financismo máximo.

Bolivarianos e comunistas perderam a força de apelo que levou milhares de camisas amarelas às ruas. Agora é o momento de criar um novo inimigo: o poder do Estado Islâmico arregimentar brasileiros através da Internet. Terroristas e homens-bombas estariam entre nós. Muito embora eles já estejam há anos aqui com o crime organizado (PCC) que explode caixas eletrônicos e corrompe a Polícia Militar.


Desviar a atenção da mídia internacional?

Oportunismo – quem ganha?

O impeachment da presidenta Dilma deve ir a julgamento final em agosto, em meio aos jogos olímpicos do Rio. Elevar o alerta de terrorismo é a clássica estratégia de desvio da atenção no momento em que jornalistas e o mundo inteiro estará olhando para o Brasil.

O fato de Dilma não ter renunciado e ter se convertido em uma “denúncia viva” do golpismo brasileiro ao viajar pelo País e dar entrevistas a correspondentes estrangeiros, transformou-se num problemas de relações públicas para o governo interino.

Um alerta de terrorismo é conveniente para derrubar a pauta midiática atual concentrada em impeachment + crise econômica + Lava Jato.

Além disso, ganha também a grande mídia, principalmente a TV Globo. Nos últimos anos de queda de audiência vertical pela concorrência da Internet e tecnologias de convergência, é facilmente perceptível no seu telejornalismo a demonização da Internet: terra de ninguém onde ocorrem golpes financeiros, pedofilia, pornografia, pirataria vício, dependência, Deep Web etc.

E agora, além de torcidas organizadas de futebol que marcam encontros violentos pelas redes sociais, temos o Estado Islâmico cooptando brasileiros com “batismos virtuais” diante de um estandarte negro transmitido por webcam.

Para uma emissora como a Globo que sempre sentou em cima de mercados de novas tecnologias para evitar concorrência com a TV aberta (vide o caso da TV por assinatura nos anos 1990-2000), o governo Temer poderá trazer as condições ideais: crise econômica e recessão para forçar todos, com dinheiro curto, ficarem em casa e ter a TV como única fonte de entretenimento; e demonização das ameaçadoras novas tecnologias.


Phonte: Apocalink

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