Unico SENHOR E SALVADOR

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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Refutando o Aniquilacionismo



Por algum tempo da minha vida, por influência do aniquilacionismo adventista[1], do aniquilacionismo russelita[2] e do Aniquilacionismo banzoliano[3], eu defendi a ideia de que a morte significa o término da existência (influência russelita) e de que o inferno era temporário, e não eterno (influência de Banzoli e dos adventistas).

Não obstante, essa ideia está fundamentada em uma série de argumentações sustentadas sob a égide de pressupostos antibíblicos. Essas argumentações serão resumidamente apresentadas e respondidas neste artigo. Antes disso, porém, será feita uma apresentação
breve e geral das bases bíblicas do imortalismo.

Bases Bíblicas do imortalismo

Diferente da antropologia holista, as Escrituras nitidamente apresentam o homem como constituído de duas partes claramente distintas (uma física e uma espiritual), isso fica claro em: Eclesiastes 12.7; 1 Coríntios 5.3,5; Romanos 8.10; 1 Coríntios 5.5; 7.34; 2 Coríntios 7.1 e Colossenses 2.5. 

Embora o termo “alma” e “espírito” sejam polissêmicos, assumindo diferentes significados ao longo das Escrituras, em alguns casos eles são usados justamente para descrever a parte espiritual que compõe o homem em distinção ao corpo físico.

Falando da morte natural, Mateus 10.28 diz que somente o corpo (a parte física) morre e que a alma (a parte espiritual) não sofre a morte natural: “E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma.” Como essa afirmativa é clara quanto ao corpo morrer e a alma continuar viva, alguns aniquilacionistas buscam “parafrasear” o texto de forma a encaixá-lo na sua doutrina. No entanto, a declaração tal qual aparece no texto não corresponde ao que eles creem.

O texto diz claramente duas coisas: (i) o homem é formado de corpo e alma e (ii) a alma sobrevive a morte do corpo. Isso explica porque os aniquilacionistas inventam de tudo para tentar achar um modo de "reescrever" o texto com outras palavras.

Paulo, em seu dilema entre morrer ou continuar vivendo, descreve a morte (e aqui, não a ressurreição no arrebatamento) como um “partir para estar com Cristo” (Filipenses 1.23). Jesus prometeu ao Ladrão da cruz que naquele mesmo dia ambos iriam ao paraíso. 

O advérbio de tempo “hoje” não se refere ao verbo “dizer”, como querem os aniquilacionistas, pois, o objetivo do advérbio era fornecer uma resposta à declaração do ladrão no verso anterior. 

O malfeitor provavelmente tinha a mentalidade judaica de que o Messias viria em glória para estabelecer seu reino no futuro. Ao usar o advérbio “hoje”, Jesus objetivava mostrar que o ladrão não precisaria esperar até o futuro, mas que naquele mesmo dia os dois já estariam juntos no paraíso celestial (Lucas 23.42-43; 2 Coríntios 12.2-3).

Em Lucas 16.19-31 Jesus narra a parábola do rico e Lázaro. Ela faz parte de uma perícope composta por oito narrativas, que contextualmente mostram o favor de Deus em relação aos gentios pecadores e Sua reprovação em relação ao judaísmo farisaico. Todas essas parábolas, ainda que contenham elementos simbólicos e figurados, são baseadas em coisas que acontecem na realidade. 

Nenhuma parábola da perícope se baseia em ilustrações puramente irreais, muito menos em uma heresia. Isso não significa que a parábola seja uma história literal, nem que possamos basear doutrinas em seus pormenores, e muito menos que seja possível extrair dela uma radiografia exata do além. 

Por outro lado, na medida em que as parábolas da perícope se baseiam em eventos do mundo real, devemos entender que, apesar dos elementos simbólicos que aparecem na parábola, Jesus só a contaria se realmente na vida real pessoas morressem e fossem para o céu ou para o inferno.

Quanto ao inferno eterno, as Escrituras declaram que os ímpios serão lançados na fornalha ardente (Mateus 13.49-50), no fogo eterno (Mateus 25.41,46), sofrerão o castigo eterno (Daniel 12.2) e que eles serão atormentados para todo o sempre (Apocalipse 20.10). A ideia de “eterno”, não é apenas “eterno em consequências”, mas “eterno em duração”. 

A palavra é usada nos mesmos contextos em referência à “vida eterna” (Daniel 12.2; Mateus 25.46). É importante observar que o que está em antítese no texto não é a qualidade da recompensa final (ambas são eternas em duração), mas sim o tipo de recompensa (inferno ou vida). 

É um absurdo hermenêutico interpretar a mesma palavra lado a lado no mesmo verso com significados diferentes.

Respostas aos argumentos aniquilacionistas

1. A Bíblia fala da morte como um sono.


Resposta: Nas Escrituras, a descrição da morte como um sono é um exemplo de uma figura de linguagem chamada de eufemismo. Crenças judaicas antigas podem de fato servir de pano de fundo para essa linguagem, visto que, eufemismos são baseados nas crenças populares de um povo. 

Hoje, quando uma pessoa morre as pessoas dizem que "fulano está descansando", “faleceu”, "bateu as botas", "foi viajar", etc. De modo similar, as Escrituras descrevem a morte como um sono, cujo objetivo não é fornecer uma descrição literal do além.

2. Eclesiastes 9.5-10 diz que os mortos estão inconscientes.


Resposta:
Eclesiastes é um livro que descreve como seria a vida sem Deus. Ele diz que tudo seria sem sentido, até trabalhar ou estudar. Em Eclesiastes 9.5-10 Salomão declara que sem Deus nada haveria além desta vida. Na verdade, o texto não diz que com a morte tudo acaba, mas sim que, com a morte não temos mais participação neste mundo ("debaixo do sol"). Depois que morrermos não participaremos mais dos sentimentos, dos trabalhados e das atividades que se fazem na terra.

3. A ideia de vida após a morte torna a ressurreição sem sentido.


Resposta: O objetivo da ressurreição é redimir o corpo. As almas dos salvos que morreram estão justamente aguardando a redenção de seus corpos. A ressurreição é profundamente importante. Paulo argumenta que se não houvesse ressurreição, não haveria redenção alguma: “também Cristo não ressuscitou” (1 Coríntios 15.13-14), o que tornaria nossa existência neste mundo totalmente sem sentido (1 Coríntios 15.29-34). 

A ressurreição é essencial para o processo de regeneração, justificação e glorificação (Romanos 4.25; 5.10; 6 4-9; 8.11; 1 Coríntios 6.14; 15.20-22; 2 Coríntios 4.10-14; Efésios 1.20; Filipenses 3.10; Colossenses 2.12; 1 Tessalonissenses 4.14; 1 Pedro 1.3). Sem ressurreição, não há redenção. 

As almas não poderiam nem mesmo gozar de um estado intermediário no céu sem a redenção, a regeneração, a justificação e a esperança da glorificação. 

Portanto, é um mito achar que crer no estado intermediário consciente das almas signifique negligenciar a verdade da ressurreição, ao contrário, o estado intermediário depende da ressurreição.

4. De acordo com a Bíblia, vamos para o céu só quando Jesus voltar.

Resposta: Se “céu” for entendido como o estado final em que todas as coisas, corpo, alma e criação, já estarão restaurados, de fato, estaremos lá só quando Cristo vier segunda vez. No entanto, não se deve confundir a expressão “céu” em referência ao estado intermediário e a expressão “céu” em referência ao estado eterno. Do mesmo modo que não se pode confundir a ideia de inferno intermediário (Hades) com a de inferno eterno (Geena).

5. A palavra “inferno” não aparece na Bíblia.

Resposta: Na verdade, as Escrituras usam as palavras Seol[4], Hades[5] e Geena[6]. As duas primeiras são polissêmicas, podendo significar “sepultura”, “(figuradamente) a Sepultura comum da humanidade”, “a própria morte”, “o estado intermediário” ou “o inferno intermediário de tormento” (Salmos 141.7; Salmos 88.10-12; Lucas 10.15; 16.23). Geena, por sua vez, é uma alusão ao Vale de Hinom, no qual se queimavam lixo e cadáveres. A figura do vale de Hinom, com fogo e bichos, foi usada como uma ilustração do inferno eterno, no qual os ímpios, em corpo e alma, serão eternamente atormentados (Marcos 9.43-48).

6. A Bíblia diz que a alma morre.


Resposta: Como já dito, as expressões “alma” e “espírito” são palavras polissêmicas, podendo se referir a aspectos psicológicos, a princípios vitais, a substância imaterial ou a própria pessoa. Neste último sentido, as Escrituras falam que a alma morre (Ezequiel 18.4), enquanto neste penúltimo, diz que ela sobrevive à morte do corpo (Mateus 10.28).

7. Se os ímpios serão atormentados eternamente no fogo do inferno, então, eles viverão eternamente.

Resposta: O termo “vida eterna” nas Escrituras não significa meramente “duração perene de existência”. Vida eterna e imortalidade, na Bíblia, significam comunhão plena e eterna na presença de Deus (João 17.3; 1 João 2.24-25). Visto que “vida eterna” significa eterna comunhão com Deus, a eterna separação de Deus é corretamente chamada “morte eterna” (Apocalipse 21.8). Por outro lado, Deus se faz bem presente no inferno manifestando sua santa ira para louvor do Seu Nome (Salmos 76.10).

Considerações finais

O aniquilacionismo não é uma doutrina bíblica, mas uma crença que conforta o coração idólatra de pessoas com um senso de justiça deturpado, as quais são incapazes de aceitarem como direita a reta punição de Deus revelada nas Escrituras. 

A Bíblia é clara em descrever a destruição final dos ímpios, não como um aniquilamento, mas como a eterna separação de Deus: “Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder.” (2 Tessalonicenses 1:9).[7] Confessamos que:

“Os corpos dos homens, depois da morte, convertem-se em pó e vêm a corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem dormem), tendo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final. Além destes dois lugares destinados às almas separadas de seus respectivos corpos as Escrituras não reconhecem nenhum outro lugar.” 
(CFW XXXII.I)
____________________

Notas:

[1] É possível ler sobre o aniquilacionismo adventista no capítulo 33 do livro “O Grande Conflito (Edição Compacta) - Ellen White – Casa Publicadora Brasileira, 2004”.

[2] Para uma visão do aniquilacionismo jeovista, é possível ler sobre ele no livro “Raciocínio a Base das Escrituras”, nos índices sobre “morte”, “inferno”, “alma” e “espírito”; e no capítulo 6 do livro “O que a Bíblia realmente ensina/ Você pode entender a Bíblia”, ambos publicados pelas Testemunhas de Jeová. O capítulo 6 do livro “Você pode entender a Bíblia” está disponível on-line (https://www.jw.org/pt/publicacoes/livros/estudo-da-biblia/que-acontece-quando-morremos/).

[3] O aniquilacionismo de Lucas Banzoli pode ser estudado, especialmente, em seu livro “A Lenda da Imortalidade da Alma”. E vários artigos do mesmo sobre o assunto podem ser lidos em: http://www.lucasbanzoli.com/2015/07/artigos-sobre-imortalidade-da-alma.html

[4] A palavra Seol ocorre ocorre 66 vezes no Antigo Testamento. Todas as passagens bíblicas em que a palavra Seol aparece são: Gn 37.35; 42.38; 44.29,31; Nm 16.30,33; Dt 32.22; 1Sm 2.6; 2Sm 22.6; 1Rs 2.6,9; Jó 7.9;11.8; 14.13; 17.13,16; 21.13; 24.19; 26.6; SL 6.5; 9.17; 16.10; 18.5; 30.3; 31.17; 49.14,15; 55.15; 86.13; 88.3; 89.48; 116.3; 139.8; 141.7; Pv 1.12; 5.5; 7.27; 9.18; 15.11,24; 23.14; 27.20; 30.16; Ec 9.10; Ct 8.6; Is 5.14; 7.11; 14.9,11,15; 28.15,18; 38.10,18; 57.9; Ez 31.15,16,17;32.21,27; Os 13.14; Am 9.2; Jn 2.2; Hc 2.5. 

[5] As 10 passagens em que a palavra “Hades” aparece no Novo Testamento são: Mt 5.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; At 2.27,31; Ap 1.18; 6.8; 20.13,14.

[6] A palavra Geena ocorre 12 vezes no Novo Testamento: Mt 5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15,33; Mc 9.43,45,47; Lc 12.5; Tg 3.6.

[7] Para uma visão bíblica do inferno, veja “O Castigo Eterno – A.W. Pink” (disponível em: http://www.monergismo.net.br/textos/livros/castigo-eterno_awpink.pdf); o sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado – Jonathan Edwards” 

(http://www.monergismo.com/textos/advertencias/pecadores_maos_deus_irado.htm) , o artigo “Inferno Eterno ou Aniquilação” de Felipe Forti 

(http://olharunificado.blogspot.com.br/2016/02/inferno-eterno-ou-aniquilacao.html) e o artigo “Reconsiderando o Aniquilacionismo Evangélico – James Packer” 

(http://www.monergismo.com/textos/inferno/aniquilacionismo_packer.htm). Para uma defesa da doutrina da imortalidade da alma, aconselho o web site do teólogo metodista Paulo Sérgio de Araújo (http://www.imortalidadedaalma.com/).

***

Autor: Bruno dos Santos Queiroz


Divulgação: Bereianos

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