Um dos primeiros ensinamentos dos pais aos filhos é dizer “obrigado”. Uma simples palavra que representa a gratidão a alguém que nos dá alguma coisa. As crianças aprendem, mas crescem…
Logo, a obediência aos pais é substituída pela arrogância. Mal deixam a adolescência, ingressam na universidade. Nos cursos da área de humanas, os jovens são instruídos a enxergar o mundo de forma lúdica, o que impede a compreensão da rede que possibilita que eles tenham uma vida tão confortável ao ponto de poderem se dedicar a filosofar sobre como
deveria ser a vida dos outros.
Participando do mercado apenas como consumidores, ignoram as responsabilidades e os riscos que inúmeras pessoas e empresas assumem diariamente para viabilizar as tecnologias, os produtos e os serviços que chegam até eles.
Entre uma cerveja e outra no buteco da “facu”, concluem que o mercado é a grande desgraça da humanidade, pois faz as pessoas só pensarem no dinheiro, no lucro e em bens materiais. Passam a odiar o “sistema” do qual desfrutam. Como resultado do capitalismo, só enxergam poluição e desigualdade.
Eu sempre levei muito a sério o princípio da gratidão.
Duzentos anos atrás, uma pessoa como eu, na minha idade, ou já teria morrido devido a alguma doença que nem consta mais nas estatísticas, ou estaria lutando diária e bravamente para sobreviver, para conseguir qualquer coisa que o estômago pudesse digerir.
Hoje, minha maior preocupação é se levo ou não minha bicicleta para Paris.
Quem sou eu?
Um artista quase anônimo que vive e trabalha num pequeno apartamento de 45 m2, sem carro, sem qualquer patrimônio, sem qualquer fonte de renda que me garanta mais do que três ou quatro meses de aluguel e plano de saúde.
Eu e bilhões de pessoas no mundo temos acesso a uma imensa variedade de alimentos, remédios, produtos de higiene pessoal e tecnologias inimagináveis para alguém de poucos séculos atrás. Rainhas de outros tempos trocariam potes de ouro por pacotes de absorventes.
Eu vivo de pintar e vender quadros para milionários?
Longe disso. Meus clientes são pessoas comuns, que juntam dinheiro para decorar a casa com objetos e artes que lhes transmitem bons sentimentos.
Provavelmente poucos entenderão o que direi: sou extremamente grato por viver numa época em que a maior parte da indústria e dos serviços existem para suprir as necessidades das pessoas que não são ricas.
O fato é que, se há duzentos anos a miséria era o padrão de vida de 90% da população mundial, hoje ocorre o contrário.
As duas perguntas que as pessoas deveriam se fazer:
A quem devemos isso?
Como poderíamos agradecer?
No Brasil atual, é comum a afirmação de que os pobres têm acesso a coisas que não tinham antes graças a Lula. Uma falácia ridícula.
A redução da pobreza é um fenômeno que ocorre desde a revolução industrial, com o acumulo de capital privado fomentando o desenvolvimento de tecnologias, produtos e serviços a preços cada vez mais baixos.
Outro fato é que o nível de diminuição da pobreza acelerou a partir do final da década de 1980, quando o bloco comunista liderado pela União Soviética desmoronou e a China abriu seu mercado. De uma hora para outra, centenas de milhões de pessoas tiveram liberdade para trabalhar, lucrar e acumular riqueza.
Outro bom exemplo é a África, onde também se registra queda na miséria, mas não graças às ditaduras socialistas do continente. Dezenas de milhões de africanos vem melhorando de vida graças aos “malditos” capitalistas que fazem chegar aos cantos mais esquecidos coisas como motores, geradores de energia, geladeiras, telefones celulares, computadores, internet, motocicletas, carros e barcos; e são essas “coisas” – não os discursos da esquerda − que incrementam diversos empreendimentos de pessoas comuns que, também visando o lucro, tecem a rede da prosperidade.
Até mesmo as dezenas de organizações humanitárias que atuam na África indicam o sucesso do capitalismo, já que elas são sustentadas por doações de pessoas e empresas que desfrutam um nível tão grande de conforto, que se dispõem a financiar projetos em lugares e para o benefício de pessoas com as quais não têm a mínima relação.
Os programas sociais dos países desenvolvidos e os altos salários de certas categorias do funcionalismo público brasileiro – incluindo o do professor comunista − são sustentados pelo capitalismo, pelos impostos cobrados de pessoas e empresas que lucram trabalhando, produzindo.
A pessoa que se dedica a causas sociais só o faz porque ela não está na mesma condição de seus antepassados não muito distantes: lutando diariamente para sobreviver.
Portanto, a erradicação da miséria – que ainda continua – e a consequente qualificação até do que é identificado como pobre, não foi obra de nenhum governo, tampouco fruto de alguma ideologia ou religião. A humanidade vem erradicando a miséria graças ao trabalho de bilhões de pessoas, cada uma a sua maneira e em função de seus interesses particulares que, em conjunto, convergem em benefícios coletivos, como já esclareceu Mandeville, Bastiat, Mises, Hayek, Rand e até Giannetti da Fonseca.
O fato é que vivemos num mundo onde a grande maioria das pessoas tem um nível de conforto que nem os nobres do passado recente desfrutavam. A expectativa de vida foi duplicada. Hoje, o pobre faz churrasco nos finais de semana, acumula dezenas de peças de roupas, faz regime, tem ar-condicionado no quarto e utiliza as mesmas tecnologias utilizadas pelos ricos, como cartões de crédito e smartphones.
Enquanto os “malditos” capitalistas − visando o lucro − se esforçam para tornar seus produtos e serviços acessíveis ao maior número de pessoas, os governos trabalham − sob a justificativa de “promover a justiça social” − para tornar a vida dessas pessoas mais cara e complicada; e ainda não entregam os serviços que obriga a população a pagar, como saneamento, saúde e segurança.
Mas, então, como podemos expressar nossa gratidão ao capitalismo, já que ele não é uma pessoa ou instituição?
Cumprindo com retidão nossos compromissos comerciais e defendendo incansavelmente a liberdade de as pessoas trabalharem para saciar suas necessidades e seus desejos particulares.
Ao pagar por cada produto ou serviço, estamos premiando os esforços de inúmeras pessoas. Premiando, inclusive, a opção delas pelo trabalho.
Apesar de as pessoas, num ambiente de mercado, sempre nos cobrar pelo que nos oferecem, devemos nos lembrar que elas poderiam simplesmente não querer fazer aquilo. Qualquer atividade econômica exige coragem e responsabilidade. Assim como a vida, o mercado não garante nada a ninguém. Não há “direitos adquiridos”. Diante disso, uma pessoa pode simplesmente evitar o trabalho, optando pelo crime, ou pelo ócio, ou pela sombra do estado. Porém, a grande maioria das pessoas assume os riscos do mercado, se esforça para nos oferecer bons produtos e serviços em troca algum pagamento.
Aos que dizem que o mercado é injusto, eu digo que não serão homens nem governos formados por homens que promoverão a justiça. O que a história conta é que, por meio da liberdade, as coisas se ajustam.
A miséria e a liberdade foram nossas condições originais enquanto seres humanos. Porém, foi a liberdade que venceu a miséria, não o contrário.
Qualquer manifestação contra o capitalismo – ou seja, contra a liberdade − é uma grande manifestação de ingratidão às bilhões de pessoas.
O combate ao capitalismo é o combate à própria civilização humana.
A pessoa que cospe no capitalismo está cuspindo no prato onde come, na cama onde dorme e na cara de seus pais que, seja qual tenha sido a atividade deles, só conseguiram criá-lo graças ao capitalismo.
Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
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