Na manhã desta terça-feira, o padre Frederico Lombardi,
porta-voz da Santa Sé, mostrou-se espantado com a quantidade de jornalistas que
acorreram à conferência de imprensa, depois de divulgado o documento de
trabalho do Sínodo dos Bispos sobre a Família. Neste, são referidos temas
considerados polémicos como o divórcio, os casais recasados, os que vivem em
união de facto e os casais homossexuais.
Na segunda-feira, o Sínodo de Bispos, que decorre no
Vaticano, emitiu num comunicado que prevê algum tipo de integração dos
homossexuais na Igreja Católica. Mas também propõe que se façam "escolhas
pastorais corajosas" junto das "famílias feridas" pela separação
ou pelo divórcio.
Na conferência de imprensa desta manhã, onde estiveram
presentes os cardeais Wilfrid Fox Napier (sul-africano) e Fernando Filoni
(italiano), o porta-voz do Vaticano começou por lembrar aos jornalistas que o
documento é de trabalho e não é definitivo. "Repito, o documento é de
trabalho e está a ser discutido em pequenos grupos de trabalho", disse,
lendo um comunicado da secretaria do sínodo. Trata-se de um texto que
"resume as intenções depois da primeira semana de trabalho".
Agora, os participantes estão reunidos em pequenos grupos a
discutir precisamente esse documento de trabalho. "Estamos a trabalhar
para apresentarmos ao Santo Padre o resultado final", explicou Filoni, que
enalteceu a "riqueza do debate" e salvaguardou que o texto "não
é uma ordem, como se tudo já estivesse definido". "Temos em mãos a
riqueza de uma semana de intervenções", disse.
Por seu lado, Napier contou que no seu grupo de trabalho não
se está a falar de contracepção, divórcio ou aborto, mas se está a reflectir
sobre a família e se olha para esta como se olha para o dia: a manhã, onde tudo
é esperança; a tarde, quando surgem as primeiras dificuldades; a noite, quando
é preciso lidar com os problemas; e a manhã da ressurreição, quando se resolvem
os problemas. "É assim que estamos a olhar no nosso grupo."
Polémica: a imprensa teve acesso primeiro ao documento?
Questionado pelos jornalistas, Napier reconheceu que não se
revê em muitos dos pontos do documento e lamentou que aquele tivesse sido
divulgado. "A mensagem que saiu foi: 'Isto é o que o sínodo disse, isto é
o que a Igreja Católica disse' e não é verdade", declarou o sul-africano,
confessando que faz parte de um grupo de participantes no sínodo que se
mostraram insatisfeitos com o texto divulgado, embora o prelado admita que o
documento reflecte o que se disse durante os encontros.
"Vocês tiveram o documento antes de nós", disse,
dirigindo-se aos jornalistas e referindo que agora cabe aos grupos de trabalho
gerir os "danos colaterais" da divulgação do documento. Napier ainda
disse que este é um texto do cardeal Peter Erno, o relator-geral do sínodo.
Contudo, questionado se aquele documento não deveria ser levado em conta, o
cardeal sul-africano respondeu que "seria exagerado" e reconheceu que
muito do que está escrito foi dito durante a semana que passou. "Mas há
coisas que foram ditas por um indíviduo e que estão aqui como se fossem de todo
o sínodo", salvaguardou.
Sem entrarem em diálogo mas respondendo apenas às perguntas
dos jornalistas, Filoni reforçou que o documento é "fruto de uma longa
análise" e uma recolha de todo o trabalho que foi feito.
Lombardi explicou aos jornalistas que a decisão de divulgar
o documento foi da organização do sínodo e que, por exemplo, as conferências de
imprensa com os diferentes relatores dos grupos de trabalho – a primeira
decorreu esta terça-feira e na quarta haverá outra – é também uma novidade, de
maneira a que se saiba como estão a decorrer os trabalhos. O porta-voz do
Vaticano lembrou ainda que a organização informou todos os participantes que
poderiam falar com a comunicação social e dar entrevistas ao longo dos
trabalhos. No entanto, Frederico Lombardi sublinhou que nenhuma das declarações
é reflexo do documento final, mas dos trabalhos em curso.
O relatório vai agora ser discutido, e só depois do fim do
sínodo será divulgada uma versão definitva, que será discutida em todo o mundo,
durante o ano que vem. Em Outubro de 2015 haverá um novo sínodo em Roma, onde
haverá uma nova discussão, e no final de todo este processo será a vez de o
Papa Francisco indicar o caminho a seguir, em termos de doutrina.
Fonte: Publico Portugal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça um blogueiro feliz, comente!!
Porém...
Todo comentário que possuir qualquer tipo de ofensa, ataque pessoal e palavrão, será excluído sem aviso prévio!