Por Tim Challies
Eu acho o vício, e a escravidão ao vício, algo
muito difícil de entender. Superar uma dependência me parece que deveria ser
algo simples, especialmente para o cristão: em vez de fazer determinada coisa,
que tal, da próxima vez, não fazê-la? Em vez de abrir aquela garrafa, deixe-a
fechada. Em vez de comprar aquelas pílulas, compre alguns doces. Em vez de
digitar aquele site, digite outro site. Em vez de entrar pelas portas do
cassino, escolha sequer chegar perto do cassino. Se apenas fosse tão simples
assim.
Tratar o vício como algo tão simples é não
entender sua natureza. Eu disse recentemente que “Addiction and Virtue” [Vício e
virtude], de Kent Dunnington, é, facilmente, um dos livros mais fascinantes que
li ultimamente. Nele, o autor nos diz o porquê do vício ser muito mais do que
simplesmente fazer uma má escolha em detrimento de uma boa escolha. O vício não
é só satisfazer uma necessidade ou seguir um hábito, embora também isso seja
verdade. Viciados, na verdade, estão buscando a boa vida e estão convencidos de
que podem alcançá-la por meio do vício. Dunnington fala assim:
Nós não somos ensinados nem inclinados a pensar
que pessoas viciadas são ativa e apaixonadamente engajadas em conseguir uma boa
vida. Nós tendemos a pensar nelas como pessoas que desistiram da brincadeira ou
que estão empenhadas positivamente em se destruir. Mas não é assim. Para mim, o
comportamento do viciado pode nos dizer mais sobre os mais profundos desejos do
ser humano do que a maior parte dos outros comportamentos do homem.
Viciados estão expressando um desejo universal,
porém eles o fazem de uma maneira mais “vendida” do que as outras pessoas. Se a
maioria das pessoas busca a boa vida de forma comedida, os viciados a buscam com
todas as forças.
Vício, então, deve ser entendido como uma
questão de… extática intoxicação. A pessoa dependente, reconhecendo a própria
insignificância e insuficiência, deseja ser levada a uma experiência que a
consuma, espera ser o objeto, ao invés do sujeito e anseia mais por sofrer a
felicidade do que produzi-la.
“Intoxicação extática”. É isso o que o viciado
deseja, venha a intoxicação por substância ou por experiência, pelo agito da
droga ou pela experiência sexual. Em ambos os casos, o viciado deseja por essa
experiência consumidora e se convence de que ela pode ser encontrada nas drogas,
no jogo, na pornografia ou no que for. Dessa forma, podemos ver que o vício é,
na verdade, uma falha de adoração.
Vícios são viciantes apenas na medida em que
eles nos tentam com a promessa de uma felicidade perfeita, e escravizam na
medida em que imitam e sugerem essa perfeição. A profundidade e o poder do vício
se tornam inteligíveis quando começamos a ver o vício como uma falsificação da
virtude da piedade. Dessa forma, o vício é apropriadamente descrito como uma
falha de adoração, uma potente expressão da idolatria que temos com as coisas
que queremos alcançar no plano imanente, mas que só podem ser adquiridas em um
relacionamento com o Deus transcendente.
A sedução e a astúcia do vício são
trazidas para fora na medida em que vemos como, incrivelmente, o vício permite
as pessoas alcançarem (imitações de) bens que somente a verdadeira adoração
torna possível. Isso demonstra que o vício pode ser adequadamente caracterizado
como uma encenação da luta que os seres humanos travam para obter para si
florescimento, integridade do ego e prazer extasiante, que só podem ser
recebidos por meio do correto relacionamento com Deus.
O vício é adoração, uma falha tentativa de
encontrar em substâncias ou experiências aquilo que só pode ser encontrado em
Deus. Como podemos ter evidências dessa adoração? Pelo fato de que o vício se
torna o meio de se elevar e interpretar qualquer experiência.
O fato de que qualquer coisa poder se tornar
uma desculpa para se usar é um poder que o vício tem para incorporar todos os
aspectos da vida do viciado dentro do ritmo e razão dessa dependência. É
exatamente esse o caso do alcoólatra, para quem os bons momentos são um vácuo
sem o álcool. Os momentos difíceis são insuportáveis sem o álcool. A solidão não
é tão solitária com o álcool. Os relacionamentos amorosos são mediados pelo
álcool. O sucesso só pode ser celebrado com o álcool. Somente o álcool pode
isolar a rejeição, e por aí vai. Ser alcoólatra é entrar nesse tipo de
relacionamento com o álcool, no qual todo o resto da vida só faz sentido se
acompanhado do álcool. O vício transfigura as mais ordinárias atividades em
transações maldosas.
Você percebe? A Bíblia nos chama para
incorporarmos a adoração a Deus em todos os ritmos e racionalidades da vida. Os
momentos difíceis são insuportáveis sem Deus. A solidão não é (tão) só quando
andamos perto de Deus. Relacionamentos amorosos são mediados e aprimorados pelo
compartilhamento do amor de Deus. A celebração do sucesso é melhor com gratidão
a Deus. O relacionamento com Deus nos isola da rejeição, e por aí vai. Ser um
adorador de Deus é entrar um relacionamento com Deus em que todo o resto da vida
apenas faz sentido se acompanhado por ele.
O viciado não está apenas seguindo hábitos
profundamente arraigados e desejos, mas procurando o êxtase da adoração. O
problema não é o desejo de adorar – nós somos criados para sermos adoradores -,
mas o objeto idolatrado. O viciado olha em outros lugares – em qualquer lugar –
por aquilo que só pode ser achado em Deus. A maior falha do viciado é uma falha
de adoração.
***
Fonte: Reforma 21
via Ministério Beréia.
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