Eu gostava que estivéssemos todos enganados em Israel — políticos, analistas, estrategas, o público — todos enganados. Gostava que pudéssemos juntar-nos a outros, compartilhando o entusiasmo de ter alcançado pacificamente o acordo nuclear com o Irão.
Gostava que o Irão realmente quisesse paz e que, não apenas implementasse na perfeição as 100 páginas do acordo, incluindo anexos, mas que usasse todos os fundos congelados (que podem ascender a 150 mil milhões de dólares) para ajudar milhões de refugiados sírios ao invés de alimentar com armas o terrorismo internacional e organizações terroristas como o Hezbollah, o Hamas e o Houtis no Iémen, reforçando ainda o poder dos Ayatollahs ou que, em vez de investigar para desenvolver centrifugadoras nucleares avançadas, se dedicasse a encontrar soluções para a fome no mundo e para a escassez de água.
Gostava que estivéssemos todos errados em Israel e que depois de 10-15 anos o Irão se esquecesse do armamento nuclear.
Infelizmente, as intenções do Irão são outras e o acordo permite-lhe ir avante com o seu programa.
O acordo deixa ao Irão uma vasta infraestrutura nuclear e permite que continue a fazer um enriquecimento significativo de urânio, que não reflecte quaisquer "necessidades práticas" para uso civil. Simultaneamente, o acordo não limita adequadamente a capacidade de investigação e de desenvolvimento do Irão, particularmente no que respeita às centrifugadoras avançadas.
Sob os termos menos restritivos do acordo, o Irão pode — no caso de descoberta de um dispositivo nuclear — confiar na sua capacidade de enriquecer urânio rapidamente e de forma encoberta. Tal vai encurtar o tempo de pesquisa necessário para produzir uma bomba.
O Irão já detém a capacidade de enriquecimento para produzir uma bomba. Tem também os meios adequados de lançamento (mísseis balísticos e mísseis guiados avançados). Sem limitações no armamento, o caminho está aberto para o Irão construir uma bomba.
O acordo acaba moderadamente com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que impuseram um embargo de armas ao Irão e restrições às suas capacidades em mísseis balísticos. A retirada iminente de sanções impostas ao Irão elimina o factor mais eficiente na restrição das acções do Irão e o que conseguiu trazer o país à mesa de negociações. Manter a pressão é o único meio de garantir que o Irão vai manter os seus compromissos.
O acordo não assegura mecanismos de acompanhamento e inspecção “a qualquer hora e em qualquer lugar” suficientemente rigorosos. Mesmo sob a salvaguarda da Agência Internacional de Energia Atómica, o Irão será capaz de continuar a enganar, fugir e esconder.
Importa ressaltar que o Irão atingiu uma capacidade nuclear avançada de forma encoberta apesar do mecanismo de salvaguardas da AIEA. As actividades subversivas do Irão no Iraque, Síria, Líbano e Iémen irão aumentar, desfrutando de legitimidade internacional decorrente deste acordo e de um status com mais poder como Estado no limite do nuclear.
Capacidades nucleares nas mãos do Irão alteram as regras do jogo e quase certamente irão desencadear uma corrida ao armamento nuclear que irá minar a segurança regional no Médio Oriente. Um Irão nuclear é uma ameaça não só para Israel, mas também para os países moderados do Médio Oriente e muito mais além.
Enfim, eu gostaria que todos estivéssemos errados em Israel mas não nos podemos permitir ser enganados com um acordo alcançado entre o Grupo 5 + 1 e o Irão que prejudica a segurança nacional de Israel e a de outros países na região.
Tzipora Rimon- Embaixadora de Israel
Via: Público Portugal
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