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domingo, 31 de março de 2019

Árabes e evangélicos bastante de olho na visita de Bolsonaro a Israel

Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu

David Biller e Samy Adghirni

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, chega a Israel no domingo para uma visita de quatro dias que tem tanto a ver com o realinhamento da política externa quanto com os problemas de pacificação no front doméstico.

Fortalecer os laços com Israel é uma prioridade para os milhões de evangélicos no Brasil, os quais ajudaram a levar Bolsonaro ao poder e agora eles querem uma recompensa — que ele mude a embaixada do Brasil para Jerusalém, onde acreditam que a segunda vinda de Jesus ocorrerá. 

O presidente depende dos evangélicos e de sua grande bancada no Congresso para impulsionar sua agenda legislativa, começando com uma reforma impopular do sistema de aposentadorias necessária para consertar as finanças públicas.

“Espero de todo o coração que Bolsonaro anuncie a mudança da embaixada,” disse Sostenes Cavalcante, um dos legisladores evangélicos da Câmara dos Deputados, em uma entrevista. “Se ele não anunciar a mudança, muitos legisladores o farão recordar disso todos os dias no Congresso.”

Alianças mais próximas com Israel e os EUA sob Bolsonaro marcam uma mudança da política externa tradicionalmente mais neutra do Brasil. O ex-capitão do Exército, que alguns chamam de Trump latino-americano, também foi rápido em apoiar uma mudança de regime na Venezuela, ferindo o princípio da não-intervenção há muito defendida no país.

Poder Evangélico

Os mais de 40 milhões de evangélicos do Brasil foram fundamentais para a vitória de Bolsonaro, com quase 70% mostrando apoio para ele na véspera das eleições. Mas já como presidente o ex-capitão do Exército concentrou-se em uma agenda econômica e de segurança, e não nas preocupações culturais e sociais dos evangélicos, para grande desgosto de sua bancada de aproximadamente cem senadores e deputados da Câmara.

Bolsonaro, que foi batizado no rio Jordão em 2016, visitará locais sagrados durante sua visita, de acordo com um funcionário com conhecimento dos planos para a viagem. Ele e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu também participarão de um evento que mostrará as empresas de tecnologia israelenses e celebrarão acordos sobre defesa, segurança cibernética, água e agricultura, segurança pública e energia, entre outros.

Transferir a embaixada vem com riscos, especificamente o azedamento das relações com os países árabes. Tal medida “mudaria tudo,” disse o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, em uma entrevista. “Nós e nenhum país árabe vamos aceitar isso. As relações mudarão em todos os níveis, até mesmo no comércio. Apelamos ao bom senso do presidente de não fazer isso.”

A possibilidade de que as exportações sofram ou os brasileiros se tornem alvos deixaram membros da equipe econômica de Bolsonaro e seu alto escalão militar com os nervos à flor da pele, de acordo com Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, um instituto de estudos e uma faculdade de negócios.

Em uma aparente tentativa de fazer uma concessão para ambos os lados, Bolsonaro disse no início da semana que o Brasil poderia abrir um tipo de escritório comercial em Jerusalém.

Isso poderá representar decepção para todos os lados, inclusive Netanyahu, que enfrenta um duro desafio eleitoral e já havia celebrado a mudança da embaixada durante sua visita ao Brasil em dezembro.

Traduzido por Julio Severo do original em inglês do site americano Bloomberg: Arabs and Evangelicals Closely Eye Bolsonaro Visit to Israel

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