Disseram-me: o mais importante é o amor. E eu, alma que não quer ser insensível, aceitei a proposição. Até porque ela veio estampada nas capas dos Novos Testamentos distribuídos nas igrejas – o que lhe dava autoridade indiscutível.
O consenso é que o amor é bom em si mesmo. Por isso, suplanta tudo. O que importa, por conseguinte, é amar.
Se é assim, por que, então, ainda me incomodava a idéia que toda manifestação de amor é válida? Por que não me sentia à vontade com alguns amores excêntricos que se exibem por aí? Por que me parecia insuficiente pensar que só o que importa é amar?
Busquei um resposta e encontrei-a em Dante Alighieri que, setecentos anos atrás, já havia resolvido esse dilema:
“Podes considerar pelo que eu digo
O amor semente de toda a virtude
e de todo o ato que clame castigo”
O poeta nos mostra que o amor não é virtuoso em si mesmo. Ele é a semente, ou melhor, a força vital que impulsiona em direção ao que é amado.
Há, contudo, os bons amores, mas também os maus. Se amar a Deus eleva o homem, seu amor ao dinheiro rebaixa-o.
O valor do amor reside naquilo que se ama. Pois amar não é verbo intransitivo, nem pode ser considerada justa toda forma de amor.
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