Como tentativa de contestar o televangelista Silas Malafaia, que o chamou de astrólogo, Olavo de Carvalho apelou para Philip Melanchthon, que ele diz que foi o “verdadeiro líder intelectual da Reforma.” Carvalho decidiu enfrentar Malafaia, mesmo sabendo que hoje ele é o maior líder evangélico do Brasil.
De acordo com Carvalho, Melanchthon “era astrólogo de profissão e coração.” Aliás, Carvalho acusa Melanchthon, Lutero e Calvino de terem crido muito mais em astrologia do que ele.
Carvalho disse (os erros de português são todos dele):
“Dos três pais fundadores da religião do Malafaia, PHILIP MELANCHTON era astrólogo de profgissão e de coração; MARTINHO LUTERO dizia que os princíos teóricos da astrologia eram certos, mas que os astrólogos erravam na prática por vaidade e presunção. JOÃO CALVINO condenava a astrologia preditiva mas acreditava na astrologia médica. Eu, com certeza, acredito menos em astrologia do que qualquer desses três, já que nada vejo nela além de um problema intertessante.”
Isso significa que Melanchthon, Lutero e Calvino fundaram escolas de astrologia? Não existe nenhum registro histórico disso. Mas os registros históricos apontam que Carvalho fundou a Escola Júpiter no final da década de 1970 em São Paulo. Ele fundou também a Sociedade Brasileira de Astrocaracterologia em 1989.
Geralmente, quem se envolve em astrologia e outros tipos de ocultismo acaba mergulhando em muito mais ocultismo. Foi o que aconteceu com Carvalho: seus livros publicados e escolas fundadas nas décadas de 1970 e 1980 são marcas inconfundíveis, inegáveis e inapagáveis de seu óbvio ocultismo. Levaram-no também às tariqas ocultistas islâmicas e suas orgias sexuais.
Olavo de Carvalho como astrólogo na revista Veja em 1980
Em 1980 ele foi entrevistado pela revista Veja como um dos maiores astrólogos do Brasil. Durante a década de 1980, a extinta TV Manchete o consultava na condição de astrólogo (confira este vídeo: https://youtu.be/-XDFh_eLgPI). Mas o verdadeiro astrólogo era Melanchthon? Melanchthon está se revirando no túmulo de tanto rir.
Philip Melanchthon (1497 – 1560), cujo nome em português é Filipe Melâncton, foi vítima das tendências de sua época. Ele estudou em universidades católicas. E que outra opção havia? Nenhuma, pois todas as universidades na Europa estavam sob o controle da Igreja Católica.
Na Universidade de Tübingen, os professores ensinaram jurisprudência, matemática, medicina e astrologia para Melanchthon. Por que as universidades católicas misturavam astrologia em suas aulas? Fraqueza doutrinária. Hoje a Igreja Católica em suas instituições parece não fazer tal mistura.
Quem ensinou astrologia para Melanchthon na universidade católica? O Padre Johannes Stöffler. A doutrinação astrológica na Europa da Idade Média era 100 por cento católica.
O que me admira é que a Igreja Católica era tão “cuidadosa” com sua doutrina usando a Inquisição para torturar e matar judeus e evangélicos que tinham opiniões religiosas diferentes da doutrina católica, não os poupando, mas isentava generosamente a astrologia.
Naquele tempo, a Igreja Católica ensinava a astrologia como uma espécie de ciência. Dá para desconfiar então por que Carvalho adora tanto o catolicismo medieval amante de astrologia e Inquisição?
A Igreja Católica cometeu o erro gravíssimo de ensinar astrologia como se fosse tão científica quanto a matemática e a medicina. Aliás, a Igreja Católica enfiava a doutrinação astrológica no meio da matemática e da medicina em seus cursos universitários.
Contudo, a Reforma fez diferença. A Reforma estancou a contaminação astrológica católica que afetou Melanchthon e outros reformadores que receberam educação católica, do mesmo jeito que os evangélicos hoje estão estancando a contaminação do olavismo com sua carga de astrologia e outros ocultismos.
Martinho Lutero (1483 – 1546), que fundou e comandou a Reforma protestante, disse: “A astrologia é trapaça” (Schaff’s History of the Church).
Lutero também disse:
“A astrologia foi projetada pelo diabo com a finalidade de que as pessoas tenham medo de entrar no estado de matrimônio, e de entrar em todo ofício e chamado divino e humano; pois os olhadores de estrelas não pressentem nada que seja bom dos planetas; eles afligem as consciências das pessoas, em relação a infortúnios que estão por vir, quando tudo isso está nas mãos de Deus, e através de tais cogitações maldosas e inúteis afligem e atormentam a vida inteira das pessoas”
(Luther’s Table-Talk).
Tal postura explica como a astrologia, que tinha espaço em instituições educacionais católicas, não teve espaço nas instituições protestantes.
Tal postura também explica a raiva de Carvalho, que não poupa xingamentos a Lutero.
O protestantismo veio para fazer uma limpeza, removendo todo entulho que a Igreja Católica foi acumulando para impedir o conhecimento do Evangelho. Um desses entulhos foi a astrologia nas universidades católicas.
Entretanto, por que o astrólogo Olavo de Carvalho precisa apelar para a desonestidade histórica para se defender?
Por que insinuar que a astrologia fez parte da Reforma quando foi explicitamente condenada por Lutero, o fundador da Reforma?
Por que esconder o fato de que o conhecimento de astrologia de Melanchthon foi 100 por cento fruto de universidades católicas?
Por que esconder o fato de que o conhecimento de astrologia de Melanchthon foi 100 por cento fruto dos ensinos de um padre católico?
Por que dizer que a astrologia de Melanchthon era maior do que a dele se o contrário é a verdade? Se Melanchthon e outros jovens de sua geração que foram doutrinados em astrologia por padres em instituições católicas podem ser chamados de astrólogos, só dá para concluir então que Olavo de Carvalho, nessa medida, é um hiper-astrólogo.
Então, em vez de chamar Silas Malafaia de “tagarela,” ele deveria olhar no espelho para sua própria língua comprida suja. Se ele não consegue nem avaliar o passado com honestidade, como pode então se gabar de ser excelente palpiteiro do futuro do Brasil? Só um astrólogo trapaceiro, usando aqui o termo de Lutero, teria o descaramento de fazer isso.
Só não vou dizer que ele está passando vexame por ser facilmente desmascarado neste artigo porque pelo visto faz décadas que ele não sabe o que é ter vergonha na cara.
Se o astrólogo Olavo usou o mau exemplo de Melanchthon para insinuar que os evangélicos não têm moral para criticar a astrologia, o tiro saiu pela culatra. Não somos os primeiros a condenar a astrologia. Lutero já fez isso 500 anos atrás. E mesmo que Lutero não tivesse existido, a Bíblia seria insuficiente para condenar a astrologia?
Se com muito menos experiência astrológica Melanchthon é acusado por Carvalho de ser “astrólogo de profissão e coração,” por que é que Olavo de Carvalho fica tão ofendido quando o chamam de astrólogo?
Depois dessa mancada cósmica, ele nunca mais vai ter desculpa para reclamar quando o chamarem de astrólogo. Se Melanchthon, que nunca fundou escolas de astrologia nem deu entrevista para a revista Veja e para a TV Manchete sobre astrologia, pode ser chamado de “astrólogo,” Olavo de Carvalho deve ser chamado do quê? Cinderela?
A Igreja Católica é muito descuidada com temas espirituais. Foi extremamente descuidada com a astrologia, ensinando-a como ciência para milhares de seus alunos, inclusive Melanchthon. Por isso, o astrólogo Olavo se sente tão à vontade na Igreja Católica, do mesmo jeito que 500 anos atrás, na época do nascimento da Reforma, a astrologia se sentia muito à vontade nas universidades católicas.
É de estranhar que a vasta maioria dos adeptos de Carvalho seja católica? Os poucos evangélicos que o seguem viram tanto a cabeça que passam a defender o impossível, inclusive a Inquisição e a astrologia. Ficou conhecido o caso da professora Ana Caroline Campagnolo que luta contra a doutrinação marxista nas escolas, mas confessou publicamente que fez doutrinação de astrologia nos alunos. Ela é evangélica, mas não foi na igreja evangélica que ela aprendeu a valorizar a astrologia.
Ela é olavete, que como todo olavete coloca os ensinos do astrólogo Olavo acima da fé evangélica.
A astrologia nunca teve espaço no protestantismo. Lutero condenou a astrologia. Se Carvalho tivesse lido Lutero, ele saberia, mas ele não aplica a si mesmo o que ele ensina a seus “alunos.” Carvalho doutrina seus adeptos a cobrar dos críticos: “Você já leu todos os livros dele antes de criticá-lo?”
A astrologia nunca teve espaço no protestantismo. Lutero condenou a astrologia. Se Carvalho tivesse lido Lutero, ele saberia, mas ele não aplica a si mesmo o que ele ensina a seus “alunos.” Carvalho doutrina seus adeptos a cobrar dos críticos: “Você já leu todos os livros dele antes de criticá-lo?”
As obras de Lutero abrangem vários volumes grossos. É óbvio que Carvalho nunca leu uma página desses volumes. Foi exatamente por falta de leitura que ele cometeu o equívoco de conjecturar que Melanchthon foi o “verdadeiro líder intelectual da Reforma,” quando Melanchthon deixou poucas obras escritas, mas Lutero, numa época que não havia computador nem máquina de escrever, deixou obras muito mais volumosas do que Carvalho.
Em 2015, Carvalho xingou Lutero de filho da p**a. Quem xinga é porque não tem argumentos. Mesmo que Carvalho não tivesse xingado, mas apenas criticado Lutero, caberia a pergunta: “Ele leu todas as obras dele antes de criticá-lo?”
Carvalho não só xingou Lutero pela total falta de argumentos, mas também porque não leu as obras de Lutero.
Se tivesse lido, ele fatalmente veria Lutero dizendo que a astrologia não passa de trapaça e coisa do diabo.
O que chamar então um homem que na sua Escola Júpiter em São Paulo passou anos ensinando trapaça e coisas do diabo para alunos, mas hoje disfarça e desconversa “filosoficamente”? Honesto ou trapaceiro?
O que chamar um homem que faz tudo o que pode para esconder seu sólido passado como professor de astrologia? Honesto ou trapaceiro?
O que chamar um homem que em vez de assumir que era professor de astrologia, vive dando a desculpa de que só estudou um pouco de astrologia? Honesto ou trapaceiro?
O que chamar um homem que em vez de assumir que era astrólogo de profissão e coração, prefere agora apontar o dedo para Melanchthon, que aprendeu tudo de astrologia dentro da Igreja Católica diretamente das mãos de um padre? Honesto ou trapaceiro?
Doravante, vou chamá-lo de “astrólogo de profissão e coração.” Se pela régua trapaceira do astrólogo, Melanchthon é, ele é, pela régua da honestidade, muito mais.
Veja abaixo o comentário original do astrólogo Olavo:
“No Brasil, como já venho dizendo, as certezas são inversamente proporcionais ao conhecimento. Um bispo protestante como o sr. Silas Malafaia não percebe o vexame em que incorre ao usar a palavra "astrólogo" como insulto, pois Philip Melanchton, que foi o verdadeiro líder intelectual da Reforma (enquanto Lutero era mais o agitador popular) era astrólogo de profissão e coração, e Calvino, que condenava a astrologia preditiva, aceitava a realidade da astrologia médica, portanto da influência dos astros sobre o corpo humano.
Eu, pessoalmente, acredito em astrologia bem menos do que esses dois, pois jamais a considerei uma ciência, apenas um problema científico jamais esclarecido e aliás nem claramente formulado (leiam meu breve ensaio ‘O debate que entrou em órbita’). Malafaia, como tantos tagarelas brasileiros, confunde a palavra com a coisa.”
Enquanto Lutero e Calvino falavam contra a astrologia, é claro que um dos maiores astrólogos do Brasil iria falar contra os dois.
Carvalho dissesobre Lutero e Calvino:
“Lutero e Calvino eram almas cheias de ódio. O primeiro foi um genocida, o segundo o inventor do governo totalitário. Seus seguidores estão no caminho do inferno, e se for preciso xingá-los de tudo quanto é nome para tirá-los dessa enrascada, farei isso sem dó nem piedade.”
De novo, Carvalho disse sobre Lutero e Calvino:
“A Igreja Católica superlotou-se de filhos da puta ao longo dos séculos, mas a protestante já nasceu fundada por dois.”
Sobre o protestantismo em geral Carvalho disse:
“O Protestantismo nasceu do ódio e da sêde de sangue. Sua inspiração cristã é ZERO.”
Versão em inglês deste artigo: Olavo de Carvalho accuses Philip Melanchthon of being a greater astrologer than he is
Phonte: www.juliosevero.com
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