Eguinaldo Hélio de Souza
Alguns marxistas declarados ou simpatizantes se ofendem
quando as atrocidades históricas cometidas em nome dessa ideologia lhe são
apresentadas. A violência gratuita, o imenso rio de sangue, a perseguição
religiosa, principalmente contra o Cristianismo, o ataque à família tradicional
são apenas alguns dos frutos podres do marxismo. Quando falamos na perversidade
inerente às teorias de Marx, seus defensores alegam que essas ações nada
tiveram a ver com o ideólogo alemão, que foram meros desvios. Usa-se
frequentemente o clichê “Marx não era marxista”.
Nada mais enganoso. O fato dele pessoalmente não estar
envolvido com essas ações perversas não significa que não as tenha inspirado.
Se a pena é mais poderosa do que a espada, então quem inspira as ações é mais
culpado do que quem as executa. E não há dúvida de que foi Karl Marx.
Basta lermos o Manifesto do Partido Comunista, celebrado
panfleto de todo marxista convicto. Não é preciso nem ler as demais obras de
Marx, Engels, Lenin e toda uma miríade de teóricos, crias do Manifesto, que
contribuíram com a construção desse nebuloso edifício.
O livreto já contém em
germe as características da planta carnívora. Nele está a essência do
pensamento que estimulou e justificou o assassinato, a tiranização e o
sofrimento de milhares de seres humanos. Negar que as ações perversas desses
estados totalitários surgidos sob a bandeira do comunismo sejam fruto direto
das ideias Marx é querer jogar os escombros das torres gêmeas WTC para baixo do
tapete.
Vejamos alguns trechos do Manifesto, publicado pela primeira
vez em 21 de fevereiro de 1848, com grifos meus:
Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento
proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que
lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução
aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da
burguesia. [1]
Abolição da família! Mesmo os mais radicais se enchem de
indignação ao ouvirem proposta tão infame dos comunistas. [2]
Mas o comunismo quer abolir [as chamadas] verdades eternas,
quer abolir a religião e a, moral, em lugar de lhes dar uma nova forma... (Não
resisti. Tive de grifar tudo). [3]
O proletariado utilizará sua supremacia política para
arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os
instrumentos de produção nas mãos do Estado... [4]
Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas
poderão geralmente ser postas: Expropriação da propriedade latifundiária e
emprego da renda da terra em proveito do Estado; Imposto fortemente
progressivo; Abolição do direito de herança; Confiscação da propriedade de
todos os emigrados e dos contrarrevolucionários. (Isto é, quem não concordasse
com as ideias de Marx); Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de
um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo; Centralizarão, nas mãos do Estado, de todos
os meios de comunicação e transporte. Adequação do sistema educativo ao
processo de produção material (isto é, doutrinação comunista e anti-tudo o que
não for marxista), etc. [5]
Resumindo, Marx e Engels idealizaram uma tomada violenta do
poder, com a implantação de um governo onde o Estado se apoderaria à força da
economia, dos meios de comunicação, da educação, destruindo “as verdades
eternas, a religião e a moral”. E ai dos contrarrevolucionários (chamados de
rebeldes em algumas traduções)! Esse foi o plano exposto no Manifesto.
Como pode alguém alegar a inocência de Marx diante das
atrocidades comunistas? Já não estava tudo descrito no seu texto? Não foi
exatamente assim que aconteceu, acontece ainda e vai acontecendo gradativamente
no socialismo moderno? Se a pena de Karl Marx foi manchada de sangue, foi
manchada pelas espadas que ele mesmo incitou.
Querem mais do Manifesto? Nele já estava expressa a
inflexibilidade de Karl Marx, que expôs seu pensamento não como quem expõe
meras reflexões, mas como alguém que proclama um evangelho infalível. Nada e
nem ninguém era digno de criticar seu comunismo.
As acusações feitas ao comunismo, a partir de pontos de
vista religiosos, filosóficos ou ideológicos não merecem exame aprofundado. [6]
Não! O mundo inteiro é tolo diante do monstro de Trevéris!
Suas afirmações não são teorias, são uma religião em nome da qual todo opositor
deve ser calado! E de fato foram. Dezenas de milhões calados para sempre!
Ele disse que o comunismo iria abolir a religião e concebeu
o Estado como o mais poderoso Leviatã, mas ainda assim alguns nos querem fazer
crer que tudo o que foi feito pelo comunismo na história não foi
responsabilidade de Marx. Ou isso é ingenuidade ou é pura falsificação.
Pelos seus frutos os conhecereis! Longe de ser um desvio, o
marxismo histórico é o fruto simples, puro e direto do marxismo teórico. A
semente produziu o seu devido fruto, o monstro gerou o monstro, o que foi
produzido foi justamente o que foi concebido.
Não se pode negar o óbvio. Karl Marx era sim um marxista.
1. MARX, K. e ENGELS,
F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global Editora, 1986, p. 28.
2. IDEM p. 32
3. IDEM p. 35
4. IDEM p. 35
5. MARX, K. e ENGELS,
F. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 45
6. MARX, K. e ENGELS,
F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global Editora, 1986, p. 34.
Fonte: www.juliosevero.com
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