Unico SENHOR E SALVADOR

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sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Obrigação Moral de Ser Inteligente


A função primária da arte e do pensamento consiste em libertar o indivíduo da tirania da sua cultura e permitir-lhe erguer-se diante dela com autonomia de percepção e de julgamento.

Lionel Trilling – The Moral Obligation to be Inteligent

E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
Eclesiastes 1,13


Logo que aprendemos a formar as primeiras frases de nossa língua, estamos fazendo perguntas. Desde a infância, a curiosidade e o impulso humano em interagir com os pais, os animais da casa e os objetos que nos cercam levam-nos a buscar o mínimo de entendimento acerca dos corpos externos que se nos apresentam diariamente.

A busca pelo conhecimento e pela sabedoria é um dos anseios mais antigos do homem, surgindo quase simultâneo a satisfação das necessidades alimentícias. Essa busca levou o homem primitivo a encontrar as ferramentas pelas quais viria a sobreviver ante as drásticas mudanças climáticas, bem como as investidas de predadores.

A busca pela sabedoria está em nosso DNA, mas o nosso tempo, sobretudo nossa sociedade brasileira tem negado essa necessidade.

Alguns homens e mulheres foram dotados de certa inquietação no tocante à vida que os cerca, não bastando a aceitação das autoridades acadêmicas, mas buscando, por eles mesmos, o conhecimento de que se sentem necessitados.

É assim que, entre troncos e barrancos, você vai somando ao longo do tempo um corpo de conhecimento que lhe erguerá acima dos meros fenômenos sociais manifestados em forma bruta, sendo capaz de detectar a raiz de pensamento que o originou, bem como o processo de mutação e “encarnação” da idéia em forma de manifestação individual. É nessa fase que começamos a defender certas posturas, tomar partido de causas e lutar por um ideal.


Mas no Brasil o espírito de anti-intelectualidade reina. Parece que o simples fato de sair da livraria com um 50 Tons de Cinza no sovaco já lhe impregna com ares de superioridade intelectual, só para termos uma idéia do que o brasileiro médio considera superioridade intelectual.

“Na tipologia de Lukács, que distingue entre os personagens que sofrem porque sua consciência é a mais ampla que a do meio em que vivem e os que não conseguem abarcar a complexidade do meio, a literatura brasileira criou um terceiro tipo: aquele cuja consciência não está nem acima nem abaixo da realidade, mas ao lado dela, num mundo à parte todo feito de ficções retóricas e afetação histriônica.

Em qualquer outra sociedade conhecida, um tipo assim estaria condenado ao isolamento. seria um excêntrico. 

No Brasil, ao contrário é o tipo dominante: o fingimento é geral, a fuga no caso, não significa eficiência, e sim acomodação e cumplicidade com o engano geral, produtor da geral ineficiência e do fracasso crônico, do qual em seguida se busca alívio em novas encenações, seja de revolta, seja de otimismo.(…)

O homem realista, sincero consigo próprio, direto e eficaz nas palavras e ações, é que se torna um tipo isolado, esquisito, alguém que se deve evitar a todo preço a propósito do qual circulam cochichos à distância”.1


Daí que quando começamos a ter uma noção maior do estado letárgico em que a população brasileira atualmente se encontra, fruto da progressiva mudança cultural imposta de maneira sorrateira e, muita das vezes, imperceptível aos olhos daqueles que não dispõem das armas basilares de defesa intelectual, duas conseqüências arrasadoras estão diante de nós: 

-a primeira, de que o nosso problema é muito maior e mais sério do que imaginávamos; 
-a segunda, de que ou você começará rapidamente a inventar objeções ao processo que o levou a constatar o inferno em que estamos, numa tentativa de anestesiar a própria consciência e ficar “de bem com a vida” e tudo o mais ou vai começar imediatamente uma campanha de resistência e combate contra a cultura dominante e contra você mesmo que provavelmente durará uma vida.

Infelizmente até os cristãos, que deveriam estar em posse das melhores armas necessárias à resistência cultural, muita das vezes têm sucumbido e tornaram-se aliados ao espírito da época.

C.S Lewis escreveu: O Cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem.2

Cristo nos chamou para resistirmos ao mundo inteiro, e nada menos do que isso. É um grande incentivo saber que o Rei tenha sido o primeiro a entrar sozinho no campo de batalha, e não as tropas.

por Felipe Lomboni

1. OLAVO, Carvalho de – “Cavalos Mortos”, O Globo, 17 de fevereiro de 2001.

2. LEWIS, Clive Stapes – “Cristianismo Puro e Simples”, Livro II

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