Um religioso é um apaixonado, é alguém que não apenas acredita em algo, mas o vive em toda sua dimensão, inclusive a eterna. Como querer que ele não fale e não lute por isso?
Vivemos em uma sociedade laica, que se pretende à parte de qualquer tipo de manifestação religiosa, lançando esta para o âmbito da privacidade, onde não incomode quem dela não faz parte, nem com ela comunga.
Daí, quando algum religioso tem a pretensão de alçar sua voz para além dos currais eclesiásticos, trazendo para o debate público questões que são caras à fé, logo os amantes do laicismo esperneiam, reclamando que isso é um abuso.
E veja que tal atitude de histeria não é exclusividade de esquerdistas ideológicos. Há liberais aos borbotões que só de ouvirem falar que algum pastor, padre ou religioso disse alguma coisa em discussão pública, logo se lançam à frente, tentando desmoralizar o indivíduo.
A religião é, de fato, uma pedra no sapato da modernidade. Esta que, por diversas facetas, tenta se desvencilhar da figura divina, reclamando autonomia e liberdade, encontra no discurso religioso o seu acusador, ainda quando ele não carrega uma acusação em si mesmo.
É que as palavras da religião trazem à tona uma verdade que os mimados homens modernos, tão acostumados com a bajulação que o espírito de seu tempo lhes oferece, dizendo que são bons, que são livres e sábios, não querem ouvir: que são pobres pecadores, frágeis seres que mal têm controle sobre o próprio destino, quiçá os maiores.
Acontece com eles aquilo que o apóstolo Paulo já havia afirmado: sentem cheiro de morte no aroma das flores do Evangelho. A cada palavra que um ministro de Deus ousa proferir na ágora moderna, o filhos deste mundo, de todas as matizes, berram, acusando-os de intolerância.
Querem que os religiosos se calem. Pelo menos se calem publicamente. Pelo menos não tragam, ao debate público, convicções que consideram restritas à fé pessoal. Exigem deles o silêncio reverente ante o deus mundano do laicismo.
Esperam que os religiosos sejam moderados, como se possível fosse a moderação quando se trata de religião. Um religioso é um apaixonado, é alguém que não apenas acredita em algo, mas o vive em toda sua dimensão, inclusive a eterna. Como querer que ele não fale e não lute por isso? Como esperar que ele se cale, aceitando os pressupostos exclusivamente materialistas oferecidos pelo mundo?
Uma fé religiosa não é apenas a convicção em relação a uma ideia, mas a certeza de que a existência se explica de uma determinada maneira. Sendo assim, quem a possui não tem a opção de negociá-la ou restringi-la sem antes trair-se. Quando pedem para ele ser mais moderado, o que estão pedindo é que negue a si mesmo, a seu próprio pensamento.
Ser religioso é ser essencialmente fundamentalista, se isso significar acreditar em uma explicação da vida e tentar viver de acordo com isso. Aliás, a religião, nesse sentido, é mesmo intolerante, pois crendo que sua explicação da existência é a correta, automaticamente entende que qualquer outra está equivocada.
Não adianta esperar, portanto, que um religioso meça suas palavras. Se for realmente fiel à fé que professa, ele jamais fará isso. Nem adianta querer calá-lo publicamente, pois está na natureza religiosa a pregação. O jeito é aceitar que há pessoas neste mundo que cometem a loucura de crer que são mais do que meras partículas que se extinguirão em algum momento. Precisam se conformar que existem homens que acreditam insanamente em um Deus e são incapazes de se calar diante disso.
Os senhores da razão jamais entenderão essas coisas, mas não porque a religião nega a inteligência, e sim porque eles é que se perdem na irracionalidade de sua fé materialista, absolutamente cega para o óbvio: de que não existe moderação em ninguém que acredita verdadeiramente em alguma coisa – seja em uma religião, seja nos princípios intocáveis das convicções laicistas.
Fabio Blanco www.fabioblanco.com.br
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