Eles sabiam que ele era cristão só por causa do nome. E eles não
precisavam de mais nada para sequestrá-lo. "Seu nome é muito
estranho", disseram os muçulmanos vestidos de preto ao conferirem a sua
identidade.
"Naquele instante, eu vi que eles perceberam que eu era
cristão".
Ele conta a sua história angustiante de forma anônima para a jornalista
Sulome Anderson, da revista New York. A entrevistadora é filha do também
jornalista Terry Anderson, que foi mantido refém no Líbano durante sete anos.
Outros foram usados como parte do plano do grupo para
obter dinheiro, exigindo resgate das famílias dos reféns. Os cristãos foram
escolhidos especificamente por causa da sua religião.
Quanto aos sequestradores, o ex-refém cristão considera:
“Eles sofreram uma lavagem cerebral. A única coisa que eles sabem é que
existe um homem que se proclama emir, um homem que está acima deles. Não é
Baghdadi [o líder máximo do Estado Islâmico]. Há muitos níveis de emires. Qualquer
coisa que esses emires disserem, os militantes fanáticos vão acreditar que é
verdade. E os emires dizem: ‘Deus manda você ir e matar’. Como eu sou cristão,
eles me diziam: ‘Você matou muçulmanos nas cruzadas’.
Outro me disse que eu era
do exército do papa e que eu tinha matado muçulmanos na Espanha. Nós tentávamos
dizer que isso não é verdade, que nós não somos isso. Nós sempre vivemos ao
lado de muçulmanos em paz. Trabalhamos juntos, gostamos uns dos outros. Mas
essas pessoas querem que o mundo seja como eles e matam qualquer um que não é”.
A família do refém conseguiu juntar os 80.000 dólares do resgate.
Quando os captores “nos jogaram nas ruas de Aleppo... Ah, meu Deus, foi a
sensação mais maravilhosa que eu já tive”, relata ele.
“Havia soldados do Exército Livre da Síria. Corremos até eles e eles
nos levaram para uma igreja. Eu vi a cruz e eu pensei: ‘estou vivo!’”.
O que este homem contou sobre a atual situação em seu país é revelador
e triste:
“Parece que isso não vai acabar. Eu acho que Bashar al-Assad não vai a
lugar nenhum. Já faz quatro anos e ele ainda está lá. Eu não me importo com
Assad. Ele não é um homem bom. Mas antes disso tudo, a Síria era um lugar
lindo. Você, que é mulher, podia ir a qualquer lugar em toda a Síria de dia ou
de noite e passar por cada posto de controle e ninguém iria incomodá-la. Isso
nunca seria possível agora. Nós viramos um Iraque. Saddam não era bom, mas era
melhor do que aquilo que aconteceu depois. E ninguém pode fazer o Iraque voltar
a ser o que ele era. O povo sírio dizia que queria liberdade. Isto não é
liberdade. Isto é o caos”.
Aleteia
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