É muito fácil apontar o dedo para um religioso, acusando-o
de extremismo, fundamentalismo, radicalismo ou qualquer outra insinuação que
denote qualquer tipo de atitude intransigente de sua parte. Isso faz parecer que um dos lados age sempre
com extremo bom senso, enquanto o outro, composto pelos religiosos, precisa ser
amansado de sua sanha fanática.
A impressão é que os secularistas são todos
homens absolutamente equilibrados, que buscam sempre o melhor para a sociedade
e defendem os valores mais elevados para ela, enquanto do lado da religião
estão aqueles loucos para mandar para a fogueira todos que discordem de sua fé.
Por isso, vemos apenas aqueles exigindo moderação destes, como se fossem
senhores sábios exortando bons modos a jovens insolentes.
Mas mostrando as coisas como elas realmente são, essa
moderação exigida pelo mundo não passa de uma tentativa de atenuar a convicção
religiosa alheia e forçar uma aceitação maior dos princípios laicos. Na
verdade, quando o religioso se torna um moderado, apenas para se acomodar às
convicções mundanas, está, nada menos, que trocando uma convicção por outra.
Na verdade, esse negócio de moderação é uma invenção para
ludibriar trouxas. Moderar é atenuar e não pode ser exigido para aquilo que é
considerado bom. Não se fala em atenuar o amor, a bondade, a compaixão. Por
isso, quando alguém pede para um religioso agir com moderação, está,
sutilmente, afirmando que aquilo no que ele acredita é mau, de alguma forma. De
fato, toda moderação, quando se trata de convicções, não passa de
reconhecimento de que elas não são boas e precisam ser refreadas.
Um religioso, certo que suas crenças são valorosas, não tem
motivo para abrir mão delas. Da mesma forma, um secularista, que crê na
superioridade de sua visão de mundo, não aceitará que ela seja suplantada. Para
que haja paz, portanto, é necessário um acordo, mas, em muitos casos, a
convenção significa, simplesmente, para quem cedeu, a própria negação de sua
convicção. Chega-se, então, a um ponto em que a concordância torna-se
impossível, sem que um dos lados abra mão de seus princípios. E nenhum dos
lados está disposto a fazer isso.
Os secularistas pedem moderação dos
religiosos, mas eles mesmos não querem ceder um milímetro de suas convicções.
Diga para um deles que você é contra o aborto, o casamento gay, a proibição do
ensino religioso nas escolas e você verá, no mesmo instante, que a moderação é
uma virtude muito fácil de se exigir dos outros.
O que muita gente não percebe é que a visão secularista é
tão radical quanto qualquer religião. Ela tem seus próprios princípios, valores
e até crenças. Um defensor do laicismo atua como um apóstolo, pregando seu
evangelho como se fosse a salvação para o mundo. E como um fiel, ele não aceita
que visões de mundo opostas se imponham. Por isso, na luta política, aceitar
que os princípios secularistas ditem as regras é já dar a vitória para eles.
Atenuar o discurso cristão, a fim de parecer menos radical, longe de denotar
bom senso e espírito cooperativo, apenas fortalece a visão de mundo contrária,
que defende tudo aquilo que um religioso não pode aceitar de maneira alguma.
Se não há moderação possível para um religioso, é bom saber
que não há também para um materialista. Assim, a batalha está posta e ganha
esse jogo quem for mais inteligente na luta cultural que se impõe. Eu tenho
plena convicção que se os princípios cristãos fossem assumidos, a sociedade
viveria em paz, pois a caridade, a benevolência e a misericórdia estão entre
seus valores centrais. Se, porém, forem os princípios secularistas a dominar,
eu já não tenho tanta certeza.
Os bebês, nas barrigas de suas mães, seriam as
primeiras vítimas e só Deus sabe quem seriam as outras. Uma coisa é certa: os
livros de História me ensinam que quando secularistas dominam uma sociedade,
muito sangue é derramado e muitas cabeças rolam pelo chão.
Fabio Blanco
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