Unico SENHOR E SALVADOR

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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Terrorismo à revelia

revelia

Por Paulo Rosenbaum – 

Andreas, o que foi que você fez? Que rosto é esse? Quem foram seus médicos? Alguém cuidou? O que lhe falaram? Quais drogas lhe prescreveram? Uma daquelas que borram os contornos da realidade? Quem foram seus interlocutores? Entrar para a história! Com qual perfil? Crises existenciais? Todos nós, todo bendito dia. Bilhões de ciclotímicos, bipolares e borderlines escaparam das fronteiras da psiquiatria. 

É que não são mais semanas em cada estágio. Podemos mudar a cada minuto. As moléstias recusam inércia e se readaptam. Acompanham os tempos. Passamos de um polo a outro sem a menor cerimônia. Na velocidade das redes. No 4G. Fama ou desgraça encontram-se ao alcance de qualquer digitador hábil.


É compreensível que a celeridade das oscilações acompanhem a era. A dúvida poderia nos salvar, improvável por nossa retrospectiva. É que não costumamos dar crédito para oportunidades. Já lemos isso antes: “mal estar na civilização”. O que deveríamos ter aprendido? Não eleger alvos randomicamente. É inaceitável que o mal – esqueça rótulos e reduções caricatas — tenha assumido existência autônoma. Ou a autodeterminação de alguém pode coincidir com a eliminação da nossa?

José Ortega y Gasset escreveu: a vida é puro acontecimento. E nós, quem somos? Uma família humana com suas tradições, insígnias e símbolos? Oráculos de lutos antecipados? Espaços destinados aos vínculos provisórios? Somos agregados ou participamos da essência? Qual sua família e qual a minha? Não respiramos juntos e fundo? Não nos conhecemos ao mesmo tempo? Não percorremos trajetórias análogas? O que esperar de uma sociedade cada vez menos compassiva e sem poder de agregação? Lobos solitários ou alcateias dispersas? Vivemos dias obscuros, mas não inéditos. Nas palavras cada vez mais ásperas, a audição foi ficando surda. Nem as vozes que imploram, importam.

Você não abriu a porta. Só sua respiração refratária estava audível. Você saiu da vida e entrou para a história. Temos suicidas com jurisprudência análoga. Se qualquer biografia pode ser interpretada de muitos modos, na sua, só uma coisa parece certa: façanha sem significado.

Sempre achei que determinação peremptória, convicções e certezas absolutas cheiravam abismo. Vacilar e duvidar transformaram-se em valores párias. Rebaixados da virtude à vicissitude. A perplexidade deveria ter gerado ao menos um consenso: mesmo o idiota mais resoluto precisa aprender recusar projetos estúpidos. Enfim turvamos a fronteira entre terrorismo à revelia e terrorismo explicito. 

E por falar nisso, em meio à guerra civil subnotificada, epidemia de homicidas e cooptação de pessoas para atividades genocidas o que o Congresso Nacional espera para formatar uma legislação sobre o tema? O direito à vida não deveria preceder qualquer outro assunto? Mais uma vez ultrapassamos o anacronismo, estacionamos à beira do ridículo.


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