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sábado, 19 de setembro de 2015

Putin: Amigo ou inimigo na Síria?

Pat Buchanan defende que EUA colaborem com a Rússia para impedir que o ISIS derrube Assad

Patrick J. Buchanan
O que Vladimir Putin está tramando na Síria faz muito mais sentido do que o que Barack Obama e John Kerry parecem estar tramando na Síria.
Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do
presidente Ronald Reagan.

Mediante transporte aéreo, os russos estão levando tanques e tropas para uma base aérea perto da cidade costeira de Latakia para criar uma cadeia de abastecimento para fornecer um fluxo contínuo de armas e munições para o exército sírio.
O presidente sírio Bashar Assad, que é aliado da Rússia, perdeu metade de seu país para o ISIS e a Frente Nusra, que é uma ramificação da al-Qaeda.
Putin teme que se Assad cair, a base da Rússia na Síria e no Mediterrâneo será perdida, o ISIS e a al-Qaeda estarão em Damasco, e o terrorismo islâmico terá conseguido sua maior vitória.
Será que ele está errado?
Winston Churchill fez uma declaração famosa em 1939: “Não posso prever para vocês a ação da Rússia. É uma charada envolta num mistério dentro de um enigma; mas talvez haja uma chave para decifrar. A chave é o interesse nacional russo.”
Exatamente. Putin está alerta com relação aos interesses nacionais russos.
E quem os americanos acham que terminará em Damasco se Assad cair? Um colapso desse regime, que não é algo fora de cogitação, resultaria numa tomada terrorista de poder, o massacre de milhares de xiitas alauítas e cristãos sírios, e a fuga de mais milhões de refugiados para a Jordânia, Líbano e Turquia — e daí para a Europa.
Putin quer impedir isso. Os americanos também querem impedir isso?
Por que então os americanos estão desprezando a oferta russa de cooperação com os EUA?
Será que os EUA ainda estão rancorosos que quando ajudaram a derrubar o governo pró-russo da Ucrânia, a resposta de Putin foi anexar a Crimeia?
Esqueça. Isso agora é passado.
Compreensivelmente, vai haver fricção entre as duas maiores potências militares. No entanto, os EUA e a Rússia têm um interesse vital em evitar uma guerra mútua e um interesse crítico em ver o ISIS enfraquecido e derrotado.
E se os EUA consultarem esses interesses em vez de reagir a uma russofobia automática que passa por raciocínio nas grandes instituições de consultoria, os americanos deveriam ter condições de ver que a coisa claramente certa a se fazer é colaborar com os russos na Síria.
Aliás, o problema na Síria não é tanto com os russos — ou o Irã, Hezbollah e Assad, todos dos quais veem a guerra civil síria corretamente como uma luta de vida ou morte contra os islâmicos sunitas determinados em sua guerra santa.
O problema dos EUA é ter deixado seus aliados — os turcos, os israelenses, os sauditas e os árabes do Golfo — os convencerem de que o único modo de alcançar vitória contra o ISIS é derrubando Assad.
Logo que se livrarem de Assad, nos dizem eles, uma grandiosa coalizão de árabes e turcos liderada pelo EUA poderá se formar e marchar para despachar o ISIS.
Isso é besteira de neocon (neo-conservador).
Os que estão dando esse conselho para os EUA são a mesma turma que fala de guerra como se fosse tudo moleza e que havia dito como o Iraque se tornaria um modelo democrático para o Oriente Médio logo que Saddam Hussein fosse derrubado e como a derrubada de Muamar Kadafi significaria a ascensão de uma Líbia pró-Ocidente.
Quando foi que os neocons já acertaram?
Qual é a realidade brutal nessa guerra civil síria, que custou 250.000 vidas e transformou metade da população em refugiados, com 4 milhões tendo de fugir do país?
Depois de quatro anos de matança religiosa e étnica, a Síria muito provavelmente nunca mais será reconstituída ao longo das linhas Sykes-Picot de um mapa de séculos. A divisão parece inevitável.
E embora Assad consiga sobreviver por um tempo, os dias de governo de sua família na Síria estão chegando ao fim.
Entretanto, não é do interesse dos EUA que Assad caia — se sua queda significa a desmoralização e colapso de seu exército, sem deixar nenhuma força militar significativa entre o ISIS e Damasco.
Aliás, se Assad cair agora, o beneficiário não vai ser os rebeldes pró-EUA que têm desertado ou sido desbaratados toda vez que viram um combate e que agora estão praticamente extintos.
Os vitoriosos serão o ISIS e a Frente Nusra, que controlam a maior parte da Síria entre os curdos no nordeste e o governo de Assad no sudoeste.
A Síria poderá rapidamente se transformar numa base estratégica e santuário do Estado Islâmico, uma base para conduzir uma guerra contra o Iraque, para conspirar golpes contra os EUA e lançar ataques na região e no mundo inteiro.
Predição: Se Assad cair e o ISIS se levantar em Damasco, um clamor virá — e não só dos políticos republicanos que adoram intervenções militares — para enviar um exército americano para invadir e expulsar o ISIS, enquanto os neocons suam para encontrar um sírio pró-EUA.
Então os EUA se contorcerão num grande debate de guerra se enviar o exército americano para invadir a Síria e destruir o ISIS.
E embora os aliados dos EUA no Oriente Médio e Europa aplaudam, da arquibancada, a intervenção americana, os EUA enfrentarão um grande movimento anti-guerra.
Ao tornar o ISIS, não Assad, inimigo público número 1, Putin acertou em cheio.
Agora, o mistério dentro de um enigma são os EUA.
Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan.
Traduzido por Julio Severo do original do WND: Putin: Friend or foe in Syria?

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