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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Armamento civil: Os fantasmas do poder



by Fabio Blanco 

Políticos brasileiros têm medo de armas, principalmente quando elas se encontram nas mãos da população de bem. Deve ser por um instinto de auto-proteção, claro. Afinal, se tem alguém que eles desagradam, este é o trabalhador, o pai de família, o empreendedor. 

Tal pavor, porém, serve para uma coisa: mostrar como, para os políticos, a sociedade civil se restringe a um grupo muito específico, e pequeno.


Só de imaginar a possibilidade do porte de armas ser liberado paras as pessoas comuns, homens públicos, de toda estirpe, têm vindo à mídia para dizer uma mentira e uma outra mentira, mas que é verdade para eles. Explico: já ouvi algumas vezes, da boca desses senhores, que o Estatuto do Desarmamento ajudou a diminuir a violência. 

Diante disso, fico pensando: se mais de 70 mil mortes por ano é diminuição da violência, então este país, antes, estava em guerra civil? Bom, esta é uma pequena ironia, diante da mentira descarada. Na verdade, os índices de criminalidade só crescem e, tenho certeza, o desarmamento da população civil contribui com isso.



A outra mentira é ainda mais canalha, mas, pelo menos, tem uma explicação. Eles dizem, na maior cara-de-pau, que o Estatuto do Desarmamento foi um conquista da sociedade civil, após muitos debates e discussões. Eles só esquecem de dizer que, antes dele, por meio de um plebiscito, esta mesma sociedade decidiu, por ampla maioria, que o povo não deveria ser desarmado.

Então, os políticos, simplesmente, estão mentindo? O pior é que não! É que, para eles, a sociedade é composta não pelas pessoas ordinárias, aquelas mesmas que você encontra em seu dia-a-dia, no trabalho, na faculdade, comendo pastel na esquina. 

Sociedade, para políticos, se restringe apenas aos grupos organizados, que, ao mesmo tempo que fazem pressão para ter suas demandas atendidas, são financiados pelo governo. Neste sentido, portanto, estão certíssimos ao dizer que o Estatuto do Desarmamento foi uma conquista da sociedade civil. Só lamentamos que essa sociedade não seja a nossa.

O fato é que a sociedade composta pela pessoas normais, que vivem para o trabalho e para a família, que produzem e pagam impostos, é um problema para os políticos. Estes têm muitos intentos e muitos planos de ação, mas a população atrapalha-os, invariavelmente.

Quando se reúnem em seus gabinetes, quando se juntam para intentar seus conchavos, logo eles se deparam com um obstáculo incômodo: como aprovar o que querem, sabendo que isso vai de encontro à vontade popular.

É certo que, normalmente, uma lei que beneficie, de fato, a sociedade, de alguma maneira, prejudicará o governo. No fundo, a regra é esta: saber quem ganha, o povo ou o príncipe. E sempre que uma lei é promulgada, alguém perde: o indivíduo, o empresário, o pai de família, o trabalhador, o proprietário ou seja lá quem for. 

Quem nunca perde é o governo. A arte política, portanto, se resume a encontrar meios de criar normas que beneficiem o poder, mas fazendo, nisto, o povo acreditar que tudo está acontecendo em seu favor. É a política da ilusão!

O que é decidido no planalto e no Congresso reflete a vontade de seus próprios membros e dos grupos que os sustentam. A verdadeira sociedade não faz parte disso. No Brasil, não vivemos uma democracia representativa, mas uma aristocracia eleita. A cada pleito, o povo é convocado para, democraticamente, escolher os seus senhores.

Passadas as eleições, o que se forma é um cartel de interesses que, no máximo, brigam entre si, mas que não refletem, em nada, as verdadeiras demandas da sociedade. E os políticos agem exatamente de acordo com essa realidade. Observe seus discursos e perceba como suas falas são direcionadas para os outros políticos ou para os grupos organizados. Nunca falam com você, comigo, com a tia Albertina.

Portanto, quando ouvir políticos discursando, não pense que são mentirosos, apenas. Na verdade, eles vivem em uma dimensão completamente apartada da sua. São meros fantasmas, espíritos vagantes que não cansam de assombrar os outros. E estes outros, obviamente, somos nós!

Fonte: Discursos de Cadeira

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