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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Na China greves tiram o sono do socialismo e evocam o fim polonês do comunismo

Greve na maior fábrica de tênis do mundo em Dongguan, China.
Em 2014, os operários chineses protagonizaram 1.378 conflitos laborais, segundo a ONG China Labour Bulletin (CLB). Duas vezes mais que em 2013 e 56 vezes mais que em 2007, ano em que a Academia de Ciências Sociais da China contabilizou inexpressivos 23 protestos.

A crise financeira teve um peso enorme. Ela vem se aprofundando velozmente e “em muito pouco tempo, 20 milhões de trabalhadores perderam o emprego”, explicou o sociólogo Eli Friedman,

autor do livro China Insurgency Trap, Labor Politics in Postsocialist China (A armadilha da insurgência na China – Política e trabalho na China pós-socialista), entrevistado pelo jornal “Clarín” de Buenos Aires.
Segundo Friedman, a primeira onda de protestos foi “defensiva”, porque os trabalhadores exigiam apenas o pagamento de indenizações e ordenados fixados pela lei.

Porém, a partir de 2010 elas passaram a ser “ofensivas”, pois as reclamações exigem a recomposição do poder aquisitivo dos salários.

Por exemplo, na fábrica Honda de Guangdong, os operários obtiveram em 2015 um aumento de 50% após pararem a produção.

O caso virou exemplo nacional, e greves análogas reclamando reposições de dois dígitos se espalharam por todo o país.

Outra grande exigência é de que os sindicatos, controlados na realidade pelo Partido Comunista, cumpram com a sua razão de ser, protejam os filiados e pratiquem a democracia (palavrão para o regime).

Os únicos sindicatos oficialmente autorizados pertencem à Federação Nacional dos Sindicatos, dependência do Partido Comunista, que nunca se põe do lado dos trabalhadores.

O governo “popular” tampouco quer liberdade sindical, pois teme a instabilidade política que adviria inevitavelmente.

“Na China fala-se cada vez mais do ‘efeito Solidariedade’, por analogia com o movimento dos operários poloneses que nos anos 80 teve um papel determinante para acabar com o partido comunista”, explica Friedman.

Acresce-se o fato de que a China atingiu o chamado “ponto de inflexão de Lewis”. A expressão é inspirada no Prêmio Nobel de Economia Sir Arthur Lewis (1915-1991) e designa “o momento em que já não existe população rural disposta a deixar o campo para ir trabalhar nas fábricas das cidades e, em consequência, as fábricas ficam sem mão-de-obra e têm que subir os salários”.

Xiaobo Zhang, economista do International Food Policy Research Institute, diz que a China passou desse ponto fatal em 2010. Outros acham que ainda não.

Mas o certo é que a política de controle da natalidade reduziu em seis milhões a população em idade de trabalhar, e a queda vem se acentuando sem cessar desde 2011. 



Greve na fábrica KOK Machinery em Kunshan, provincia de Jiangsu, leste da China.
Greve na fábrica KOK Machinery em Kunshan, 
província de Jiangsu, leste da China.

Mas a economia não é a única explicação para a epidemia de greves e revoltas. Os cidadãos usam cada vez mais as redes sociais e os celulares, e ficam sabendo das melhorias obtidas por outros. Geram-se assim múltiplos efeitos em repetição.

As fábricas tentam ir para o interior – engajando camponeses e pagando-lhes menos –, onde as prefeituras são mais lenientes com as práticas abusivas e oferecem serviços públicos mais baratos e miseráveis. Mas até agora os resultados não são relevantes.

A resultante é que a máquina exportadora chinesa perde as vantagens que, embora distorcidas e injustas, lhe davam uma competitividade selvagem.

O governo está preocupado, mas seu pesadelo é mais ideológico do que econômico.

Seu problema é que, com a melhoria das condições dos trabalhadores, está se desenvolvendo a desigualdade natural, que é condenada pelo socialismo como o pior dos males, a ser extirpado por completo.

Afinal, o massacre de pelo menos cem milhões de chineses pela revolução socialista-comunista foi feito para estabelecer o reinado utópico e criminoso dessa sonhada igualdade total.

Mas em 2010 o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade econômica com valores entre 0 e 1 (as sociedades mais desiguais se avizinham de 1), deu à China um valor de 0,61, o que quer dizer que ali haveria mais desigualdades que no Brasil (0,52) flagelado pelo PT.

Segundo Friedman, “isso é particularmente extraordinário porque a China tinha sido achatada até atingir tão pouca desigualdade quanto a Suécia dos anos 80”.

O que está em jogo é o objetivo supremo do socialismo, imposto ditatorialmente com uma maré de sangue, e que agora se esvai.

Segundo Friedman, na China “há muita gente acumulando riqueza que depois se transforma em poder político que multiplica a riqueza, e assim sucessivamente. Essas pessoas não querem mudanças que promovam a distribuição mais igualitária da riqueza, porque elas preferem o desenvolvimento do capitalismo privado”.

“Expulsai a natureza e ela voltará a galope” – escreveu um pensador francês. Isso é o que está acontecendo na China. E isso tira o sono dos ideologizados déspotas marxistas-maoístas de Pequim.




Fonte: Pesadelo chinês.

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