Unico SENHOR E SALVADOR

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sexta-feira, 8 de julho de 2016

O que são as "obras mortas" de Hebreus 6?



A carta aos Hebreus foi escrita a judeus que haviam se convertido a Cristo, porém continuavam apegados ao judaísmo, suas práticas, rituais e cerimônias. Por isso o autor procura deixar claro que tudo aquilo eram sombras que deviam ser deixadas para trás para se ocuparem com a realidade que é Cristo. 

As "obras mortas" eram as exigências da Lei, que nunca podiam remover pecados ou dar vida ao pecador. Os sacerdotes ofereciam "muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados" (Hb 10:11).

Qualquer obra que alguém faça, mesmo as exigidas pela Lei de Moisés, é morta no sentido de não ter poder algum de alterar seu status de "pecador" para "salvo". As boas obras feitas em Deus são aquelas decorrentes de uma salvação já consumada, pois são "as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2:10). 

Nem mesmo o fato de serem eles, os judeus, os guardiães dos oráculos de Deus, lhes garantia a salvação, pois "a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram." (Hb 4:2).

Outro ponto importante é entender que a epístola foi escrita para cristãos professos, o que inclui salvos e perdidos que tinham vindo do judaísmo. Seria o equivalente hoje a escrever a católicos e protestantes no caráter de cristãos, mas tendo em mente que nessa mistura há os salvos e os que apenas foram batizados e vestiram a camisa do cristianismo. 

Para esses, mesmo sabendo que eles praticam muitas coisas que Jesus e os apóstolos ensinaram, é preciso às vezes tirar seus olhos das ordenanças para elevá-los à perfeição de Cristo, não mais como uma estatueta presa numa cruz, mas como vivo e exaltado nas alturas, depois de ter consumado a obra que pôs fim ao pecado.

"Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. Isso faremos, se Deus permitir" (Hb 6:1-3)

Os "princípios elementares da doutrina de Cristo" têm a ver com os fundamentos da fé judaico-cristã, dos quais qualquer judeu tinha conhecimento. Lembre-se que Cristo é o Messias para o judeu, e é também o mesmo Jeová que eles conheceram no Antigo Testamento. Por isso esta epístola parte do princípio de que seus leitores já sabiam muitos dos fundamentos e agora precisavam dar um passo adiante.

O ministério de João Batista, que era dirigido aos judeus como sendo aqueles que aguardavam o Messias, tinha muito de "arrependimento de obras mortas", isto é, as obra que a Lei exigia que não eram acompanhadas da fé e nem podiam dar vida, "batismos", porque isso fazia parte do judaísmo, e "juízo eterno", como o próprio João ameaçava os fariseus que não se submetiam ao seu batismo. Mas João Batista não tratava da Igreja, porque ela nem existia no seu tempo. Tudo tinha a ver com Israel, em especial com o remanescente de judeus que aguardavam seu Rei.

Esses princípios são (1) obras vazias, (2) fé, que deveria ser o motor das obras, (3) batismos (ou oblações que os judeus praticavam), (4) imposição de mãos, (5) ressurreição dos mortos e (6) juízo eterno. A expressão "isso faremos, se Deus permitir" tem a ver com o assunto da carta, ou seja, se Deus permitisse o autor iria tratar também desses temas com os judeus que estavam apegados ao judaísmo.

Aqueles hebreus tinham parado ali, ou seja, no alicerce que já era coisa antiga. Precisavam agora ver o que era novo: Cristo ressuscitado e glorificado nas alturas. Isso eles não iriam encontrar na base doutrinária do judaísmo, pois a revelação de Deus não estava completa sem Cristo vir morrer, ressuscitar e ser glorificado. Não que as coisas que eles já tinham não fossem importantes, mas é que as coisas novas — as paredes e aposentos do palácio — eram preciosas demais para eles ficaram gastando o tempo admirando o alicerce.

Veja que o autor de Hebreus fala de seis coisas que já faziam parte do judaísmo — obras, fé, batismos, imposição de mãos, ressurreição e juízo eterno — e seis é o número da imperfeição. Eles precisam agora chegar ao "sete". Crescer além dos princípios básicos é ocupar-se com a revelação de Cristo, Sua Pessoa, Sua obra, Sua glória. 

Por isso a carta aos Hebreus vai terminar convidando aqueles judeus-cristãos, tão aferrados às práticas ancestrais do judaísmo, para que saíssem do "arraial", que era todo o sistema social e religioso da religião judaica, para se ocuparem com Cristo e sua rejeição neste mundo. Hoje esse "arraial" equivale ao mundo religioso cristão que emprestou muitos elementos do judaísmo.

"Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura." (Hb 13:10-14)

Por isso é um verdadeiro descalabro encontrarmos cristãos hoje que mais parecem crianças brincando de casinha. Se ocupam com o ritualismo de uma ordem de coisas que Deus fez questão de deixar para trás, e deu provas disso permitindo a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 da era cristã. 

Vestem-se como judeus, usam instrumentos do judaísmo, falam como se tivessem nascido em Israel e obrigam as pessoas a aprenderem hebraico, guardarem a Lei e praticarem tantas outras coisas que eram importantes no seu contexto, mas que hoje o próprio Deus deixou para trás. 

Fazer isso é tão ridículo quanto um adulto brincar de casinha com panelas e pratos de mentirinha, quando pode se ocupar com a realidade da vida adulta. Ao dar um puxão de orelha nos Gálatas, que igualmente insistiam em voltar ao judaísmo, Paulo escreve:

"Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai." (Gl 4:3-6).

A carta aos Hebreus dá grande ênfase às "coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação" (Hb 6:9). Por esta razão o adjetivo "melhor", em suas diversas variantes, é abundante em suas páginas. 

"Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior [melhor]... (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus... De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador... Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas." (Hb 7:7, 19, 22; 8:6). 

Depois de saber disso você não irá querer brincar de casinha imitando os judeus que se ocupavam com as "sombras" ou "figuras" daquilo que foi revelado na realidade e perfeição de Cristo. "De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes." (Hb 9:23).

Do versículo 4 em diante ele irá falar daqueles que apenas foram beneficiados pelo evangelho sem nunca terem crido, pessoas como Judas, por exemplo. Se você misturar as coisas e perder de vista que a carta toda fala de duas classes de pessoas — os salvos pela fé em Cristo e os meros professos religiosos que continuam perdidos — acabará achando que as passagens que nesta epístola falam de perdição tenham alguma coisa a ver com um verdadeiro crente em Jesus. 

Os verdadeiros crentes são o "vós outros" que ele menciona em Hebreus 6:9, para os quais existem "coisas melhores" que pertencem à salvação: "Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira." (Hb 6:9)

por Mario Persona

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