Vou tentar lembrar a frase de um sábio. Acho que era assim: as lágrimas dos fracos secam as minhas. Ele falava de como um homem deve se portar na adversidade. Como um homem, para resumir. Sem histeria feminina, sem se chacoalhar em desespero patético. Sem chorar.
Homem que é homem não chora.
Uma pequena digressão: aquele filósofo não desabou moralmente nem quando recebeu a sentença de morte. Foi condenado ao suicídio. Os amigos e a quase viúva ficaram consternados. O suicida compulsório consolou a todos antes de cortar as veias. Seus olhos não ficaram nem sequer úmidos, segundo relatos de testemunhas. Ele exortou os que o cercavam a mostrar força, cortou as veias e partiu para a história. Sêneca é o cara.
Há na natureza uma sabedoria que convém respeitar. Infelizmente, a natureza é cada vez menos levada em conta, como se vê no pequeno grande crime que as mulheres cometem ao destruir a golpes de cera o que meu amigo Juan Iglezias, numa coluna numa revista masculina, chamou de Triângulo Sagrado. A natureza embelezou a mulher que chora. A fragilidade, a suavidade feminina são destacadas quando o pranto toma a mulher.
A vontade que se tem é de ampará-la, de protegê-la em nossos braços viris do mundo cruel. Muitas vezes essa vontade ingênua é seguida de um impulso nada ingênuo de teor sexual. Mas até aí pode haver poesia: ao penetrarmos a chorona como que sagramos sua salvação. Nada mais pode atingi-la. Somos então uma espécie de heróis rígidos. Já não há razões para a mulher chorar. É uma cópula redentora. Libertadora. Sem muito esforço, ela passa da tristeza à alegria genuína da fêmea possuída e protegida.
Com o homem é o oposto. Ao chorar, ele se descompõe. Fisicamente fica feio. A palavra mais adequada é outra: horrível. Tenho a tese de que, se o chorão se olhasse no espelho no momento do colapso moral, o mundo teria um número imensamente maior de homens firmes diante da adversidade. A natureza, ao tornar quase repulsivo o macho em pranto, estava dizendo que homem não chora.
O chorão não inspira piedade, não inspira ternura. Nos homens, ele desperta uma mistura de tédio e desaprovação. Nas mulheres – e aqui me refiro às normais, não às malucas com vocação doentia para enfermeiras e psiquiatras-, ele desperta aversão.
Apanhemos de pé quando a vida, como acontece com tanta freqüência, nos golpear. Se cairmos, combatamos de joelhos. Nada de faniquitos. Nada de lágrimas em profusão descontrolada.
Isso não quer dizer que nós homens não somos sensíveis. Sentimos, sofremos às vezes terrivelmente quando perdemos uma mulher amada ou um amigo também amado. (Outro sábio disse lindamente que a morte de um amigo o atirou numa noite fria e escura. Montaigne, sobre La Boétie, aos interessados.) Quer dizer apenas que podemos e devemos ser firmes, másculos, perante as dificuldades, os reveses tão comuns da sorte. Devemos ser homens, para simplificar.
Se chorei? Mais do que devia, com certeza. E com certeza também não são os momentos de que lembro com maior satisfação. Refrear as lágrimas, um esforço tenaz que tenho empreendido, verdade que longe das metas desejadas, é uma atitude não apenas macha. É também um gesto de elevação espiritual.
Fonte: Homem Sincero
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