O que o espiritismo tem a ver com o cristianismo?

Haveria alguma relação entre o espiritismo e o cristianismo?

Esta é uma pergunta muito comum, principalmente em um país como o Brasil, onde a comunidade espírita é muito grande e muito da cultura brasileira foi impregnada de preceitos espíritas, fazendo com que, muitas pessoas não consigam identificar as diferenças e os limites entre as duas doutrinas.

Para entender se há a relação entre ambas, é necessário, antes de tudo, ter ciência que o espiritismo, principalmente na forma como ele se apresenta no Ocidente (kardecismo), é uma fé bastante nova. Na verdade, o espiritismo como crença dogmática que existe há pouco mais
de cento e cinquenta anos.

Considerando, portanto, que o espiritismo nasce dentro de uma cultura cristianizada, é evidente que ele absorveria alguns de seus conceitos, imitaria outros e, ao menos exteriormente, manifestaria ideias que poderiam ser confundidas com verdadeiramente cristãs. Mais que isso, o espiritismo kardecista tenta ser realmente cristão, a partir do momento que faz uso da literatura cristã e de seus conceitos para desenvolver seus próprios preceitos.

Ocorre que o que define o cristianismo não são suas manifestações exteriores. Não é sua moral, tão semelhante a de outras religiões. Também não são seus ritos, que possui similaridades em outras doutrinas pelo mundo. Nem mesmo em sua estética, não tão diferente da de outras manifestações de fé.

O cristianismo, na verdade, tem seu ponto essencial na própria encarnação de Cristo e em sua missão messiânica. Assim, apenas pode ser considerada cristã a religião que tem a Cristo como a verdadeira encarnação divina, além de entender que no Messias está a salvação eterna de todo indivíduo que nele depositar sua fé.

Sem essas duas doutrinas: a do Deus encarnado e a do Cristo salvador, não há de se falar em cristianismo.

Diante disso, o espiritismo, por mais que apresente diversas doutrinas, do ponto de vista moral, admiráveis, não pode ser considerado como uma fé cristã. Para o espírita, Cristo não é mais do que um homem iluminado, no máximo, um mestre sábio ou um representante divino.

Não cabe, na doutrina reencarnacionista espírita a ideia de um Deus que se faz homem para morrer pela humanidade. O espiritismo não aceita o pensamento, essencialmente cristão, de que os homens estão naturalmente condenados, por causa do pecado que os toma, e que apenas por meio de Cristo, sendo parte da Igreja, é que a pessoa encontra a salvação. Na verdade, a economia da salvação cristã é diretamente negada pelo espiritismo.

Por isso, não há qualquer relação intrínseca entre cristianismo e espiritismo. 

No máximo, encontraremos algumas semelhanças exteriores, existentes, principalmente, por causa da absorção cultural que o próprio espiritismo teve, por ter nascido dentro do ambiente cristão. Em essência, porém, o espiritismo pode ser considerado, doutrinariamente, uma negação do cristianismo.

Phonte: Fábio Blanco

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