Quando se alcança determinado estágio da vida, o mínimo que a pessoa espera é que possa desfrutá-la com alguma dignidade. Ainda que seja na simplicidade costumeira, ela apenas não quer ser obrigada a rebaixar-se a níveis muito inferiores ao que estava acostumada, nem depender de outros para sobreviver. Este tipo de realidade é o que há de ordinário e ninguém tem o direito de impedir que ela se realize.
O problema é que governos jamais fazem seus planos preocupados com a pessoa comum, atentos aos problemas corriqueiros de pessoas de carne e osso. Seus projetos estão baseados nas macro-estatísticas, nos números acumulados, em um coletivo que não encontra representante em um indivíduo sequer.
Sobrevivia, ela é seu velho, com a aposentadoria que este recebia, singela recompensa de seu trabalho como operário. Não era muito, mas depois de separarem boa parte dele para pagar o aluguel, se viravam com o restante para cobrir os diversos outros gastos. Da maneira deles, e na singeleza deles, eram independentes e assim mantinham sua honradez.
Como é comum a toda humanidade, chegou finalmente o dia de um deles ir embora. Quis o destino que fosse ele. E se dizem que não existe dia bom para morrer, é porque não conheceram a morte deste homem, que partiu no mais infeliz dos dias.
Isso porque o velho faleceu exatamente no dia posterior ao início do vigor das regras sobre as pensões dos viúvos, recebidas por meio do INSS. E segundo as draconianas normas criadas pela mente mefistofélica de nossa presidente, as viúvas que não possuem filhos menores têm direito ao recebimento de somente metade dos valores que o falecido recebia em vida. Não importa se estão elas, também, no fim da jornada. A regra é cristalina e foi feita para ser cumprida.
Eu, do meu lado da mesa, vendo aquela senhora que, ao mesmo tempo, demonstrava sua indignação e tristeza, já não encontrava palavras para confortar-lhe. Mesmo diante da injustiça evidente, como explicar que assim são as leis. Como justificar que se agora, com o dinheiro que ela passou a receber, sequer poderá pagar os custos de sua moradia, sua única saída será pedir para os filhos algum auxílio. Isto, no caso dela. E o que dizer de outras que talvez não tenham sequer um familiar para quem possam pedir socorro?
O pior é o vilipêndio à dignidade, à honra. O que uma senhora como ela espera é, no mínimo, que não mexam em sua vida. Ela não espera auxílios extraordinários, nem socorros especiais. Quer apenas que ninguém coloque as mãos sobre o que é dela e a deixe em paz em sua pacata existência.
O problema é que os tecnocratas governamentais são mesmo estúpidos. Algum gênio calculou assim a renda familiar: se dois vivem com um salário, quando um morre, basta metade e mais um pouquinho dessa salário para sobreviver. E faz isso ignorando a vida real, onde um mero aluguel, normalmente, toma quase todo o rendimento da família. No entanto, querer que técnicos do governo saibam alguma coisa sobre a vida real já é demais.
Bom seria que as pessoas vivessem, definitivamente, longe da dependência governamental. Assim, não estariam sujeitas as suas sandices. Porém, no caso de minha cliente, não é uma bolsa qualquer que ela recebe da autarquia, mas o resultado de contribuições feitas por seu marido durante toda a vida de trabalho dele.
Mesmo assim, basta uma presidente louca e um Congresso submetido para que decisões insanas sejam levadas adiante e impostas sobre as cabeças das pessoas mais indefesas. E o que significa uma velhinha perdida em um subúrbio qualquer comparado com a necessidade de pôr em ordem o superávit primário?
Fonte: Fabio Blanco
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