Unico SENHOR E SALVADOR

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Olavo de Carvalho errou sobre quem é a mãe da Teologia da Libertação

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO CHE-jesus-christ

Marcos Paulo Fonseca da Costa

Segundo Olavo de Carvalho, num vídeo de 2015 no Youtube, Nikita Kruschev, o sucessor de Stalin na União Soviética, foi o autor do termo Teologia da Libertação e, conforme entendi, foi o formulador da própria teologia em si. Assista (5 min 20s).

Curiosamente, em vídeo de 2013, o mesmo Olavo ensina que a origem dessa teologia é o padre jesuíta Gustavo Gutierrez. Assista(5min 45s).

Qual Olavo tem razão, o Olavo de 2013 ou o Olavo de 2015?

Num artigo de janeiro de 2015, Olavo insistiu que a Teologia da Libertação
, na verdade, é fruto do trabalho sombrio da KGB. No último parágrafo do artigo ele ensinou assim:

“Ou seja, em suas linhas essenciais, a idéia da TL veio pronta de Moscou três anos antes de que o jesuíta peruano Gustavo Gutierrez, com o livro Teología de la Liberación (Lima, Centro de Estudios y Publicaciones, 1971), se apresentasse como seu inventor original, decerto com a aprovação de seus verdadeiros criadores, que não tinham o menor interesse num reconhecimento público de paternidade.” (Um cadáver no poder I, 15/1/2015)

É bem verdade que não se deve cair no erro rasteiro de pensar que a Teologia da Libertação é produto da mente de Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Juan Luis Segundo, Frei Betto ou até mesmo, como advogam alguns, do ex-pastor Rubem Alves. Não, eles são apenas competentes divulgadores dessa teologia. Eles estão para ela como Voltaire e Diderot estão para as ideias iluministas.

Será Nikita Kruschev o autor direto da Teologia da Libertação ou apenas o chefe administrativo de sua difusão pela América Latina?

Bem, o historiador do Comunismo, autor de “O Comunismo” e de “História Concisa da Revolução Russa”, Richard Pipes, traz informação que lança óbice sobre parte da tese de Olavo de Carvalho segundo a qual a Teologia da libertação nasce de Kruschev. Veja o que ensina Pipes sobre a compreensão que Kruschev tinha do Comunismo:

“‘Desde o meu tempo de estudante, tentara e não conseguira compreender exatamente o que era o comunismo(…) Tinha tentado fazer com que o meu pai lançasse uma luz sobre a natureza do comunismo, mas não obtive nenhuma resposta inteligível. Percebi que tampouco a sua compreensão era tão clara a respeito.’ Se o líder do bloco comunista e arauto incansável de seu triunfo futuro por todo o mundo não conseguiu explicar a seu filho o que era o comunismo o que se pode esperar da compreensão teórica das pessoas comuns?” (O Comunismo, Bibliex/Objetiva, 2014, p.134)

Imagine se um homem que sequer entendia bem o que era o comunismo teria capacidade para criar uma teologia, como Olavo parece deixar nas entrelinhas do vídeo de 2015? Para criar a Teologia da Libertação seria preciso mais do que uma noção vaga e imprecisa da doutrina comunista; antes, seria necessário que o postulante a criador dessa teologia detivesse sólido conhecimento tanto de marxismo quanto da letra da Escritura. Que intelectual ou corporação poderia reunir tal síntese?

O autor intelectual dessa teologia foi Gutierrez ou foi a KGB?

Pista extraída do livro “Os jesuítas – A companhia de Jesus e a traição à Igreja Católica”, publicado pela Record em 1989, escrito pelo ex-jesuíta Malachi Martin, aponta boa direção para aonde seguir a fim de saber quem são os verdadeiros criadores da Teologia da Libertação. Ela não nasce de nenhum ventre em Moscou; ela surge das entranhas de Roma.

“Sem um gigante como Karl Rahner é de se duvidar que a Teologia da Libertação fosse conseguir muito mais do que rachar, oscilar e despencar.” (p. 21)

A teologia que Olavo de Carvalho abomina e cuja parturição joga no útero de Moscou, vem exatamente da Roma religiosa. Ela tem origem em gabinetes de homens que pertenciam ao estudo, de mentes que conheciam bem o marxismo e as Escrituras; essa teologia provém da mesma ordem religiosa a que pertence o papa Francisco. Embora Gustavo Gutierrez tenha sido jesuíta, ele não é o mentor intelectual da Teologia da Libertação. Nesse quesito, três nomes aparecem com força: George Tyrrel, Teilhard de Chardin e Jacques Maritain.

Toda informação que trago à frente é de Malachi Martin, autor que Olavo admira e vez ou outra aparece na boca dele. O livro é o mesmo indicado antes.
George Tyrrel nasceu na Irlanda, de pais ingleses, em 1861” (p. 247)
“Muitos dos destacados teólogos e bispos da igreja de hoje deveriam poder reconhecer em George Tyrrel um verdadeiro ancestral seu. Os entusiastas da Teologia da Libertação como o padre jesuíta Gustavo Gutierrez e Juan Luis Segundo estão seguindo o exemplo de Tyrrel na sua insistência de que a teologia não deve vir ‘de cima’ – da Igreja hierárquica – mas de baixo – do ‘povo de Deus’” (p.254)
“Teilhard, como costumava ser chamado, nasceu na França vinte anos depois de George Tyrrel, em maio de 1881”(p. 259)
“‘Para Teilhard, o marxismo não apresentava dificuldade alguma. ‘O Deus cristão lá no alto, escreveu ele, e o Deus do Progresso marxista estão reconciliados em Cristo.’ Não admira que Teilhard de Chardin seja o único escritor católico-romano cujas obras estão expostas ao público junto às de Marx e Lenin no Salão do Ateísmo em Moscou” (p. 263)
“A Teologia da Libertação – defendida em grande parte por jesuítas latino-americanos – fornecia um objetivo tangível para as novas teorias de Pierre Teilhard de Chardin, SJ…” (p. 274)
“Na esteira do impressionante trabalho de Teilhard na década de 1920…surgiu outro francês na década de 1930 – o filósofo católico Jacques Maritain…[que] codificou o chamamento humanista da fraternidade à Igreja Católica Romana para que se identificasse com as aspirações revolucionárias das esforçadas massas da humanidade.” (p. 276)
“A esquerda política, para Maritain, representava tudo o que era da maior significação do ponto de vista histórico. De fato, Maritain adotou uma espécie de teologia da história, como se poderia chamá-la, baseada na filosofia marxista: a verdade religiosa se encontrava exclusivamente nas massas do povo.” (p. 277)
“Apesar de tudo, é muito mais correto dizer que a América Latina serviu de laboratório vivo para as experiências com a as várias teorias e fórmulas que se reuniam sob o nome de Teologia da Libertação; que a inspiração da Teologia da Libertação, sua fórmula primordial, e seus principais defensores eram todos europeus.” (p. 279)
“Em essência, a Teologia da Libertação é a resposta àquele chamamento dirigido à Igreja codificado tantos anos antes por Maritain.” (p. 279)
Apreciação final

É inegável que o sistema político de Moscou teve envolvimento com a “exportação” do comunismo mundo afora e na América Latina em particular. Pipes trata disso no livro que mencionei aqui.
Para Olavo, o autor da Teologia da Libertação é Gustavo Gutierrez ou Nikita Kruschev/KGB?
Qual Olavo tem razão, o Olavo de 2013 ou o Olavo de 2015?

Fico com a impressão de que Olavo na verdade quer desviar o foco do problema central: Roma é a autora da Teologia da Libertação, não Moscou. É a velha história de culpar o mensageiro pela mensagem ou do marido traído pela esposa no sofá que vende o sofá e deixa tudo como antes.

Por tudo o que foi visto em Malachi Martin, a Teologia da Libertação é sem dúvida uma construção intelectual de jesuítas. A Teologia da Libertação é um projeto católico, embora tenha recebido anátema papal e tudo o mais. Ela sai da matriz romana, especificamente de Tyrrel, Chardin e Maritain, todos católicos, todos jesuítas. Moscou foi vetor de propagação dessa teologia, mas definitivamente não é a mãe da criança. 

A genitora é a própria Igreja Católica Romana, que Olavo quer restaurar. Só para relembrar: Os jesuítas estão no “trono de Pedro”. Eles chegaram lá.

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