Unico SENHOR E SALVADOR

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Deus permitiu que Jefté oferecesse sua filha em holocausto?


Por Fabio Campos


Qual professor ou estudioso da Bíblia que nunca foi perguntado sobre “como é que Deus poderia permitir que Jefté oferecesse sua filha em holocausto”? Difícil, né! Para aqueles que não estão familiarizados com a história (Juízes 11.29-40) quero apresentar um breve relato do que aconteceu.

Deus levantou Jefté, gileadita,“guerreiro valente”(Jz 11.1). Ao ser proposta a ele a liderança na batalha contra os filhos de Amom, Jefté firma um voto a Deus, no qual, se vencesse a batalha, o primeiro que saísse ao seu encontro, ele o ofereceria em holocausto. Jefté venceu a batalha. 

No retorno, a primeira pessoa que saiu de sua casa, foi sua filha, a única filha. Jefté não voltou atrás no seu propósito e a ofereceu em holocausto (v. 31). A questão, contudo, gira em torno da natureza deste “holocausto” (sacrifício).

As opiniões a respeito do assunto, entretanto, divergem. Pessoas sérias e comprometidas com a interpretação bíblica não conseguem ter consenso no veredicto. Não é para menos, o assunto é daquele tipo onde discutido entre dentro dez teólogos, onze opiniões são emitidas, uma diferente da outra. Complicado!

Antes de emitir o meu parecer, quero, contudo, trazer três posições: 

1) Comentário Bíblico Moody, 
2) Comentário Bíblico Vida Nova 
3) e o parecer do apologista Norman Geisler que se encontra em seu Manual de dificuldades bíblicas.

Segundo o comentário Bíblico Moody, Jefté, de fato, ofereceu sua filha em holocausto. O posicionamento tolo de Jefté teve a influenciado pagã de sua cultura que ele nasceu e cresceu. Jefté, portanto, tinha pouca instrução acerca da tradição dos israelitas. O paganismo de seus antecedentes ainda era forte no seu entendimento teológico. Ele cumpriu aquilo que havia prometido de antemão, foi até o fim na sua posição mesmo que equivocado.

O comentário bíblico Vida Nova traz uma opinião parecida com o comentário Moody. O comentarista diz que a frase de Jefté “o primeiro da porta da minha casa me sair” (31a) era ambígua, pois punha todos os moradores de sua casa em risco. Jefté teve uma motivação ao firmar o voto de barganha. D. A. Carson trabalha o seu argumento com base no verso 31: “aquele que vier saindo da porta da minha casa ao meu encontra, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o oferecerei em holocausto”. Se não fosse o verso 31, tudo seria mais fácil para aqueles que discordam dos dois comentaristas. Risos...

Norman Geisler escreveu “Manual de dificuldades bíblicas” contendo respostas para mais de 780 passagens polêmicas. Essa obra teve a parceria de Thomas Howe, professor de grego, hebraico, siríaco, latim e aramaico. Geisler não entende que o sacrifício da filha de Jefté tenha sido a sua vida, mas a virgindade. Ela não poderia casar e o lamento maior consistia no fato de Jefté não ter filhos e filhas para perpetuar a sua descendência (Jz 11.34).

Norman Geisler diz que o holocausto mencionado não poderia ser considerado“sacrifício de morte”, pois Jefté continha o mínimo de conhecimento sobre a tradição de Israel onde era proibido o sacrifício de seres humanos. Esse pouco conhecimento de Jefeté seria suficiente para ele não votar tolamente. O texto não diz em nenhum lugar que ele realmente matou a sua filha. 
O único lugar que aparece holocausto é no verso 31, porém, não significa que este sacrifício tenha envolvido a morte dela.

Paulo, por exemplo, disse que seres humanos devem ser oferecidos a Deus como um “sacrifício vivo” (Rm 12.1), e não como sacrifício morto. O contexto dá a entender que Jefeté ofereceu sua filha como sacrifico vivo ao Senhor para que ela pudesse servir a Deus de forma integral nos dias da sua vida, não podendo se casar. Ela não daria a seu pai uma descendência (este foi o motivo do pranto de Jefté quando encontrou com sua filha na volta da batalha).

Não ter descendentes no contexto judaico era tido por maldição. Porém, Jefté, pela fé, não voltou atrás na sua decisão; parecido com o caso de Abraão que foi até as últimas consequências de sacrificar seu filho Isaque. Deus certamente aceitou o ato de Jefté, pois seu nome é citado junto dos heróis de Hebreus 11.32. O contexto trata de homens que venceram suas batalhas pela fé. (Abraão creu que Deus poderia ressuscitar Isaque dentre os mortos e por isso foi até o fim na sua atitude).

O meu posicionamento vai de encontro com o de Norman Geisler. Creio que Jefté não sacrificou (matou) sua filha. O sacrifício foi a impossibilidade dela se casar (Jz 11.37). No verso 38, junto das amigas, ela foi chorar porque “jamais se casaria”. Veja que ela não saiu para lastimar a sua morte iminente, mas para chorar sua virgindade.

Minha convicção aumenta quando leio o verso 39: “Passados os dois meses, ela voltou a seu pai, e ele fez com ela o que tinha prometido no voto. Assim, ela nunca deixou de ser virgem. Daí vem o costume em Israel”. Caso Jefté houvesse sacrificado sua filha, a Bíblia certamente diria isso com todas as letras; contudo, passado os dois meses (que ela pediu ao pai para chorar sua virgindade), a Escritura não diz que “ela era morta”, mas que nunca deixou de ser virgem (v 40 NVI). Ou seja, ela estava viva! Disso nasceu um costume em Israel.

O povo hebreu jamais perpetuaria tal costume se de fato Jefté tivesse sacrificado sua filha. Essa prática era totalmente contrária lei estabelecida por Moises (Lv 18.21; 20. 2-5; Dt 12.31; 18.10). Esse, portanto, é o meu posicionamento.

Respeito quem pensa diferente!

Abraços fraternos,

Soli Deo Gloria!

Fabio Campos
_____________________________

Referências bibliográficas:

CARSON, D.A. Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova, 2012. São Paulo, SP
F. HARISSON, Everett. Comentário Bíblico Moody. Volume I. Batista Regular, 2010. São Paulo, SP GEISLER, Norman & HOWE, Thomas. Manual de dificuldades bíblicas. Mundo Cristão, 2015. São Paulo, SP


Fábio Campos, via Ministério Batista Beréia

Um comentário:

  1. Caro articulista.
    Para comentar esse post, inicialmente precisa-se estabelecer a distinção entre os significados de “sacrifício” e de “holocausto” já que o de sacrifício tem o sentido genérico de:


    “sacrifício” (sXIII cf. FichIVPM)

    substantivo masculino

    ato ou efeito de sacrificar(-se)

    oferenda ritual a uma divindade que se caracteriza pela imolação real ou simbólica de uma vítima ou pela entrega da coisa ofertada; ex: sacrifício de animais.


    enquanto

    “holocausto” (sXIV cf. FichIVPM)

    substantivo masculino

    tem o significado de:

    1 sacrifício, praticado pelos antigos hebreus, em que a vítima era inteiramente queimada


    Como se vê, meu caro articulista, até pela cronologia na criação das palavras, “sacrifício” foi criado no Século XIII, e “holocausto” foi no Século XIV, o que demonstra que o substantivo “holocausto”, por ter sido criado depois da palavra sacrifício teve a finalidade de distinguir uma oferenda de caráter específico, em que a vítima ofertada é queimada inteiramente (holocausto), de uma oferenda de caráter genérico (sacrifício), da mesma forma como a palavra “assassínio” define um “homicídio” de caráter genérico e “latrocínio” define um “homicídio” de caráter específico, que tem como objetivo o roubo.
    Logo, repito, “sacrifício” define uma oferenda ritual a uma divindade, sem especificar o que acontece com a vitima objeto da oferta, enquanto “holocausto” é um ritual em que a oferenda à divindade é realizada mediante a queima da vítima, objeto da oferta; e essa diferença está perfeitamente caracterizada, conforme se vê do que está escrito no Gn 22,9-10, onde está dito:


    “9 E vieram ao lugar que Deus lhes dissera, e edificou Abraão ali um altar, e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque, seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. 10 E estendeu Abraão a sua mão e tomou o cutelo para imolar o seu filho.”


    Viu, como “sacrifício” é o ato ritual de simplesmente matar a vítima ofertada, e “holocausto” é o ato de queimar a vítima ofertada?


    Portanto, meu caro, jamais a virgindade da filha de Jefté pode ter sido objeto do sacrifício oferecido por Jefté a Deus; mesmo porque não há sacrifício no ato de alguém oferecer algo que não é seu, como, no caso, a virgindade, que é de sua filha e não dele, Jefté, com todo respeito à opinião exposta por Geisler e aceita por você; se a oferta fosse a sua filha, até que se poderia admitir, face o contexto cultural da época, pois o ofertante, no caso, perdia uma filha, com a morte desta; já quanto à virgindade, quem perderia seria a filha; seria a mesma coisa que a tia fizesse uma promessa para um sobrinho se salvar de uma doença grave e, após ele ficar bem de saúde, ela dissesse para ele que ele teria que ir a Aparecida, anualmente, todo dia 12 de outubro, por dez anos seguidos...


    Agora, me responda: que “sacrifício” é esse, que é cumprido por outro?!

    Abraços. Frazão

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