Num conto magnífico do escritor argentino Jorge Luis Borges – que era ateu – chamado “Os teólogos”, a personalidade ensimesmada de muitos estudantes e diplomados em teologia é demonstrada com leveza e humor, ainda que com a mordacidade típica das discussões teológicas.
No conto, cuja leitura indico a qualquer interessado em teologia ou boa literatura, dois teólogos se enfrentam no campo teológico-filosófico, esquecendo completamente da finalidade deste exercício, tornados reféns da rivalidade.
Nem preciso dizer o quanto o paralelo é preciso em tempos de redes sociais, onde há possibilidade de opinião sobre tudo o tempo todo, sem exigência de embasamento. Há algumas discussões teológicas na internet hoje que parecem protagonizadas pelos mais ruidosos dos ateus, não sendo possível entrever nelas o menor traço de teísmo.
A típica ironia borgeana nos proporciona algumas frases que suscitam boas reflexões, como: “Em matéria teológica não há novidade sem perigo.”
Estudos teológicos calcados em novidades sociais e comportamentais são perigosos e quase sempre resvalam em heresias, na condição de que o Evangelho não pode ser acondicionado às vontades vigentes num instante, mas mutáveis a longo prazo. O estudo da teologia deve intensificar o relacionamento entre Deus e o homem mediante a estrutura de relacionamento fornecida pelo primeiro, não pelo último.
Por isso, geralmente novas teologias são antropocêntricas. Surgem em belas roupagens, esmeradas em brilhantina, mas afrontam o parâmetro bíblico original. Se enquadram aqui as teologias liberais e as imediatistas, de toma-lá-dá-cá, do tipo triplique o dízimo e receba bênçãos tríplices em troca.
Borges também profere, algumas linhas adiante: “as heresias que devemos temer são as que podem confundir-se com a ortodoxia.”
Neste ponto a dificuldade se adensa. Teologias espúrias surgem, às vezes travestidas de tradicionalismo, como se estivessem hibernando e despertassem para protagonizar um momento reativo. Propõe retornos a instantes que não existiram. Costumam atribuir a Satanás toda forma de culto que se diferencia da sua.
Borges está morto, mas vislumbrou nos enfrentamentos teológicos do Séc. XX uma prévia da rinha de galos que se tornaria o debate teológico nas redes sociais, onde há muita erudição professoral transviada, que se ocupa em ironizar e humilhar, e não alerta ou ensina.
Não vou cair no clichê de dizer que falta amor nas discussões, porque acho que o “amor” hoje em dia é tomado como desculpa para a leniência, quando na verdade amar muitas vezes é discordar e confrontar, para que o erro não prevaleça, ademais, com as inúmeras páginas de curtição e “zoeira”, estamos formando pequenos sabichões que se consideram aptos a discutir teologia mediante memes de internet, sem sequer terem lido a Bíblia toda.
Constrói-se então o cenário ideal para que Deus e sua palavra sejam deixados de lado em nome de convicções pessoais e arroubos de orgulho. E a audiência enche, cada qual com seu saco de milho para alimentar os galos que brigarão na rinha teológica on line.
Leia o conto “Os teólogos”.
Leia Borges.
E, nunca é demais lembrar, leia a Bíblia.
Phonte: Gospel Prime
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