Era meados de 2005 a 2007. Uma época em que os venezuelanos assistiram à reeleição do presidente Hugo Chávez e ao fortalecimento de sua plataforma bolivariana e anti-imperialista. Um tempo onde o então presidente se declarava cada vez mais socialista e levava adiante uma onda de estatizações no país. Mas esses eram, ainda, dias onde o governo da Venezuela fez depósitos de US$ 12 bilhões em quatro contas bancárias na sede do HSBC na supercapitalista Suíça.
Segundo os documentos vazados pelo ex-técnico de informática do banco Hervé Falciani e divulgados pelo jornal francês “Le Monde”, entre os quase 100 mil clientes registrados na base de dados do HSBC, até então ocultos graças ao sigilo bancário, destacam-se três nacionalidades: britânicos, suíços e venezuelanos. Aos latinos pertenciam cerca de US$ 14,8 bilhões. E desse total, 85%, ou cerca de US$ 12 bilhões, estavam em quatro contas pertencentes à Venezuela — abertas em nome do Tesouro Nacional e do Banco do Tesouro, um banco comercial fundado por Chávez em 2005 e que, hoje, tem centenas de filiais em todo o país.
A instituição chavista tinha apenas dois meses de existência quando abriu uma conta com US$ 9,5 bilhões no HSBC suíço. Cinco meses depois, o mesmo banco depositou mais US$ 2,2 milhões em duas contas-espelho, segundo revelou o portal investigativo venezuelano Armando.info, encarregado da investigação jornalística dos clientes da Venezuela.
O presidente do Banco do Tesouro — e responsável pelas contas — era Rodolfo Marco Torres, general do Exército e atual vice-presidente para a área econômica do governo do presidente Nicolás Maduro. O tesoureiro da época, Alejandro Andrade Cedeño, foi quem abriu outra conta em nome do órgão com cerca de US$ 700 milhões. Cedeño foi, ainda, vice-ministro das Finanças e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento da Venezuela (Bandes). Originário de um subúrbio de Caracas, ele chegou à alta sociedade. Apaixonado por equitação, é considerado um dos mecenas do esporte na Venezuela. E não lhe faltam propriedades na Carolina do Sul e na Flórida, nos Estados Unidos. Até agora, porém, nenhum dos dois quis comentar as revelações.
O vazamento dos dados secretos do HSBC, já apelidado de SwissLeaks, inclui a análise de 60 mil arquivos da base de dados de clientes da filial suíça do banco britânico entre 2005 e 2007.
Via: O Globo
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