Foram precisos 35 anos de existência do PT e pouco mais de 12 anos de petistas como donos do poder, mas hoje enfim compreendemos, expomos e combatemos as falácias ideológicas desse partido e seus satélites, sejam eles partidos, veículos de comunicação, ONGs ou acadêmicos.
Também sabemos identificar e descrever a pilantragem de seus métodos políticos, origem de toda a bandalheira que hoje chega a embotar nosso sentidos, tamanha a extensão e profundidade da pilhagem empreendida nos cofres públicos em nome de um projeto de poder autoritário, travestido de fenômeno popular.
Os discursos cheios de palavras vazias já não comovem, tampouco mobilizam; os ataques lançados contra os adversários são rechaçados ou viram motivo de chacota; outrora aplaudidos e incensados, petistas hoje são ridicularizados, hostilizados e vaiados em qualquer ambiente público que não esteja rigidamente controlado. O petismo hoje é sinônimo de ladroagem e motivo de vergonha para os que nele acreditaram sem contar com incentivos fiscais, subsídios, contratos ou cargos públicos.
E daí?
Este governo é um cadáver adiado, que pode procriar se seus opositores, especialmente os que estão à direita, não se organizarem para ocupar espaços de discussão, análise, gestão, criação de saber e valor. Saber identificar e combater as mentiras e incoerências esquerdistas é apenas um primeiro passo.
Há que se dar os passos seguintes, e rapidamente. Caso contrário, toda esta mobilização e energia hoje dedicada a denunciar e combater o petismo se dispersa e resulta em nada.
Seguem algumas propostas do que considero essencial para que este embrião de movimento conservador venha a ter alguma influência concreta na política nacional.
1 – Reconhecer a necessidade e importância da composição
Embora seja frequente dizermos e ouvirmos que o Brasil é um país conservador, o conservadorismo é discurso marginal no cenário político brasileiro, e assim vai continuar por muito tempo. Os interditos criados às pautas conservadoras foram eficazes o suficiente para criar um abismo entre os valores mais profundos do brasileiro e seu pensamento político, de forma que a transposição desses valores morais para a decisão do voto é vista, ainda que instintivamente, como algo errado.
Para mudar isso, os conservadores devem reconhecer o tamanho das dificuldades hoje existentes e começar a buscar composições, com liberais, sociais democratas, democratas cristãos e outras tendências hoje melhor estruturadas partidariamente.
A criação de um partido novo de direita é o caminho mais longo para a frustração e o fracasso. Marina, com muito mais capital político e financeiro, até hoje não conseguiu tirar a rede do papel. O NOVO, projeto de partido de direita mais avançado no país, continua patinando e, se não houver uma grande mudança de rumos, corre o risco de ser uma contradição quando enfim conseguir seu registro, pois já velho.
Mais sensato e prudente seria se alguns conservadores, os mais propensos e aptos à lide política, filiassem-se em algum dos partidos já existentes e, dentro deles, começassem a incutir pautas e valores conservadores, sempre em composição com outros interesses, desde que legítimos e honestos.
Para que isso ocorra, é necessário que os “reaças” ou conservadores abandonem desde já a pretensão de transformar o conservadorismo em ideologia. Ser conservador não significa construir um repertório de valores que esgota uma visão de mundo passada, presente e futura, mas sim ser um analista, crítico e defensor dos valores, convenções e costumes construídos, testados e aperfeiçoados ao longo da experiência civilizatória humana. É, como diz Russel Kirk, “acreditar que há uma ordem moral duradoura” e perseverar em prol desta ordem, seja lá dentro de qual contexto e estrutura você esteja.
2 – Construir pautas relevantes e abrangentes
Os governos Lula e Dilma nos acostumaram com uma das situações mais perversas: o presente eterno. Não há um horizonte em vista, um objetivo de longo prazo, uma ambição concreta que estimule as pessoas a correr riscos, assumir sacrifícios e perdas em nome de uma mudança estrutural da realidade cotiana, nada. É apenas a busca do dia seguinte, e salve-se quem puder.
Se hoje Dilma renunciasse ou fosse destituída pelo Congresso, qual seria o plano dos que assumiriam o poder? Mais especificamente, qual seria o plano da direita? Redução da maioridade penal? Revogação do estatuto do desarmamento? São pautas importantes, mas residuais em termos de transformação da realidade do país.
Somos um país de selvagens. Matamos intencionalmente mais de 55 mil pessoas por ano (contabilizadas). Somos o 112º país no ranking mundial de saneamento básico, com mais de 32 milhões de residências sem coleta e tratamento de esgoto. Sangue e merda são matérias-primas abundantes e vistas com absurda naturalidade por aqui.
Pessoalmente, considero estas as duas pautas primordiais para o país: conter a selvageria dos homicídios e expandir a rede de saneamento básico drasticamente. Deixo para o prefeito de São Paulo, o descoladíssimo Fernando Haddad e seus acólitos, sonharem com emulações de Amsterdam, Nova York ou Londres.
Para uma mudança efetiva da nossa realidade, reduzir em pelo menos 50% o número de homicídios do país e em 70% o número de casas sem saneamento básico seria algo bem mais necessário e efetivo.
Há demandas e pautas aguardando planos para todos os gostos e especialidades, seja na educação, saúde, transportes, na pesquisa e tecnologia, na logística, no planejamento tributário, mas é necessário que os vários ramos da direita comecem a discutir e qualificar sua posição em relação a estes temas. Apenas apontar o engodo petista não nos levará muito longe, e essas discussões não ocorrem nas redes sociais. Para construir estas pautas e elas tornarem-se planos, é necessário muito estudo, muita conversa presencial, estrutura organizacional, e aí vem o ponto seguinte.
3 – Organizar-se Formalmente
Uma das grandes desgraças no petismo no poder foi o aparelhamento e a destruição da credibilidade do conceito de “sociedade civil organizada”. Antes vistas como sopro renovador nas ações e organizações sociais, as ONGs, em sua grande maioria cooptadas ou subservientes à pauta esquerdista, tornaram-se sinônimos de governismo, adesismo, oportunismo. Claro que esta conotação negativa afastou deste tipo de organização todos aqueles contrários ao petismo e ao esquerdismo em geral.
É hora de corrigir este equívoco. As estruturas jurídicas que dão suporte às ONGs são ideologicamente neutras e muito úteis para estruturar grupos com foco e objetivos definidos. Fazer parte da sociedade civil organizada é uma tarefa à qual a direita não pode mais se furtar, sob pena de continuar patinando num vitimismo estóico que só beneficia as esquerdas.
Novamente valendo-me das palavras de Russel Kirk, é princípio conservador “defender comunidades voluntárias, da mesma forma que opor-se a um coletivismo involuntário”. São as associações de bairro, os grupos de interesse específico, as organizações de classe, os sindicatos, os institutos e organizações de mobilização e pressão que dão à sociedade um mínimo direcionamento e dimensionamento para a multiplicidade de interesses e fluxos de conhecimento, poder e dinheiro que compõem o tão falado “interesse público”.
A direita, seja ela de caráter liberal ou conservador, não pode furtar-se a participar dessa dinâmica, criando associações que reúnam seus acadêmicos, empresários, estudantes, em torno de questões específicas. Só a partir desta formalização é possível captar e direcionar os recursos humanos e materiais necessários para a construção das pautas e planos mencionados no item anterior.
Os reaças já descobriram que não estão sozinhos, graças à internet. Também descobriram, à custa de muita briga e desgaste, como combater o discurso e a ação esquerdista.
Falta agora organizarem-se para levar esta combatividade a um novo patamar. Estamos atrasados.
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