“Regimes há, que são verdadeiras senzalas morais, onde as almas corruptas de servir se nutrem da corrupção, no ar corrompido que as envolve. No ambiente livre não há exalações, que perdurem. A luz, o vento, o oxigênio tudo levam, ou limpam, tudo regeneram, ou depuram. Mas debaixo das telhas, onde vegeta a mirra a servidão, não há miasma, que não pegue, não vingue, não se eternize.
Cada um dos que vão chegando, se aduba dos outros; com eles se cruza, e recruza; novas espécies lhes surgem do coito sutil; de hibridação em hibridação, de multiplicação em multiplicação, um mundo incalculável de malignidades se enxameia, coalha o ar, o desoxigena, e acaba por o tornar irrespirável.”
“Todos têm notícia de que o Código Penal pune, em artigos distintos, o furto e o suborno. Todos conhecem que o suborno e o furto são crimes de cadeia. Todos vêem o que tirando o alheio, para subornar, se junta com o suborno do furto. Ninguém ignorará, pois, que subtraindo valores da nação, para corromper, se cai, a um tempo, em corrupção e litrocínio. Se o corrompido não é funcionário, não chega a ser suborno a corrupção. Mas, se o funcionário é o corruptor, e corrompe, roubando o Estado, não escapa do peculato, que vem a ser, ao mesmo, corrupção e patrocínio.”
“Na publicidade, lado a lado com os grandes órgãos onde se guarda a herança do pudor, o sagrado fogo de Vesta, abriram-se as casas de mancebia política, teúda e manteúda com o dinheiro público, donde saem à praça, tais quais messalinas transfiguradas, no carnaval, em gênios, anjos e deidades, as mais feias culpas do governo, engalanadas, com as mais finas jóias da palavra, em atos meritórios e rasgos exemplares.
É a corrupção das consciências, exercida, não à penumbra das alcovas, como os vícios pudendos, nos alcoices, pelos libertinos, mas à luz da publicidade, justamente com aliciação da publicidade e em prostituição da publicidade. Todo o mundo conhece, nomeia, censura os que compram e os que vendem. Mas o abuso passa a uso, a ignomínia se torna em gala, a condescendência acaba, afinal, por envolver com os honestos e limpos os prostituidores e prostituídos.”
“A corrupção gravemente perniciosa é a que assume o carácter subagudo, crônico, impalpável, poupando cuidadosamente a legalidade, mas sentindo-se em toda a parte por uma espécie de impressão olfativa, e insinuando-se penetrantemente por ação fisiológica no organismo, onde vai determinar diáteses, irremediáveis.”
“O que aumenta ainda o meu espanto, é que, sendo apenas um beca [O Doutor Francia, presidente do Paraguay cuja mãe nasceu em Mariana-MG] este homem capitaneou soldados com o pulso de um rijo cabo de guerra, e, para adquirir tamanha ascendente sobre eles, o seu meio não foi a avidez, mas a disciplina.
Não encanou o tesoiro para a algibeira dos batalhões; não adiantou soldos; não os dobrou, ou triplicou; não choveu gratificações e graças sobre a massa armada; não desviou os militares da fileira para os mais apetecíveis cargos civis: pôs-lhes as armas na mãos, exercitou-os, aguerreou-os, preparou-os, para combaterem o estrangeiro e o selvagem, o crime e a invasão.
Não quis acompadrar-se com os quartéis: dominou-os. Imaginou que se aviltaria, se se acamaradasse pela corrupção com os que deviam obedecer-lhe pelo respeito. Supôs que o soldado era mais dúctil aos impulsos do dever e da honra do que aos do vício e da cobiça.
Quis manter na altura dos sentimentos desinteressados os defensores profissionais do território e da autoridade. Acreditou que o suborno envilece tanto a mão que o paga, como a que o recebe. Teve mais medo à lama que às balas. Que insensato espécimen de anomalias morais este produto paraguaio! Sob uma ditadura militar vasada em finos moldes, aposto que esse Marechal de toga não teria as honras de major.”
“Quer-se curar a crise econômica, a crise financeira, a crise administrativa, e se descura a verdadeira crise: a crise do carácter, da consciência e do pudor, a crise moral, social e humana. Esta não se alcançará sanar, senão saneando o ambiente, ozonando a atmosfera, isto é, acabando com os governos da força e da incapacidade, que, pelo seu princípio mesmo, pela necessidade ingênita à sua natureza, têm de ser, inevitavelmente, governos de injustiça, mentira e corrupção.”
“Partidos sem princípios geram estadistas sem fé, os quais por sua vez constituem governos sem unidade moral, cujo interesse consiste em alimentarem a corrupção das suas maiorias, com quem vivem da permuta de favores, sem a fadiga da luta pelas idéias, pelo progresso e pela honra.”
“O processo de elaboração dos nossos orçamentos degenerou numa verdadeira orgia. Como remediar essa corrupção do regímen, até onde, ao menos, a ação das leis pode suprir a moral dos seus executores? Haverá mal de mais urgente cura, exigência de atualidade mais palpitante? Nos países onde essa enfermidade é menos sensível, menos adiantada, menos escandalosa que entre nós , aí mesmo, como nos Estados Unidos, políticos, financeiros e constituicionalistas já se unem e empenham no intuito de encontrar e fixar a medida reparadora.”
“Há esperança e […] esperanças, Sr. Presidente. A esperança cristã, a esperança do homem forte deve residir na confiança de seu espírito em si mesmo, no seu trabalho, em sua energia moral, no valor de sua individualidade em associação com seus semelhantes. A outra é a esperança dos degradados, dos fatalistas, dos miseráveis, dos aniquilados pela corrupção de sua natureza!”
“Preguei, demonstrei, honrei a verdade eleitoral, a verdade constitucional, a verdade republicana. Pobres clientes estas, entre nós, sem armas, nem oiro, nem consideração, mal achavam, em uma nacionalidade esmorecida e indiferente, nos títulos rotos do seu direito, com que habilitar o mísero advogado a sustentar-lhes com alma, com dignidade, com sobrançaria, as desprezadas reivindicações. As três verdades não podiam alcançar melhor sentença no tribunal da corrupção política do que o Deus vivo no de Pilatos.”
“De todas as liberdades, a do pensamento é a maior e a mais alta. Dela decorrem todas as demais. Sem ela todas as demais deixam mutilada a personalidade humana, asfixiada a sociedade, entregue à corrupção o governo do Estado.”
“Nenhum país salva a sua reputação com os abafos, capuzes e mantilhas da corrupção encapotada.”
“A obsessão dos nossos adversários e a sua moral está em se incrustarem, de todo modo, nas posições, donde agenciam a sua fortuna, traindo o país com o exercício da mentira habitual e da prostituição convencida. E isso há de ser a perdição deles. A nossa lei, pelo contrário, e a nossa idéia constante é desprezar as situações onde não se ganhe a prosperidade senão a expensas da vergonha, e, praticar a todo o transe a intransigência no culto da verdade, na guerra à corrupção. E daqui esperamos a salvação para nós, como para a nossa terra. Tudo porque eles não crêem no Deus da verdade, que é o único Deus; e nós pomos nesse Deus toda a confiança.”
O Brasil não é ‘isso’. É ‘isto’. O Brasil, senhores, sois vós. O Brasil é esta assembléia. O Brasil é este comício imenso, de almas livres. Não são os comensais do erário. Não são as ratazanas do Tesoiro. Não são os mercadores do Parlamento. Não são as sanguessugas da riqueza pública. Não são os falsificadores de eleições. Não são os compradores de jornais. Não são os corruptores do sistema republicano.
Não não os oligarcas estaduais. Não são os ministros da tarraxa. Não são os presidentes de palha. Não são os publicistas de aluguer. Não são os estadistas de impostura. Não são os diplomatas de marca estrangeira.
São as células ativas da vida nacional. É a multidão que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se vende. Não é a massa inconsciente, que oscila da servidão à desordem, mas a coesão orgânica das unidades pensantes, o oceano das consciências, a mole das vagas humanas, onde a Providência acumula reservas inesgotáveis de calor, de força e de luz para a renovação das nossas energias. É o povo, num desses movimentos seus, em que se descobre toda a sua majestade.”
“Em um Estado corrupto não se pode manter um exército são e obediente. O pretorianismo é a conseqüência necessária do cesarismo.”
“A benemerência que se granjeia, defendendo ou restaurando o território da nação, não confere a ninguém o privilégio de lhe transgredir as instituições fundamentais. A mesma reverência filial não me obrigaria a encobrir, ou dissimular, as minhas convicções, em matérias que interessem às leis orgânicas do país. A escola que nos ensina a sacrificá-las aos heróis, ou aos beneméritos é uma escola de moral degenerada, espúria e corruptora.”
“Os inimigos mais eficazes e perniciosos da União são os gestores interesseiros e infiéis do seu patrimônio, os ministros incapazes, as administrações arbitrárias, os governos inconsiderados, caprichosos ou corruptos, cujos atos imorais a lesam, cujas concessões escandalosas a arruinam, cujos golpes de força contra direitos, legais ou contratuais, de toda a ordem, contra ela, criam responsabilidades, autorizando essas reivindicações, essas restituições, de que depois se queixam os seus causadores.
Que fazem, pois, senão advogar, positivamente, contra a União, os que não advogam, na Câmara e no Senado, senão os seus próprios interesses, a manutenção dos seus lugares, pactuando com todos esses governos, todas essas administrações, todos esses ministros, em todos os seus abusos e excessos, em vez de lhes oporem os embargos da lei, e da Constituição e do interesse nacional?”
Phonte: Homem Culto
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