“Acima de tudo, lembrai-vos de que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Pois a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”. (1 Pedro 1:20-21)
As Sagradas Escrituras são, portanto, a Voz de DEUS para a humanidade. Porém, o que não podemos deixar de acreditar é que trechos e palavras, hoje presentes na Bíblia Sagrada, foram profundamente alteradas em relação ao que verdadeiramente foi dito por JESUS e seus seguidores. Ou seja, parte do que lemos atualmente, como sendo de autoria sagrada, foi modificada por homens ao longo do tempo.
Uma coisa é dizer que os originais foram inspirados por DEUS. Outra coisa é perceber que não dispomos desses originais. Então, dizer que eles foram inspirados não serve de grande coisa, visto que, parte do que temos em mãos hoje, não é cópia legítima, fiel, aos originais. Nós não temos nem os originais, como não temos as primeiras cópias dos originais.
Não temos nem as cópias das cópias dos originais, nem as cópias das cópias das cópias dos originais. O que temos, na verdade, são cópias produzidas muito tardiamente. E todas elas diferem umas das outras em diversas passagens.
No mundo antigo, a única maneira de copiar um livro era fazê-lo à mão, letra a letra, uma palavra por vez. Era um processo minucioso, demorado, que exigia atenção total do copista responsável. Quem quer que lesse um livro na Antiguidade nunca estava cem por cento seguro de que estava lendo o que verdadeiramente o autor escreveu.
Palavras podiam ser trocadas facilmente, tanto por acidente (escorregão da pena) ou por uma decisão consciente (alterar propositadamente em decorrência de alguns interesses maiores).
Muito diferente do que somos acostumados hoje, com a tecnologia ao nosso dispor, que nos permite, em tempo recorde, ler um livro numa prateleira recém-saído do “forno” de uma editora. Portanto, com tão grande e ampla tecnologia, é quase impossível cometer algum erro como, por exemplo, na tradução de uma língua para outra.
Mas não foi o que aconteceu com a Bíblia Sagrada. Ela sofreu alterações, sim. Parte do que está publicado tanto foi modificado por copistas e tradutores ao longo do desenvolvimento da igreja cristã, como, mais recentemente, adaptada para várias versões e linguagens por pessoas que tiveram a intenção de facilitar o entendimento por parte de leitores de diferentes níveis de escolaridade e social. Há mudanças do contexto original que não afetam a essência do que foi dito.
Vou citar um exemplo. Nos dois primeiros versículos, do capítulo 2, do evangelho escrito por João, há a referência à Maria como sendo “a mãe de JESUS”. Na verdade, a expressão “mãe de Jesus”, nesse texto, foi acrescentada pela Vulgata Romana, com o objetivo de diferenciar Maria, que gerou JESUS pelo Poder do Espírito Santo, das inúmeras outras existentes na época.
Maria era um nome extremamente comum e algum leitor desatento poderia confundi-la com outra. O acréscimo aí ocorreu com a finalidade de não causar confusão de identificação ao leitor, para que ele soubesse verdadeiramente de qual Maria o autor estava se referindo.
Todavia, uma das mais gritantes, tristes e inadmissíveis modificações, segundo a minha análise pessoal, está exatamente em dois versículos-chave da Sagrada Escritura, iguais em cada palavra, porém expressos por JESUS em situações e público distintos: Mateus 5:32 e 19:9. Nesses dois versículos há uma cláusula de exceção exposta, quando JESUS está abordando sobre o tema do repúdio: “(...) a não ser por causa de...(...)”. Se colocarmos em nossa frente quatro Bíblias de versões diferentes, veremos que cada uma apresentará uma palavra diferente nessa cláusula de exceção.
Em uma você encontrará a palavra “PROSTITUIÇÃO”; em outra, “ADULTÉRIO (ou INFIDELIDADE CONJUGAL)”; em mais outra, a expressão “RELAÇÕES SEXUAIS ILÍCITAS”; e na quarta, o termo “FORNICAÇÃO”.
Mas o que de fato JESUS teria dito? Por que não mantiveram a palavra escrita no original grego? Seriam essas quatro palavras de mesmo significado, podendo ser substituídas umas pelas outras sem prejuízo semântico?
Antes de responder a essas perguntas e como profissional de Letras, convém explicar algumas coisas. A Semântica é um campo da Linguística Moderna onde se estuda a relação de sentido e significado das palavras. Não se deve substituir uma palavra por outra de significado diferente, pois isso alteraria o sentido. Campo semântico é um conjunto de palavras pertencentes a uma mesma família.
Por exemplo, as quatro palavras transcritas acima pertencem ao campo semântico, ao conjunto denominado SEXUALIDADE. Elas podem ser agrupadas em um só conjunto, embora possuam significados próximos. Algumas dessas palavras também já são utilizadas em sentido mais amplo, fora da esfera sexual.
Alguém poderia dizer que se prostituiu com o seu amigo, sem necessariamente ter praticado relação sexual com ele. No Antigo Testamento, vimos afirmações de que o povo de Israel adulterou contra DEUS, ou seja, traiu a aliança que DEUS tinha feito com ele, ao se contaminar com falsos ídolos (Jeremias 3:8). Prostituir-se no exemplo anterior seria apenas sinônimo de contaminar-se. Adulterar sinônimo de trair, sem a referência à questão sexual.
Porém, nos dois versículos em destaque (livro de Mateus), JESUS se referiu ao casamento, à postura de pessoas casadas; especificamente, no sexo. Por isso, devemos buscar o significado das quatro palavras apenas na esfera da sexualidade.
PROSTITUIÇÃO ocorre quando se pratica sexo visando extrair dele algum benefício, interesse, lucro.
ADULTÉRIO é o ato sexual de uma pessoa casada com outra que não seja seu marido ou esposa, expressando aí uma notória infidelidade conjugal.
RELAÇÕES SEXUAIS ILÍCITAS é a expressão mais abrangente de todas, pois se refere a qualquer comportamento sexual que esteja em desacordo com a Palavra de DEUS. Assim tanto adulterar como praticar sexo anal são exemplos de algo que é ilícito para DEUS.
FORNICAÇÃO é prática sexual efetuada antes do casamento, entre pessoas solteiras. Portanto, apesar de serem termos pertencentes ao mesmo campo semântico (sexualidade), eles diferem em seus significados, não podendo ser substituídos, em especial se tratando de algo sagrado, como o que JESUS afirmou.
Em cada uma das quatro Bíblias, encontraremos a seguinte transcrição feita para os dois versículos de Mateus:
- “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de PROSTITUIÇÃO, e casar com outra, comete adultério, e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
- Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de ADULTÉRIO (ou INFIDELIDADE CONJUGAL), e casar com outra, comete adultério, e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
- “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de RELAÇÕES SEXUAIS ILÍCITAS, e casar com outra, comete adultério, e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
- “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de FORNICAÇÃO, e casar com outra, comete adultério, e o que casar com a repudiada também comete adultério”.
Não se sabe se essa alteração se deu de forma proposital (com a finalidade de tentar justificar, à luz da Palavra de DEUS, a situação errada com que muitos viviam e vivem até hoje), ou por pura ignorância e ingenuidade mesmo. Tendo sido por um ou por outro motivo, o certo é que esse erro linguístico causou um profundo rebuliço na estrutura espiritual de muitas pessoas. Elas passaram de casadas com os seus cônjuges para a condição de adúlteras.
Dessa forma, muitos cristãos, durante o passar dos anos, que sofrem com as crises no casamento por causa da infidelidade de um dos cônjuges, procuram, no desespero, os seus pastores para saber se podem, sem prejuízo espiritual, divorciar-se do cônjuge adúltero. Ora, o pastor olhando para o que está escrito em sua Bíblia nos versículos de Mateus e encontrando neles a cláusula de exceção com alguma das três palavras citadas acima (com exceção da palavra FORNICAÇÃO – a que consta no grego), incentiva a irmã ou o irmão a buscar o divórcio e, consequentemente, um novo casamento com outra pessoa. JESUS foi categórico ao afirmar em Marcos 10 que
“(...) quem repudiar a sua mulher, e casar com outra, adultera contra aquela. E se a mulher repudiar o seu marido, e casar com outro, adultera” (Marcos 10. 11-12).
O apóstolo Paulo confirmou essas palavras de JESUS em Romanos 7:2-3 e 1 Coríntios 7:39, enfatizando que quem se casa com outra pessoa, estando o cônjuge ainda vivo, comete adultério. Tais textos não sofreram alterações da língua original. Por causa dessas modificações malignas que muitos falsos casamentos ocorreram em diversas igrejas evangélicas, tornando o casal adúltero e longe da presença de DEUS.
Se morrem adúlteros, o destino é um só: o inferno (ver 1 Coríntios 6:9-10 e Apocalipse 21:8, esse último versículo, a depender da versão da Bíblia, também sofreu alteração por parte dos tradutores, que substituíram a palavra “adúlteros” pelo termo “fornicadores”).
É muito fácil identificar que havia alguma coisa errada na transcrição dos dois versículos de Mateus, pois como pode DEUS detestar tanto o repúdio, como leremos ao final deste estudo em Malaquias 2:16, e, ao mesmo tempo, abrir uma exceção para o caso de infidelidade conjugal?
Como JESUS aceitaria e concordaria com o divórcio, mesmo em caso em que houvesse adultério, se ELE mesmo perdoou uma mulher que foi pega em adultério pelos fariseus do seu tempo? Aquela mulher, como muitos hoje, vivia destruindo casamentos.
Não seria Nosso DEUS e Nosso SENHOR JESUS contraditórios se aceitassem tal exceção? Quantas vezes Israel adulterou contra DEUS e recebeu o Seu perdão e a Sua misericórdia? O curioso também é que a tal cláusula de exceção não aparece nos evangelhos de Marcos e Lucas que citam a mesma passagem.
O adultério, claro, aborrece e muito o Espírito de DEUS, mas esse pecado não é imperdoável, uma quebra da aliança definitiva e sem conserto, como muitos imaginam. JESUS nos ensina que, se há arrependimento, deve haver o PERDÃO! O que entristece muito mais a DEUS é a impiedade, a falta de perdão, as separações e os divórcios, pois levam à destruição de uma união onde DEUS foi a principal e fiel testemunha.
O que causa a ira de DEUS, sim, é a destruição do casamento, acompanhado ou não de um novo casamento de divorciados. Os filhos de Israel, ao voltarem de um tenebroso exílio, abandonaram as mulheres de suas mocidades, com as quais tinham se casado, e passaram a oferecer sacrifícios impuros no Altar de DEUS, casando-se com outras mulheres. Veja a resposta que DEUS deu, através do profeta Malaquias, a esses rebeldes que se deram a um novo casamento:
“Perguntais: por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a tua mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. Não fez ELE somente um? Em carne e espírito são dEle. E por que somente um? Ele buscava uma descendência piedosa. Portanto cuidai-vos de vós mesmos, e ninguém seja desleal para com a mulher da tua mocidade. Eu detesto o divórcio, diz o Senhor DEUS de Israel” (2:14-16).
JESUS ordenou “NÃO SEPARE O HOMEM AQUILO QUE DEUS UNIU” (Mateus 19:6). Esse mesmo JESUS determinou aos fariseus, pessoas de coração totalmente incrédulo e endurecido, que olhassem para o princípio de tudo, para a gênese, para o que DEUS criou: MACHO E FÊMEA.
O Criador os uniu. ELE é Todo Poderoso para cicatrizar qualquer ferida no seio da família ou acalmar qualquer tempestade presente no meio de um casamento.
NOSSO SENHOR UNIU, FOI FIEL TESTEMUNHA. ENTÃO QUE SEJA ASSIM ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE.
Aleluia!
Esses, sim, são conselhos ensinados por JESUS e que homem nenhum nunca conseguirá alterá-los. Que DEUS nos abençoe!
Autor: Fernando César
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