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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Organizador da Marcha para Satanás quer financiamento público para próximo ato e diz que população não entende ironia

Página do evento em Cuiabá contava com pouco mais de 216 interessados.

Ação municipal, ameaças de religiosos, e a intervenção da Polícia Militar não foram suficientes para intimidar o organizador da Marcha de Satanás, que realizará o evento em nova data na capital, e estuda buscar financimento com dinheiro público para o evento. 

A proposta audaciosa, é acompanhada pela possibilidade de processar as gestões municipal e estadual pela não realização do último ato, que aconteceria no último domingo, 17. 

Embora o dia para a concentração ainda não tenha sido definido, um plano de emergência que garanta sua realização já foi anunciado, para o caso de imprevistos.

Intitulado como ‘Professor Dagoberto Para Presidente’, o perfil responsável por articular a mobilização em Cuiabá esteve envolvido com o acontecimento em outros 13 estados do Brasil. Ao Olhar Direto ele contou que teme sofrer agressões por parte de religiosos, que diariamente o ameaçam em sua página, e que não quer gerar ‘especulações políticas’, mantendo-se, por esses motivos, no anonimato.

Sem revelar nem mesmo sua real profissão, idade, ou se esteve presente na Praça das Bandeiras no episódio, afirma que para a próxima marcha serão trabalhadas as questões técnicas, para que tudo ocorra normalmente. “Se impedirem novamente teremos um plano de emergência para o evento ocorrer, que por razões óbvias não será divulgado. A pergunta que fica é: quando um pregador evangélico reúne pessoas nessa mesma praça para um sermão, por que ele não precisa de autorização?”


O argumento para a utilização de dinheiro público no financiamento do manifesto surge da comparação com eventos religiosos, que, de acordo com ele, dispõe da mesma verba. Em sua opinião, o ato também se justifica frente a grande parcela da população que é usada como "massa de manobra" da bancada evangélica. Como exemplo cita Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. “Mesmo atolado em corrupção ele provavelmente será reeleito.”

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Em defesa de educação pública de qualidade, "que ensine a questionar e não a obedecer", ele reforça o progressismo intrínseco ao polêmico nome da marcha, e destaca a proposta de diversidade.

Assim, inclui-se no debate questões como a ampliação da isenção de impostos perante as Igrejas; intervenção de grupos religiosos no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF); modificações na lei de atendimento de vítimas de violência sexual; que impeçam a discussão de temas como aborto e eutanásia; que se afrontem os direitos da mulher; que impeçam a discussão de temas relacionados aos direitos da comunidade LGBT, brasileiros afro-descendentes e indígenas, dentre outros.

“A maioria da população do Brasil ainda não entende o conceito de ironia e sátira. Até hoje tem gente achando que vamos fazer oferendas para Satanás. As pessoas ainda não entendem que o nome do evento é uma ironia com a "Marcha para Jesus", que virou um enorme curral eleitoral pago com dinheiro público para eleger políticos corruptos. Em nossa caminhada esperamos por pessoas de todas as religiões, desde evangélicos até ateus.”

Com invasões constantes em seu perfil, ele alega que seguidores de religiões dominantes e ‘vistas como corretas pela maioria da população’ frequentemente postam ameaças, e demonstram grande intolerância com qualquer crença diferente da delas.

Os comentários, que variam entre preces solidárias à sua alma e desejos de punição pela ira divina, explicariam por si só a necessidade do evento, já que apontam o preconceito que as minorias religiosas, ateus e até mesmo agnósticos sofrem no país, argumenta o organizador.

“Isso só aumenta minha vontade de pedir financiamento público para a próxima marcha. Essa situação faz a nossa luta ainda mais necessária e justa. Temos uma grande parcela da população ‘zumbificada’, que não pensa. Tem gente que nem chegará à leitura dessa parte da entrevista e já vai sair escrevendo baboseiras religiosas nos comentários.”

A expectativa é que agora, a marcha, considerada por Dagoberto como um evento familiar, atraia mais pessoas. O intuito, segundo o organizador, é fazer uma alegre caminhada em favor da diversidade religiosa e contra o avanço da teocracia no Brasil. Deste modo, a presença de crianças também é esperada. O único pedido direcionado aos participantes é o uso de fantasias.

“Não posso esquecer-me de agradecer também aos evangélicos e católicos pelo excelente serviço de divulgação boca a boca que fizeram do evento”, ironiza.

Fracasso de público, intervenção e processos

A Marcha para Satanás, prevista para acontecer no último domingo, 17, foi cancelada em Cuiabá. Dos poucos manifestantes que se encontram no local marcado, duas jovens, uma delas menor de idade, acabaram encaminhadas a Delegacia de Polícia.

Na ocasião, o Secretário Municipal Adjunto de Fiscalização da Secretaria Municipal de Ordem Pública, Noelson Carlos Silva Dias, disse não houve planejamento adequado e que as pessoas precisariam ter uma autorização da prefeitura para se reunirem e andar pelas ruas e do Estado para utilizar o local público.

Na página do evento no Facebook, manifestantes atribuíram o problema à falta de organização. Dagoberto, no entanto, alega que da última vez o carro de som foi cancelado, e por se tratar de um número pequeno de manifestantes não seria necessário impedir o trânsito, já que as pessoas se encontrariam na praça e caminhariam pela calçada.

“Avisamos apenas a PM que teria um encontro com baixo número de pessoas, apenas pouco mais de 200 confirmaram presença, porém não esperávamos mais do que 50 pessoas e tinha ainda a chuva, por isso não achamos necessário uma autorização da prefeitura. Então nosso evento seguiu o padrão dos eventos do Rio de Janeiro, São Paulo, Uberlândia, Natal, Porto Alegre, etc... que também não tinham autorização do poder público, a única diferença foi que esses ocorreram normalmente”, afirma o organizador.

De acordo com ele, além de a marcha ter sido impedida, a reunião foi frustrada pela ação policial, que revistou todos sem "fundada motivação". Ao questionar a necessidade de todos os presentes terem sido revistados, ele explica que os jovens podem processar o Estado de Mato Grosso e a Prefeitura Municipal, já que foram ‘nitidamente perseguidos pelo poder público’.

“Gostaria de informá-los que podem processar o Estado pela flagrante violação do art. 5o, XVI da nossa Constituição Federal. Para se reunirem, independe-se de prévia autorização, o local é público! Se estão a louvar Satã, pouco importa, seus direitos humanos foram violados.

Gostaria de agradecer as pessoas que saíram de suas casas em um domingo chuvoso para irem ao evento lutar pela laicidade do Estado, sem imaginar que sofreriam perseguição estatal”, finaliza.

Fonte: Olhar Direto

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