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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Reductio ad Hitlerum ampliado


by Fabio Blanco


É bem provável que você conheça o truque retórico chamado reductio ad Hitlerum. Por meio desse instrumento de discussão, o debatedor, com o intuito de caracterizar o argumento adversário como algo reprovável, de antemão, o compara a alguma ideia, real ou criada, do nazismo ou do próprio Hitler. Com isso, ele acredita obter a vitória, simplesmente por achar ter impugnado o adversário dessa maneira.

Normalmente, a reductio ad Hitlerum é uma grande pilantragem. Quem usa desse artifício quer apenas encerrar a discussão sem, na verdade, adentrar no problema debatido. É, simplesmente, um xingamento travestido de argumentação.

E o que acontece hoje, em grande parte das discussões políticas que vemos por aí, é a universalização dessa artimanha. Não que a vinculação das ideias do adversário com o nazismo seja a única forma de desqualificar o oponente. A coisa é ainda pior! No imaginário político nacional, foram criados diversos outros "Hitlers" que servem de referência indubitável de maldade e erro, com os quais basta comparar o adversário para acreditar que ele está vencido na disputa.

Além do nazismo, que continua a servir de modelo de algo reprovável, principalmente no Brasil foram criados diversos outros símbolos de maldade, como o governo militar, o neoliberalismo, o ex-presidente Collor, o coronel Ustra, o imperialismo americano, a CIA, agora o Eduardo Cunha entre tantas outras referências criadas artificialmente para servirem de exemplos de algo condenável.

Basta comparar o oponente do debate com qualquer uma dessas figuras para tê-lo por impugnado de pronto. E quem usa desse truque ainda sai da discussão com o peito inflado, crendo que, com isso, venceu a disputa de maneira gloriosa.

Tal artifício tem sido usado, atualmente, de maneira tão ampla e abundante que discutir qualquer coisa tem se tornado algo impossível. A pressa em reduzir o adversário a um mero reflexo de modelos reprováveis, faz com que não haja mais troca de argumentos, nem verdadeiros debates, apenas um jogo onde o objetivo é conseguir encaixar o inimigo em algum tipo de modelo de perversão, maldade ou violência.

O resultado dessa universalização do truque é, obviamente, o emburrecimento em massa. Isso porque, a partir do momento que não há mais trocas de argumentos, a lógica e o raciocínio são simplemente desprezados. O que resta é apenas a manifestação histérica de pessoas que vivem correndo desesperadamente para denunciar o outro, inserindo-o em algum modelo pronto de tipo reprovável.

Assim, o que resta são apenas os gritos de fascista, homofóbico, nazista, misógino, torturador, quando não estuprador, homicida, genocida, ainda que tais rótulos surjam apenas por uma comparação tardia e frágil com modelos falsamente criados exatamente para impedir a discussão e condenar antecipadamente o adversário.

A continuar assim, chegará um momento que não mais será necessário, nas discussões públicos, que os oponentes troquem quaisquer palavras entre si. Bastará levantar plaquinhas, com os nomes das referências de maldade de sua preferência, para darem-se por satisfeitos e sairem cantando sua vitória no debate.

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