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quarta-feira, 14 de março de 2018

Postura de Francisco colabora para a aceitação de gays nas igrejas brasileiras

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“A Igreja Católica Brasileira é um festival de desobediências”, lamenta professor de teologia católico.

Apesar de a Doutrina da Igreja Católica não permitir que divorciados e homossexuais ativos sexualmente participem da Eucaristia, a postura do Papa Francisco estaria aumentando a aceitação a gays e pessoas divorciadas em algumas igrejas brasileiras.

Uma matéria veiculada pelo jornal O Estado de São Paulo relata que a Pastoral da Diversidade Sexual de São Paulo reúne-se há quase dez anos em um trabalho de “acolhimento”. Formado por cerca de 200 pessoas (gays, lésbicas, transexuais e transgêneros), eles realizam quinzenalmente reuniões e missas, onde todos podem comungar.

O frade franciscano José Francisco é um dos líderes que acompanha o grupo. “Rezo uma missa normal, para pessoas normais, que passaram por catequese e fizeram eucaristia. Como qualquer missa, há quem se considere digno e participa da comunhão, e outros que não comungam. É uma decisão de foro íntimo”, explica.

Para José Francisco, a compreensão doutrinária e a visão catequética, no Ocidente, está muito direcionada à sexualidade. “As pessoas não se escandalizam com exploração humana, são capazes de tirar o último centavo do outro e não entendem que isso é uma relação pecaminosa. São os temas sexuais que causam escândalo e sempre vão para o confessionário”, reclama.

Existem pelos menos duas outras iniciativas ligadas oficialmente à Igreja. A Diocese de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, mantém a “Pastoral da Diversidade”, chancelada pelo bispo da região, Dom Luciano Bergamim.

Em Belo Horizonte, a pastoral que surgiu em meados de 2016 diz ter se inspirado no discurso onde Francisco afirmou que a Igreja deveria “pedir perdão” pela maneira como trata os homossexuais.

Loreano Goulart, um dos coordenadores da Pastoral da Diversidade Sexual de São Paulo diz que “Não é possível sustentar uma igreja que não condiz com a realidade de vida. Não há acolhimento pela metade. Se você deixa a pessoa participar da missa, mas não da comunhão, está segregando, discriminando”.

Afirma ainda que “O papa entende que a Igreja deve ser como hospital de campanha, lidar com as periferias existenciais do ser humano. Se não for assim, não é religião, se torna um clube em que para ser sócio tem de ser hétero, casado só uma vez e mais o tanto de exigência que decidir elencar.”

Porém, embora esses grupos se autodenominem “pastorais” e tenham o acompanhamento de padres, não são reconhecidos pela Cúria como tal.


O jornal também colheu depoimentos de pessoas como Tyago Queiroz, 31 anos, supervisor de operações. Ele afirma: “Frequento a mesma paróquia desde criança e sempre fui o mais religioso de casa. Na adolescência me dei conta de que era gay, mas só fui assumir mesmo aos 22 anos. Nesse tempo, passei por um longo processo de autoaceitação e, pasmem, quem me ajudou nisso foi o próprio padre”.

Ele se refere ao padre Paulo Bezerra, pároco da Igreja Nossa Sra. do Carmo, em Itaquera há 35 anos. Segundo Tyago: “Ele me disse que não havia nada de errado comigo. Eu só precisava de um processo de aceitação. Hoje, sou casado e frequento com o meu marido as missas dominicais”.

Conta também que chegou a frequentar uma “igreja gay protestante”, mas não se identificou. “Gosto da doutrina da minha Igreja, dos meus dogmas de fé. Nem eu nem nenhum outro gay católico pretende mudar de religião, só não entendemos porque a espiritualidade tem de ser sempre confrontado à sexualidade. Por que é tão difícil para os próprios cristãos agirem com inclusão e amor?”, questiona.
Divergências teológicas

Para o teólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a presença de divorciados e de casais homossexuais nas paróquias mostra como, de modo geral, a Igreja Católica no Brasil tem entendido o discurso de acolhimento do papa.

“O que ele prega é que, antes de vermos o que há de diferente, a Igreja se firme no que nos une, que é o amor ao próximo. É a grande reviravolta”, comemora. Contudo, reconhece que há críticas, mas minimiza: “Há um grupo minoritário – mais barulhento do que numeroso – que se contrapõe a isso, porque fez a própria trajetória na linha da relação agressiva com o diferente.”

Faz parte desse grupo – que já provou não ser minoritário – o catequista e professor de teologia Gustavo Abadie. Falando ao Gospel Prime, ele assegurou: “A igreja tem doutrinas muito claras e muito sérias, mas há grupos dentro dela que estão tentando afrouxar isso. No Brasil, a Igreja Católica é uma bagunça completa. Há exceções, claro. Mas vemos um festival de desobediência e este caso é um deles. Casais divorciado e homossexuais não celibatários não podem participar da Eucaristia”.

“Existem, infelizmente, muitos bispos, padres e leigos que desobedecem intencionalmente o que a Igreja diz e isso é uma calamidade! Essa matéria [do Estadão], essas pessoas ainda não entenderam o que é catolicismo, elas seguem o que é dá cabeça delas. A Igreja deve acolher as pessoas para que elas se convertam”, explica.

Fiel da igreja Nossa Senhora de Lourder, em Canela, Rio Grande do Sul, Abadie lembra ainda que: “Acolher não é aprovar a sua conduta, seja homossexual ou heterossexual promíscuo devem guardar a castidade para poderem comungar. Esses padres citados estão desobedecendo as orientações do Catecismo. Com um papa progressista, a coisa está piorando, por que ele promove essa confusão também. Mas independentemente do que ele fale, a Igreja possui uma doutrina sólida. Essa matéria [do Estadão] é tendenciosa, que tenta mostrar uma deformação como se fosse a norma da igreja, e não é. Infelizmente é só o que a mídia mostra”.


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