Como um vício já impregnado na alma brasileira, os opinadores conseguem apenas observar os fatos, os problemas imediatos, os erros do presente, sem qualquer capacidade de enxergar em retrospectiva, de olhar além do tempo atual, de perceber que as mazelas de hoje são apenas o resultado óbvio de um estilo de vida e pensamento que há muito tempo vêm sendo acolhidos por estas terras.
O homem agrário, ao observar seu
cotidiano, não tem dúvida de duas verdades inflexíveis: a de que se planta o que
se colhe e a de que o que se planta hoje será colhido apenas em seu devido
tempo. Qualquer lavrador sabe disso. No entanto, o homem-massa civilizado
brasileiro não aprende esta lição trivial.
Décadas de descaso em relação a
alta cultura, de exaltação de um estilo de vida boêmio e malandro (quando não
criminoso), de propagação de imoralidades, anti-religiosidade e imbecilidade
pelos meios de comunicação, principalmente a tv, e de apatia política, um dia
cobrariam seu preço. Após ignorarem por tanto tempo os valores superiores,
cultivando a baixeza em todas as suas formas, o que as pessoas acreditavam que
iriam colher?
O que temos hoje é o fruto das
sementes que nós mesmos plantamos. E esta é uma lei inexorável: tudo o que o
homem semear, isso também ceifará (Gl 2.6). O estranho seria se houvesse no
Brasil uma estabilidade e prosperidade tais, comparáveis às nações mais
desenvolvidas. Isso seria praticamente como se a lei da gravidade deixasse de
agir por algum momento.
Vemos o país em uma grave crise
institucional, com seus poderes agindo, quase como sempre agiu, com casuísmo, de
acordo com as suscetibilidades imediatas e, ainda assim, não pense que está
sendo aprendida alguma lição. Não vejo, em um comentarista sequer, do veiculo de
imprensa que for, apontando que tal crise é resultado do descaso cultural e
institucional secular neste país.
Como um vício já impregnado na
alma brasileira, os opinadores conseguem apenas observar os fatos, os problemas
imediatos, os erros do presente, sem qualquer capacidade de enxergar em
retrospectiva, de olhar além do tempo atual, de perceber que as mazelas de hoje
são apenas o resultado óbvio de um estilo de vida e pensamento que há muito
tempo vêm sendo acolhidos por estas terras.
O problema ainda maior é que este
vício de observação não apenas afeta o olhar em relação ao presente, mas não
permite que se prepare algo de valor para o futuro. Ora, se há algo de muito
errado diante dos nossos olhos, deveríamos fazer algo para consertá-lo. Porém,
ignorando mais uma vez a sabedoria natural do homem do campo, a solução
encontrada está sendo a destruição do que existe e a tentativa de substituir
tudo de uma vez só.
É assim mesmo! O preguiçoso está
sempre com pressa. Melhor é fazer tudo rapidinho, que dessa maneira dá menos
trabalho.
A onda de reclamações que temos
visto nos últimos dias é exatamente isso: gritos por mudanças, porém mudanças
pontuais e imediatas. Em um só tempo querem acabar com a corrupção, criar
sistemas de transportes, saúde e educação eficientes, fazer uma reforma
política, uma reforma agrária, ter aumento em suas próprias remunerações, ter
melhores condições de trabalho, impedir a homofobia, garantir a liberdade de
expressão, permitir o aborto, impedir o aborto, liberar a maconha, liberar a
catraca, pagar menos pedágio, pagar menos impostos, livrar-nos dos comunistas,
dos fascistas, dos anarquistas, dos direitistas, dos conservadores e dos
religiosos, derrubar a presidente etc. etc. etc.
Apenas estão ignorando uma
coisa: uma sociedade não pode ter nada estável e consistente sem anos e anos de
trabalho, estudo, planejamento, pesquisas e debates. Se querem que o Brasil seja
um país habitável daqui há algumas décadas, precisam começar a prepará-lo desde
agora. E isso apenas será possível, se abandonarem o casuísmo, o imediatismo e a
pressa que fazem parte já da cultura e alma nacionais.
E sabe o que é pior? Não vejo
nenhum movimento nesse sentido.
Fonte: Fabio Blanco
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