Eugen Von Böhm-Bawerk |
Postei aqui a carta-manifesto que um aluno escreveu para seu
professor ao se negar a fazer um trabalho sobre Marx.
Alguns criticaram sua
postura, pois ele deveria, afinal, fazer o trabalho, ainda que refutando Marx.
O problema, como sabemos, é que muitos “professores” (doutrinadores é a palavra
certa) simplesmente não aceitam isso.
Estamos cansados de conhecer casos em que alunos se deram
mal por terem desafiado o viés ideológico do professor. Se ele detonasse Marx,
ainda que com vastos argumentos teóricos e lógicos, a chance grande é de que o
professor daria um jeito de prejudicá-lo. O ensino está tomado por marxistas!
Uma vez que o aluno escolheu não rebater Marx, eu o faço
aqui, para ajudá-lo. Pode mandar para esse “professor” esse texto, e aí sim!,
peça para que ele apresente ARGUMENTOS em defesa de Marx, sem apelo à
autoridade. Qualquer coisa pode marcar um debate na faculdade entre mim e ele,
sem problema.
Quero só ver…
A teoria da exploração
“O sistema econômico marxista, tão elogiado por hostes de
pretensos intelectuais, não passa de um emaranhado confuso de afirmações
arbitrárias e conflitantes.” (Ludwig Von Mises)
Poucas teorias exerceram tanta influência como a teoria
socialista de juro, ou mais conhecida como “teoria da exploração”. De forma
resumida, ela diz que todos os bens de valor são produtos do trabalho humano,
mas que o trabalhador não recebe o produto integral do que produziu, pois os
capitalistas tomam para si parte do produto dos trabalhadores.
O juro do capital consistiria, pois, numa parte do produto
de trabalho alheio que se obtém através da exploração da condição de oprimidos
dos trabalhadores. Os dois grandes expoentes dessa teoria foram Rodbertus e
Marx, e um dos primeiros economistas a apresentar uma sólida refutação dela foi
o austríaco Eugen Von Böhm-Bawerk.
Mises definiu a sua obra como “a mais poderosa arma
intelectual que se tem para a grande batalha da vida ocidental contra o
princípio destrutivo do barbarismo soviético”. Segue um resumo dos principais
pontos abordados por ele, com especial foco na teoria marxista.
Um dos primeiros pontos onde se pode atacar essa teoria é no
que diz respeito à afirmação de que todos os bens, do ponto de vista econômico,
são apenas produtos de trabalho. Se fosse verdade que um produto vale somente
aquilo que custou de trabalho para produzi-lo, as pessoas não iriam atribuir um
valor diferente a um magnífico barril de vinho de uma região nobre vis-à-vis o
vinho de outra região pior. Uma fruta achada não teria valor algum também.
Outro ponto importante é que a teoria comumente ignora a
diferença entre valor presente e valor futuro, como se fosse indiferente
consumir um bem agora ou daqui a dez anos. O trabalhador deveria receber,
segundo os seguidores de Rodbertus, o valor total do produto. Mas eles esquecem
que o produto pode levar tempo para ser produzido, e o salário de agora tem que
refletir esse custo de espera, sendo, portanto, menor que o valor futuro do
bem.
Böhm-Bawerk diz sobre isso: “O que os socialistas desejam é,
usando das palavras certas, que os trabalhadores recebam através do contrato de
trabalho mais do que trabalharam, mais do que receberiam se fossem empresários,
mais do que produzem para o empresário com quem firmaram contrato de trabalho”.
Partindo mais especificamente para a teoria marxista,
acredita-se que o valor de toda mercadoria depende unicamente da quantidade de
trabalho empregada em sua produção. Marx dá mais ênfase a esse princípio do que
Rodbertus. Marx vai direto ao ponto em sua obra O Capital: “Como valores, todas
as mercadorias são apenas medidas de tempo de trabalho cristalizado”.
No limite, uma fábrica de gelo construída no Alaska teria o
mesmo valor que uma fábrica de gelo construída no mesmo tempo e pela mesma
quantidade de trabalho no deserto do Saara. A teoria marxista de valor ignora
totalmente o fator de subjetividade e utilidade do lado da demanda. Ela não
leva em conta que o fato de trabalho árduo ter sido empreendido não é garantia
de que o resultado terá valor pela ótica do consumidor.
Ou, ao contrário, ignora que muitas vezes pouco esforço ou
trabalho pode gerar algo de muito valor para os outros, como no caso de uma
idéia brilhante. Isso sem falar da diferença de produtividade entre as pessoas,
pois é difícil imaginar quem diria que uma hora de trabalho de um grande
artista é equivalente a uma hora de trabalho de um simples pintor de parede. Se
fosse preciso a mesma quantidade de tempo para caçar um gambá fétido e um
cervo, alguém diria que eles valem a mesma coisa?
Böhm-Bawerk demonstra os erros de metodologia de Marx em sua
teoria. Na busca do fator “comum” que explicaria o valor de troca, Marx elimina
todos os casos que não correspondem àquilo que ele pretende “provar”. O
objetivo, desde o começo, é só colocar na peneira aquelas coisas trocáveis que
têm a característica que ele finalmente deseja extrair como sendo a
“característica comum”, deixando de fora todas as outras que não têm.
Böhm-Bawerk diz que ele faz isso como alguém que, “desejando
ardentemente tirar da urna uma bola branca, por precaução coloca na urna apenas
bolas brancas”. Excluir então os bens trocáveis que não sejam bens de trabalho
seria um pecado mortal metodológico. Procedendo desta forma, ele poderia ter
usado praticamente qualquer característica, concluindo talvez que o peso é o
fator comum que explica o valor de troca. Böhm-Bawerk conclui: “Expresso minha
admiração sincera pela habilidade com que Marx apresentou de maneira aceitável
um processo tão errado, o que, sem dúvida, não o exime de ter sido inteiramente
falso”.
Para Marx, a “mais-valia” seria uma conseqüência do fato de
o capitalista fazer o trabalhador trabalhar para ele sem pagar uma parte do
trabalho. Na primeira parte do dia, o trabalhador estaria trabalhando para sua
subsistência, e a partir disso haveria um “superávit de trabalho”, onde ele
seria explorado, trabalhando sem receber por isso.
Marx diz então: “Toda a mais-valia, seja qual for a forma em
que vá se cristalizar mais tarde – lucro, juro, renda etc. – é,
substancialmente, materialização de trabalho não pago”. Por esta estranha ótica
marxista, um capitalista dono de uma barraca de pipoca que contrata um
assistente é um explorador, enquanto um diretor assalariado contratado pelos
acionistas de uma grande multinacional é um explorado.
Böhm-Bawerk não duvidava de que Marx estivesse sinceramente
convencido de sua tese. Mas os motivos de sua convicção seriam, segundo o
austríaco, diferentes daqueles apresentados em seus sistemas. Marx, diz ele,
“acreditava na sua tese como um fanático acredita num dogma”. Jamais teria
alimentado dúvida honesta pelo sistema, questionando de verdade a sua lógica e
buscando contradições que derrubassem a teoria. Böhm-Bawerk diz: “Seu princípio
tinha, para ele próprio, a solidez de um axioma”.
Afinal, um pouco mais de bom senso e escrutínio não deixaria
pedra sobre pedra da teoria marxista de valor. Em primeiro lugar, todos os bens
“raros” são excluídos do princípio do trabalho. Nem mesmo um marxista tentaria
defender que um quadro de Picasso vale somente o tempo de trabalho. Em segundo
lugar, todos os bens que não se produzem por trabalho comum, mas qualificado,
são considerados exceção também.
Somente essa exceção já abrange quase todos os casos reais
de trabalho, onde cada vez mais a divisão especializada leva ao aprimoramento
do trabalho qualificado. No fundo, essas exceções “deixam para a lei do valor
do trabalho apenas aqueles bens para cuja reprodução não há qualquer limite, e
que nada exigem para sua criação além de trabalho”. E mesmo nesse campo
restrito existirão exceções!
Logo, a tal “lei” marxista que tenta explicar o valor de
troca de todos os bens não passa, na prática, de uma pequena exceção de alguma
outra explicação qualquer. Essa “lei”, não custa lembrar, é um dos mais
importantes alicerces das teorias marxistas. Ainda assim, os marxistas ignoram
as “exceções” da teoria e defendem sua universalidade, negando a resposta
quando se trata de troca de mercadorias isoladas, justamente onde uma teoria de
valor se faz necessária. Para tanto, abusam de inúmeras falácias conhecidas, já
que quando os fatos contrariam a teoria, preferem mudar os fatos.
Não obstante as gritantes falhas do pensamento marxista e
sua teoria de valor, nenhuma outra doutrina influenciou tanto o pensamento e as
emoções de tantas pessoas. Uma multidão encara o lucro como exploração do
trabalho, o juro como trabalho não pago pelo parasita rentier etc. Para
Böhm-Bawerk, a teoria marxista sobre juros conta com erros graves como
“presunção, leviandade, pressa, dialética falseada, contradição interna e
cegueira diante dos fatos reais”.
A razão para que tanto absurdo tenha conquistado tanta gente
está, segundo Böhm-Bawerk, no fato de acreditarmos com muita facilidade naquilo
em que desejamos acreditar. Uma teoria que vende conforto e promete um caminho
fácil para reduzir a miséria, fruto apenas dessa “exploração”, conquista muitos
adeptos.
Segundo Böhm-Bawerk, “as massas não buscam a reflexão
crítica: simplesmente, seguem suas próprias emoções”. Acreditam na teoria
porque a teoria lhes agrada. O economista conclui: “Acreditariam nela mesmo que
sua fundamentação fosse ainda pior do que é”.
Fonte: Rodrigo Constantino
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