Ives Gandra |
O decreto nº 8.243, assinado pela presidente Dilma Rousseff
no último dia 23 de maio de 2014, é um decreto ditatorial e que está bem na
linha de um governo bolivariano. É o que disse ontem ao Diário do Comércio o
jurista Ives Gandra Martins.
"Quando eles falam de participação da sociedade, todos
nós sabemos que essas comissões serão de grupos articulados, como os movimentos
dos Sem Terra e dos Sem Teto que têm mentalidade favorável à Cuba, à
Venezuela". Para Gandra, o decreto tenta "alijar o Congresso".
"Ele vem alijar o Congresso, e o Congresso faz bem em contestar".
NOVE PARTIDOS CONTRA
Na Câmara, na tarde de ontem, nove partidos da oposição
assinaram um pedido para votar, em regime de urgência, um decreto legislativo
que anule o decreto presidencial. DEM, PPS, PSDB, Solidariedade, PR, PV, PSD,
PSB e PROS se articularam, com seus 229 deputados, para apresentar a proposta.
Para que seja aprovado, são necessários 257 votos na Câmara — metade mais um. O
pedido segue para aprovação do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN). No Senado, também já existem movimentações para derrubar o decreto.
O texto do decreto estabelece a Política Nacional de
Participação Nacional e o Sistema Nacional de Participação Social, com
conselhos e comissões de políticas públicas decidindo sobre qualquer tema que
perpassa os Três Poderes – tendo o mesmo poder do Poder Legislativo.
As comissões e os conselhos, segundo o texto oficial,
deverão ser formados pela sociedade civil. Entende-se sociedade civil por
"cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não
institucionalizados, suas redes e suas organizações". "Dizem que
qualquer pessoa do povo pode participar, mas sabemos que o povo não é
articulado", afirmou Ives. "Articulados são eles que entrarão nessas
comissões".
Para Gandra, o que se pretende é "alijar o Congresso
Nacional e definir as pautas ao Executivo por meio de comissões
aparelhadas". "Ao invés de termos um Congresso Nacional, que é quem
representa o povo e, por isso, deve estabelecer políticas, teremos essas
comissões que irão definir as pautas do Executivo. Comissões aparelhadas
tentando dominar a democracia."
O motivo deste decreto, segundo o jurista, é porque o
governo não tem maioria entre os legisladores. "Já que não temos o
Congresso, vamos detê-lo", afirma. "É um decreto ditatorial, um
aparelhamento de Estado e que o Congresso faz bem em contestar".
EDITORIAL DO ESTADÃO
Em editorial publicado na semana passada, o jornal O Estado
de S. Paulo chamou atenção para o perigo. "O Decreto nº 8.243 é um
conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa, numa leitura desatenta,
uma resposta aos difusos anseios da rua. Na verdade é puro oportunismo para
colocar em prática as velhas pretensões do PT a respeito do que membros desse
partido entendam que seja uma democracia", dizia as primeiras linhas do
editorial. Para o jornal, não se trata de um ato ingênuo da presidente Dilma
Rousseff que descobriu uma maneira menos burocrática de melhorar a democracia
brasileira.
Ives Gandra também entende que o decreto não foi elaborado
sob a ingenuidade, mas sim na quietude de "um decreto simples no meio de
outros decretos". "É um decreto simples, no meio de outros decretos
para passar despercebido", alerta.
MODELO CHAVISTA
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR) concorda com o viés
ideológico embutido no decreto: "A presidente Dilma Rousseff tenta
subtrair os Poderes do Parlamento brasileiro. É o mesmo modelo ideológico que
se propôs para a Venezuela e para Cuba e que agora estão tentando trazer aos
poucos ao Brasil. Temos que resistir a isso porque o Parlamento é o foro da
sociedade brasileira. Esses conselhos subtraem a democracia porque são um
aparelho do PT. Não podemos fazer que eles passem por cima da lei e caminhar
pela estrada mais triste, que é o caminho antidemocrático que o PT está
propondo. Isso vai acabar no Supremo Tribunal Federal".
Fonte: Diário do Comércio
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