Dilma em visita a Cuba. Imagem: Dácio Malta |
O jornalista Leonardo Coutinho expôs a discrepância de
investimentos, por parte do Governo Federal, na infraestrutura portuária em
Cuba e no Brasil. Leia, abaixo, o artigo:
Isso é que é camaradagem
Enquanto os portos brasileiros não atendem à demanda, Cuba
vai inaugurar um, novinho, feito com investimento do BNDES que é mantido sob
sigilo pelo governo petista
Uma potência agrícola com portos tão inadequados é uma
Ferrari com um reles motor 1.0. A exuberância fica empacada. É o caso do
Brasil.
O principal porto brasileiro, o de Santos, está assoreado e isso impede
que os cargueiros de última geração, que exigem profundidades superiores a 14
metros, atraquem no terminal. As obras de dragagem ali avançam, mas em ritmo
cubano. Opa! Quem nos dera! Em Cuba, com dinheiro do povo brasileiro, as obras
de infraestrutura progridem velozmente.
Em 2014, o Brasil vai perder 22% da riqueza gerada pela
maior safra de soja da história, de 55 milhões de toneladas. A causa disso são
os gargalos da infraestrutura portuária brasileira e da perda de carga em
acidentes de caminhões nas péssimas estradas. Isso significa que o governo
brasileiro dedicou a essa questão a prioridade máxima, investindo o máximo
possível na melhoria das estradas e dos portos brasileiros? Não.
Apenas 7% dos
218 milhões de dólares previstos para ser investidos nos terminais brasileiros
em 2013, ou 15,5 milhões de dólares, foram aplicados. O maior investimento
brasileiro em portos nos últimos anos foi feito onde? Em Cuba.
No fim de janeiro, a presidente Dilma Rousseff vai à ilha
dos irmãos Castro inaugurar o Porto de Mariel. O governo brasileiro investiu
682 milhões de dólares nos últimos três anos na construção de um terminal em
Cuba, onde a ditadura de Fidel e Raul Castro, perdoem a repetição, vive sua
fase terminal. O Porto de Mariel terá capacidade 30% superior à do Porto de
Suape, o principal do Nordeste brasileiro. O descalabro é obra de Lula.
Foi no
governo dele, em 2008, que o BNDES decidiu financiar 71% do orçamento da construção
do porto. Para entendermos o senso de prioridade do governo do PT, o BNDES
emprestou aos cubanos três vezes mais do que destinou a melhorias e ampliações
no Porto de Suape desde a sua inauguração, em 1983. Cuba não pode esperar. O
Brasil pode.
Acrescente-se aos dados acima o fato de que o negócio com a
ditadura cubana transcorreu sob segredo de Estado. Em junho de 2012, o ministro
Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, classificou o
conteúdo do contrato como "secreto", com validade até 2027. A
justificativa foi proteger "informações estratégicas". Acabava de
entrar em vigor a Lei de Acesso à Informação quando Pimentel decidiu
classificar o negócio com os cubanos como secreto.
O BNDES financia obras de infraestrutura em quinze países,
mas apenas três contratos — dois com Cuba e um com Angola — são considerados
secretos. Um documento arquivado na biblioteca do Senado antes da blindagem
feita por Pimentel e o relato de um funcionário público familiarizado com as
negociações em torno do empréstimo para o Porto de Mariel dão uma pista do tipo
de informação que o governo tenta esconder.
A única garantia exigida pelo
empréstimo foi a abertura de uma conta em uma agência do Banco do Brasil nos
Estados Unidos na qual Cuba se compromete a manter um saldo equivalente a três
parcelas do pagamento da dívida com o Brasil, cujo desembolso começará apenas
em 2017. Em caso de atraso no pagamento, o Brasil, teoricamente, poderia sacar
os valores da conta de Havana no BB. Teoricamente, pois os termos do contrato
secreto são desconhecidos e podem conter cláusulas ainda mais favoráveis aos
ditadores de Cuba. Por exemplo, o valor das três parcelas pode ser irrisório.
A promessa dos cubanos é depositar na agência do BB nos
Estados Unidos parte da receita de suas exportações de açúcar. Como Cuba produz
hoje menos açúcar do que há 55 anos, quando os Castro substituíram a ditadura
de Fulgencio Batista pela deles, não há nenhuma garantia. Havana pode simplesmente
deixar de depositar o dinheiro. O porto estará prontinho. E estará dado o
calote — aliás, recorrente nos negócios com Cuba.
Nem ao falecido Hugo Chávez o Brasil ofereceu tanta
facilidade. Uma das razões para não ter vingado a participação da petroleira
PDVSA na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi o fato de o
BNDES ter exigido que o venezuelano buscasse junto a bancos privados as
garantias necessárias para a liberação do crédito. Chávez queria a mesma mamata
dada pelo PT aos cubanos. Ofereceu dar como garantia uma conta a ser abastecida
com as divisas geradas pelas exportações de petróleo. Não funcionou.
"Cuba é conhecida pelos calotes. Os contribuintes
brasileiros podem considerar esse dinheiro como uma doação de seu governo para
a manutenção de uma ditadura", diz José Azel, professor do Instituto de
Estudos Cubano-Americanos da Universidade de Miami. Em 2004, o governo do
México recorreu à Justiça italiana para embargar 40 milhões de dólares de uma
conta da empresa de telefonia de Cuba, na tentativa de reaver parte de um
empréstimo de 500 milhões de dólares.
Em novembro passado, o México acabou
perdoando 70% da dívida e parcelou o saldo de 150 milhões de dólares em dez
anos. O mesmo foi feito pelo Japão, que abriu mão de 80% de uma divida de 1,4
bilhão de dólares.
Cuba já pleiteia um novo empréstimo do Brasil. Desta vez
para construir uma zona industrial ao redor do Porto de Mariel. Em novembro
passado, Rodrigo Malmierca, ministro do Comércio Exterior cubano, esteve no
Brasil para convencer empresas brasileiras a se instalarem na ilha. Malmierca
prometeu isenção fiscal e o fim do confisco de metade do salário pago aos
trabalhadores — um dos itens da legislação escravocrata implantada pelos
comunistas. Nenhuma empresa brasileira topou. Vai ver, Malmierca já acertou
tudo em segredo com o governo brasileiro.
O monopólio dos militares
Em 2006, o total de empresas registradas em Cuba era de
3519. Em setembro passado, quando o Escritório Nacional de Estatísticas e
Informação de Cuba divulgou o mais atual levantamento empresarial da ilha,
apenas 2491 empreendimentos estavam com as portas abertas. Uma redução de 29%.
0 fracasso da indústria, do comércio e do setor de serviços nada tem a ver com
o embargo americano, até porque nada impede Cuba de fazer negócios com o
restante do mundo.
Trata-se, isso sim, do resultado da crescente concentração
das atividades econômicas nas mãos de oficiais das Forças Armadas, um processo
que começou em 1994, quando o país comunista "se abriu" a
investimentos externos. Como as empresas estrangeiras não podiam ser 100% donas
do negócio, associaram-se aos militares. Em 2012, as empresas das quais eles
eram sócios ou únicos donos - desde lojas de roupas e sapatarias até a
Almacenes Universales S.A., que controla toda a importação e exportação de
produtos - movimentaram 80% do PIB do país.
A administração do Porto de Mariel será feita pela
Almacenes, que também será a sócia compulsória de quem se aventurar a investir
no parque industrial previsto para as proximidades. No Brasil, a filial da
empresa foi aberta em 2010 por Fidel Castro Puebla, que vive no bairro dos
Jardins, em São Paulo, e cujo nome é uma homenagem da mãe, a general Esther
Puebla, ao ditador cubano e ex-companheiro de guerrilha. Sob o nome de Comercial
Brasraf Importação e Exportação Ltda., a filial da Almacenes faz a
intermediação do comércio entre Brasil e Cuba.
Com Portal Clipping MP / Veja
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