Unico SENHOR E SALVADOR

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sábado, 11 de abril de 2015

Breve história do fracasso do socialismo

guilherme_cuba

É cansativa a argumentação de que o socialismo deu errado por que não foi posto em prática exatamente como descrito por Karl Marx. Sua teoria, chamada socialismo científico, parece carregar ironia logo no nome: uma teoria científica só é de fato científica se a realidade corrobora com a mesma, e toda a vez que se experimentou alguma aplicação da teoria socialista “científica”, ela se provou absolutamente incorreta. 
A teoria marxista é, portanto, a única teoria científica correta a priori, e toda evidência contrária é atribuída à suposta imprecisão do experimento. Com explicações fantasticamente simples, como a de que horas de trabalho – horas de trabalho pagas = mais-valia, o socialismo seduz mentes com conceitos equivocados. Deixe seus preconceitos de lado e entenda o fracasso do socialismo, o porquê de o socialismo não funcionar.

Socialismo e a teoria econômica

Precisamos, antes de tudo, tirar de nossa mente a ideia de que o liberalismo é um sistema egoísta onde a sociedade não produz para ela mesma, senão para os patrões, empregadores ou burgueses. A sociedade liberal gira em torno de um egoísmo racional, no qual todos, ao procurarem benefício próprio, beneficiam a todos. 
Como dito por Ludwig von Mises em sua obra As Seis Lições, quem manda no sistema econômico é o consumidor – é você! Nem todos são empregados, nem todos são empregadores, mas todos são consumidores. Ao comprarmos Coca-Cola ao invés de Pepsi, fazemos com que a primeira empresa produza mais de seu refrigerante, e a segunda, menos.
 Elas não mandam, portanto, em seus empregados; elas são mandadas por eles e por todos nós. Compramos a bebida para nossa satisfação (benefício próprio), o empregador, na procura de lucro, aumenta a produção (também em benefício próprio) e o empregado, esperando seu salário, produz (novamente, em benefício próprio). É do egoísmo destes três níveis – consumidor, empregado e capitalista – que alimentos, bebidas, água encanada, energia elétrica, roupas e o que mais for estão ao seu alcance. É isso que os liberais chamam de harmonia de interesses, e o que os socialistas entendem como conflito inconciliável de interesses.
Não analisarei aqui o socialismo pelo seu lado teórico, que é tão utópico quanto a concorrência perfeita neoclássica, mas através de sua aplicação prática, principalmente em sua acepção marxista-leninista e estalinista. Mesmo com os sovietes russos antes do golpe de Vladimir Lênin, os socialistas nunca permitiram que a sociedade, sindicatos ou outra unidade similar decidissem o quê, quanto, como e para quem deveria ser produzido – as quatro questões que todo o economista sério faz ao tomar uma decisão-, que é o que consideram economia socializada ou democratizada, ao invés das economias centralizada e liberal. 
O sistema, portanto, não sabe o que precisa produzir – você lembra que o empregador só produz mais se você compra, leitor? Os socialistas ignoraram essa lógica, e ao invés de produzirem o que você quer, eles ordenam a produção do que eles acham que você quer. Que outra explicação há para Cuba ter tantos médicos e tão pouca comida, ou para a falta de papel higiênico na Venezuela?
Isso tudo é por causa da aversão ao dinheiro e aos preços, que são considerados uma maneira de explorar e acumular – nas palavras do próprio Marx, “alienação do trabalho humano”, “trabalho cristalizado” e “monstro”. Você já se perguntou a importância dos preços? Sim, eles fazem mais do que tirar dinheiro de sua carteira. Imagine o seguinte: há fome nos estados do Espírito Santo e Santa Catarina. Pessoas famintas nas ruas, desesperadas, sem amparo. 
Os preços disparam! Chega, então, um navio trazendo trigo na Argentina, e ele precisa escolher um dos portos para atracar e vender o grão. Se os preços no ES são muito maiores do que em SC, o navio aportará lá, pois obterá maior lucro. E porque os preços são mais altos lá? Por quê lá há mais fome. A busca por lucro levaria, portanto, comida para o lugar onde ela era mais necessária. Da mesma maneira, se os salários (que são o preço da mão-de-obra) são altos em São Paulo, lá faltam trabalhadores e há, portanto, migração para a cidade. 
Se os salários são baixos na Bahia é por que faltam vagas de emprego, e então os empresários, procurando custos baixos de produção, vão para lá. E se tabelarmos os preços, para que o salário pago possa comprar tudo? Se o fizermos eles não serão preços, apenas números sem significado, e os empresários não poderão fazer uso da maior oferta de mão-de-obra. Os preços são a informação do que é mais desejado e necessário, e eles orientam a produção e fazem com que se produza o máximo com o mínimo. É assim que o mercado funciona, e é aí que o socialismo falha.

Socialismo na prática

Não é preciso fazer extrapolações teóricas para mostrar como eles falhariam, senão mostrar onde já falharam. Comparemos o comunismo de guerra russo – ápice do planejamento central da economia, que durou até 1922 – com a produção de 1913, auge da indústria do país: a média da produção industrial caiu em 82%; a produção de carvão, em 73% e a de ferro, 97%. A de fios de algodão, utilizados para a produção de roupas, em 95%, e a de petróleo – o império era, em 1913, o segundo maior produtor dele -, 57%. A produtividade (quantia produzida por trabalhador) caiu em 73% e o número de trabalhadores industriais, em 51%. 
Se as cifras parecem abstratas, leitor, saiba que a Rússia só era industrialmente inferior à Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e França, e que a ausência de lucro fez com que 6 milhões de pessoas morressem de fome – por que plantar mais? Como saber se falta comida, se o trigo não tem mais preço? Por que produzir, se ninguém vai comprar? Segundo L. Kritsman, um dos arquitetos do comunismo de guerra, “essa economia foi atingida por uma calamidade sem paralelos na história da humanidade.”
Evolução da economia russa (1913-1928)
Evolução da economia russa (1913-1928)

Uma piada da época era a de que a única indústria que prosperava na Rússia era a de produção de papel colorido – em 1918, havia na economia da nação 60 bilhões de rublos (moeda de então), contra 2 bilhões de 1913. Em 1919, 255 bilhões. Em 1922, 2 quatrilhões! Algo que em 1913 custasse 1 rublo em 1922 custava agora 1 milhão. O motivo? Os bolcheviques queriam desvalorizar o odiado dinheiro ao ponto de ele deixar de ser usado.
O ano de 1922 foi excluído para evitar distorções.
O ano de 1922 foi excluído para evitar distorções.

Quando se promulga em 1921 a Nova Política Econômica (NEP), que permitiu investimentos estrangeiros e pequenas empresas e que nos ensinam na escola como um retumbante fracasso, basta dizer que a produção de grãos aumentou em 40% já em 1922 e em 1928, ano de sua abolição, a União Soviética já tinha superado os níveis de produção tanto agrícolas quanto industriais de 1913. Não houve milagre ou surpresa; o que aconteceu foi a volta da harmonia de interesses, que é natural, em detrimento de uma luta irreconciliavelmente forçada. Comparar a Cuba capitalista, país que tinha a maior renda per capita da América Latina, com a Cuba socialista é covardia.
O desenvolvimento posterior, com Stalin, foi feito de números forjados e muito sangue – em 1932, o ditador confiscou todos os cereais da Ucrânia com exceção de grãos de plantio, no genocídio (pouco) conhecido como Holodomor. Eles foram vendidos para que se comprasse máquinas, ao perverso custo de 6 milhões de vidas. 
O Grande Salto Adiante chinês terminou em um tombo econômico de proporção mais catastrófica do que o comunismo de guerra, com estimativas chegando aos 40 milhões de mortos por inanição. Com as reformas pós-Massacre de Tiananmen houve a volta da ampla propriedade privada, investimento externo, liberalização relativa do mercado e gasto em áreas educacionais específicas (Engenharias, por exemplo), e o resultado foi um crescimento muito acelerado. 
Não foi um caso isolado: a Índia dos Ghandhi, defensora de um sistema econômico autárquico, autossuficiente, sofreu com fomes e miséria até tomar remédio parecido. No Vietnã a história se repete. Até mesmo o Brasil, que preferiu as doses homeopáticas nos anos 90, melhorou. Todos eles, porém, conheceram a versão genérica do coquetel de liberalismo chileno. Foi amargo, ardeu o estômago, mas no fim serão eles os primeiros a se dizer desenvolvidos na América Latina. Não parece ser coincidência.
Crescimento soviético oficial (azul), calculado pela CIA (vermelho) e revisado (verde)
Crescimento soviético oficial (azul), calculado pela CIA (vermelho) e revisado (verde).

A dura lição

A única conclusão plausível é a de que o socialismo não passa de um lobo em pele de cordeiro. O motivo de não termos aprendido isso tudo antes é o seguinte: quem controla o passado, controla o futuro. Quando nos escondem esses acontecimentos perversos e repulsivos, evitam que os desacreditemos, e se por acaso os descobrimos, nos dizem que a teoria foi deturpada. Enquanto falam que a aplicação de 50% da teoria socialista é ruim, 80% é o inferno e 100% é o paraíso, nos ensinam também que a aplicação de 50% da teoria liberal é razoável, 80% é um padrão de vida invejável e 100% é um estado de miséria e desespero. 
Quanto mais cedo nos conscientizarmos disso, mais vidas e tempo pouparemos. Se colhemos o que plantamos, qual é o fruto quando se semeia ignorância? Enquanto os antigos socialistas sobem na locomotiva da economia internacional os cubanos, um dia tão liberais, viram no socialismo a luz no fim do túnel. Era o trem.
As fontes e cifras podem ser encontradas nos livros As Seis Lições de Ludwig von Mises, História Concisa da Revolução Russa, Rússia sob o Antigo Regime O Comunismode Richard Pipes.
Liberzone
Guilherme Dalla Costa

Estudante de Economia, Coordenador do Estudantes Pela Liberdade e do Clube Farroupilha. Gosta de política, filosofia e dinossauros.

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