Julio Severo
O conservadorismo da Rússia, sob influência da Igreja Ortodoxa, tem se destacado pelas fortes posturas cristãs contra a agenda gay e o aborto, especialmente na ONU. Essa receita conservadora deu certo para o presidente conservador evangélico americano Ronald Reagan e para o Vaticano. Poderia dar certo para os russos?
Em seu recente artigo “O falso conservadorismo de Vladimir Putin,” publicado no GospelMais, o apologeta brasileiro diz:
“Natural da cidade de São Petersburgo, Putin vem desenvolvendo uma estratégia de ação diferente da época em que atuava como tenente-coronel da KGB (antiga agência de espionagem), que é a de recorrer ao conservadorismo da Igreja Ortodoxa Russa como uma contraposição ao liberalismo dos EUA. Em outras palavras: Putin adotou o conservadorismo com o objetivo de criar uma nova imagem para a mãe Rússia, de uma nação que preza pelos princípios fundamentais da família cristã — algo claramente louvável, apesar de que o objetivo por trás é outro… Pela maneira como o ex-agente da KGB vem atuando nos bastidores da política nacional e internacional sugere que o conservadorismo não passa mesmo de uma temporária peça de publicidade russa.”
Como evidência de que Putin não é conservador, o apologeta brasileiro diz: “Como conciliar o conservadorismo de Vladimir Putin com a política de extermínio de opositores no território sírio? Putin não é conservador.”
Como conciliar a opinião do apologeta brasileiro com a realidade? Quem são esses opositores?
Em seu artigo “Rússia declara ‘guerra santa’ ao Estado Islâmico,” Raymond Ibrahim, um líder cristão americano descendente de cristãos do Oriente Médio, explica sobre os tais opositores:
“Até mesmo a resposta do Rev. Franklin Graham à intervenção militar russa na Síria parece inusitadamente positiva, vindo do próprio presidente da Associação Evangelística Billy Graham: ‘O que a Rússia está fazendo poderá salvar a vida de cristãos no Oriente Médio… Entendam que o governo sírio… tem protegido os cristãos, eles têm protegido as minorias contra os islamistas.’ Se os islâmicos de guerra santa (‘rebeldes’) apoiados pelos EUA conseguirem derrubar o governo da Síria, Graham prediz corretamente que haverá ‘um banho de sangue de cristãos’: ‘Haveria dezenas de milhares de cristãos assassinados e massacrados e, além disso, haveria centenas de milhares de mais refugiados fugindo para a Europa. Portanto, em relação à Rússia de agora, eu vejo sua presença como ajudando a salvar a vida dos cristãos.’ Evidentemente, é um fato comprovado que os ‘rebeldes bons’ — chamados de moderados — estão perseguindo os cristãos tanto quanto o Estado Islâmico persegue os cristãos.”
Ibrahim é autor do livro best-seller “Crucified Again” (Crucificados de Novo), que relata como os cristãos do Oriente Médio estão sendo trucidados pelos muçulmanos.
A pergunta importante então é: Por que o apologeta brasileiro escolheu ficar do lado desses rebeldes ou opositores islâmicos que assassinam cristãos? A resposta é que ele, cujo nome é Johnny Torralbo Bernardo, segue a ideologia socialista. Johnny Bernardo, que é colunista do site evangélico progressista GospelMais, tem um histórico de anos como membro oficial do Partido Comunista do Brasil.
Infelizmente, muitos apologetas brasileiros, que deveriam defender o Evangelho, defendem o socialismo e odeiam influências cristãs conservadoras na política.
Como colunista do GospelMais, Johnny já fez algumas declarações compatíveis com a ideologia comunista. Em seu artigo “Júlio Severo e temas relacionados,” em que ele me ataca, ele diz:
“A Revolução Cubana foi necessária porque os cubanos eram explorados financeira e fisicamente pelos estadunidenses.”
Nesse mesmo artigo, ele se queixa de que denuncio protestantes socialistas e apoio neopentecostais, que são o segmento evangélico mais antissocialista do Brasil.
Deve haver algo de muito estranho quando um comunista que louva a sanguinária revolução cubana e ataca Julio Severo é considerado, pelo GospelMais, como boa fonte de referência para os evangélicos rejeitarem o “falso conservadorismo” do presidente russo.
Em outro artigo do GospelMais, intitulado “O Brasil e o Estado Laico; uma entrevista,” Johnny explica que uma união entre Estado e religião cristã é um perigo. Como exemplo desse perigo, ele usa a Arábia Saudita, que é uma ditadura islâmica. Nesse sentido, ele diz das preocupações que ele tem: “O Brasil, assim como os Estados Unidos, ainda é pautado [governado] pela religião, pela influência de líderes religiosos.”
A questão de Johnny com Putin então é que o presidente russo, ao dar mais espaço político para a Igreja Cristã Ortodoxa na Rússia, está indo diretamente contra o Estado laico, ferrenhamente defendido por comunistas do mundo inteiro.
Como todo comunista, Johnny acredita na separação da Igreja e do Estado. Mas há uma exceção: cristãos anticapitalistas e ambientalistas precisam ter espaço no governo e suas políticas. Em seu artigo “Pastores devem tomar o Papa Francisco como um modelo de liderança,” Johnny diz:
“Primeiro Papa latino-americano, o jesuíta Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) até o momento tem dado sinais de que será também o mais importante líder católico da História. Acima de tudo, o Papa Francisco retomou o discurso social da Igreja, de aproximação com os pobres e oprimidos pelo sistema capitalista.”
Então, na visão comunista de Johnny, o Papa Francisco é um exemplo excelente de envolvimento cristão na política. Johnny é enfático: Francisco é um exemplo que todos os pastores evangélicos deveriam seguir. Em contraste, Putin é o mau exemplo.
Ele concorda com Francisco, mas discorda de Putin.
Indo mais adiante em seu artigo “O falso conservadorismo de Vladimir Putin,” Johnny diz:
“Tudo não passa de uma estratégia compassadamente desenvolvida para contrapor-se as políticas liberais dos EUA. Com a união civil homossexual reconhecida pela mais alta corte dos EUA, a regulamentação do uso recreativo da maconha em Estados como o Colorado e Washington, a agenda conservadora de Putin ganha cada vez mais adeptos no mundo ocidental. Olavo de Carvalho foi assertivo ao publicar, em setembro de 2013, uma pequena nota sobre o líder russo. ‘Vladimir Putin parece que descobriu a fórmula do sucesso: a esquerda internacional o aplaude porque é anti-americano, a direita porque vê nele a esperança de um renascimento espiritual do mundo. Ele me parece muito mais inteligente do que seu mestre Duguin…’ Carvalho finaliza com uma dúvida: ‘Aonde isso vai dar, ninguém sabe.’ Pela primeira vez tenho de concordar com ele.”
Além de apoiar os opositores sírios (que são muçulmanos radicais que matam cristãos) e apoiar o papa em suas posturas anticapitalistas e ambientalistas, agora Johnny também apoia Olavo de Carvalho.
Apenas para dissipar essa demasiada fé comunista de Johnny em Olavo, é preciso esclarecer que o entendimento do Olavo está equivocado. Totalmente diferente do que Olavo disse, quando os líderes cristãos ortodoxos da Rússia realizaram um encontro pró-vida e pró-família internacional em Moscou, inclusive no Kremlin, a esquerda internacional não aplaudiu Putin. Organizações esquerdistas e homossexuais conseguiram pressionar o governo dos EUA a proibir grupos cristãos e conservadores americanos de participarem. A esquerda não aplaudiu. A esquerda atacou.
Esses mesmos grupos esquerdistas e homossexuais pediram ao Departamento de Estado dos EUA que investigasse todos os americanos que participaram desse encontro pró-família em Moscou.
Não só a esquerda internacional ficou descontente com esse encontro, mas os neocons americanos — que são erroneamente considerados como conservadores — também atacaram o evento.
Como o próprio comunista Johnny demonstra, a esquerda internacional está descontente com Putin. Esse descontentamento esquerdista vem crescendo desde que Putin aprovou uma lei que proíbe propaganda homossexual para crianças em 2013. Desde então, a mídia esquerdista internacional começou a tratar essa proibição russa como se fosse um genocídio contra os homossexuais.
Quem não está descontente com Putin são líderes evangélicos que enxergam além da ideologia. Franklin Graham, filho do famoso evangelista Billy Graham, aplaudiu e louvou não só a atitude de Putin de proteger as crianças russas contra a propaganda homossexual, mas também de apoiar o presidente sírio que tem protegido os cristãos. Graham escreveu uma matéria de capa na revista Decision, intitulada “A controvérsia olímpica de Putin.”
Se Graham é esquerdista, então Olavo e Johnny têm uma razão legítima para acusar: a esquerda aplaudiu Putin. Mas o fato é outro: a verdadeira esquerda internacional não aplaudiu Putin.
De acordo com os exageros de Olavo, Alexander Dugin é o maior conservador ou líder na Rússia. Contudo, Dugin não estava no maior encontro pró-vida e pró-família internacional em Moscouno ano passado. Eu estava nessa reunião e não vi nenhum palestrante ou participante com o nome de Dugin.
Eu estava no encontro conservador mais importante da Rússia, com muitos conservadores católicos, protestantes e judeus internacionais, e não havia ali nenhum Dugin, que é um admirador de René Guénon, um católico francês que se convertera ao islamismo esotérico. Outro admirador de Guénon é o próprio Olavo, que traduziu para o português um dos livros de Guénon. Olavo fundou no Brasil a primeira tariqa, um centro islâmico esotérico. Ainda que Olavo pareça hoje rejeitar tais experiências das trevas, muitos de seus artigos atuais louvam e recomendam Guénon.
Em minha opinião cristã, louvar e recomendar o bruxo Guénon é perigoso. A escritora conservadora Nancy Pearcey rotula Guénon como um promotor da Nova Era.
Mesmo assim, na internet brasileira, Olavo tem sido simultaneamente o maior propagandista de Dugin e Guenon.
Olavo parece estar confuso com suas questões sobre Dugin e Guénon. E Johnny, como pastor evangélico comunista, parece mais confuso ainda ao atacar Putin e louvar o Papa Francisco, a revolução cubana e o Olavo.
Apesar dessas confusões, Johnny e outros protestantes socialistas brasileiros são entrevistados pela mídia evangélica americana, que parece evitar os evangélicos conservadores do Brasil. Até mesmo o ChristianPost já entrevistou o Johnny como se esse comunista brasileiro fosse uma referência melhor do que evangélicos conservadores do Brasil.
Na opinião de Johnny, os pastores evangélicos podem seguir o Papa Francisco, Cuba e até Olavo. Mas o que eles não podem fazer é dar atenção ao Putin.
É uma salada tão confusa que poderíamos pensar que Johnny anda usando maconha. Se ele usa, não sei. Mas como todo socialista ocidental, Johnny já deu sua opinião sobre o assunto. No mesmo artigo do GospelMais em que ele me ataca, ele declarou categoricamente: “Sou a favor da legalização da maconha.”
Na minha opinião, o que Franklin Graham diz tem muito mais importância do que o que Johnny, o Papa Francisco, a Revolução Cubana e o Olavo dizem.
O que vai dar se seguirmos apenas os modelos aprovados por Johnny e não o “falso conservadorismo” de Putin?
Versão em inglês deste artigo: Is Vladimir Putin’s Conservatism False?
Fonte: www.juliosevero.com
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