Nossa geração de cristãos é herdeira de certos debates que se iniciaram
na igreja primitiva. Entre os mais ardentes, o embate entre os judaizantes, que
argumentavam que os não-judeus deveriam se converter ao judaísmo antes de
poderem receber o Espírito Santo e aliança com Jesus, contra os antinomianos,
que argumentavam que os judeus deveriam ao se converter, rejeitar o Velho
Testamento e os 10 mandamentos.
Cada qual com suas vertentes e variações. Tiago e Paulo representavam os moderados de cada facção, respectivamente, e Pedro atuou como moderador.
Cada qual com suas vertentes e variações. Tiago e Paulo representavam os moderados de cada facção, respectivamente, e Pedro atuou como moderador.
O antinomismo, que recebeu esse nome somente durante a reforma
protestante, é o
contrário extremo do legalismo. O primeiro busca acrescentar todo ritual litúrgico, dietas, festas, observações etc, como condições para a salvação, o segundo, por sua vez, foge de toda e qualquer responsabilidade moral de viver o evangelho, e reivindica sua salvação a partir de uma fé expressa abstratamente.
Fosse o filho pródigo um antinomista, a parábola terminaria com ele vivendo entre os porcos enquanto acreditava que o Pai o estava perdoando. Uma parábola sem regresso e arrependimento do filho, sem a busca humilde deste pelo Pai, sem sua confissão de pecados, ou melhor, sem nenhuma obra que possam ser reconhecida como fruto do Espírito Santo brotando em um coração pródigo.
contrário extremo do legalismo. O primeiro busca acrescentar todo ritual litúrgico, dietas, festas, observações etc, como condições para a salvação, o segundo, por sua vez, foge de toda e qualquer responsabilidade moral de viver o evangelho, e reivindica sua salvação a partir de uma fé expressa abstratamente.
Fosse o filho pródigo um antinomista, a parábola terminaria com ele vivendo entre os porcos enquanto acreditava que o Pai o estava perdoando. Uma parábola sem regresso e arrependimento do filho, sem a busca humilde deste pelo Pai, sem sua confissão de pecados, ou melhor, sem nenhuma obra que possam ser reconhecida como fruto do Espírito Santo brotando em um coração pródigo.
Os neoantinomianos cujo expoentes são encontrados nos teólogos liberais
que influenciam parte da igreja em nossos dias com uma atrativa mensagem sobre
a "graça", secretamente negam a autoridade do Antigo Testamento e
acusam as Escrituras de fraude, em seus ensinos sutilmente imputam aos
apóstolos obscuridade no entendimento dos ensinos de Jesus, abertamente
distorcem as palavras de Paulo e ousadamente criam toda uma nova religião em
volta de uma personalidade fictícia, que desejam eles, seja Jesus.
Dai a razão
de todos eles projetarem no líder Hindu Mahatma Gandhi uma personificação
histórica do que houvera sido Jesus. Estes por relativizarem o certo e o
errado, centralizam a justificação de seus pecados em uma projeção daquilo que
desejam, fosse Jesus Cristo, e por consequência, em si mesmos, em seus egos. E
por se tornarem juízes de si mesmos, como disse Paulo, sempre são por si mesmos
absolvidos. Acreditando que estão na graça, não passam de moralmente
irresponsáveis.
Os antinomianos dizem que são salvos pela graça quando vivem uma vida
no pecado, o que não importa muito para eles, desde que acreditem que são
salvos. A graça nunca pode ser desvinculada da responsabilidade moral, mesmo
que Jesus tenha pago por nossos pecados na cruz, nos outorgando sua graça, Ele
não nos ausenta de nossa responsabilidade moral diante de Deus e dos homens.
Os neoantinomianos se tornaram tão sectários que chegam a acreditar que
todas as igrejas são anticristãs e que quando alguém se torna membro de
qualquer igreja, o faz comprometendo sua a fé. Seus discursos baseiam-se sempre
em opor Jesus e as Igrejas e se caracterizam por formar 95% de seus neófitos de
gente com experiencias congregacionais ruins.
A teologia antinomianista tem a sua raiz na negação da autoridade do
Velho Testamento, que seguindo seu caminho ideológico natural se desenvolveu
para a negação da lei moral, e logo para a crença na falibilidade das
Escrituras e finalmente para a relativização do pecado. Qualquer esforço no
intuito de combater o antinomianismo deve ter como prioridade atacar-lhe a
raiz, ou seja, apologeticamente expor a autoridade do Antigo Testamento para a
igreja. Essa é minha intenção nas linhas abaixo escritas, a começar por Jesus,
a última figura Bíblica ainda respeitada pelos antinomianistas.
Que Jesus é a figura central da nossa fé, estamos todos de acordo, mas
do ponto de vista do leitor da Bíblia qual a centralidade dada aos ensinos de
Jesus e suas citações do Antigo Testamento? Quais os livros da Bíblia que Jesus
citou e destes qual o livro mais citado?
Jesus tirou todos os seus ensinos do Antigo Testamento, quem pensa ao
contrário precisa ler a Bíblia com mais atenção. Os Evangelhos testemunham que
Jesus, desde sua infância, debatia sobre o Antigo Testamento com os doutores.
Jesus citou 49 versos de 24 diferentes livros diferentes do Antigo Testamento,
não estou contando as repetições nos evangelhos sinópticos, o que chegaria à 84
citações. Desses 49 versos que Jesus citou, há alguns em particular que ele
citou mais do que quaisquer outros, os Dez Mandamentos que ele citou em quatro
ocasiões distintas:
Mateus 5:21 - Êxodo 20:13 “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
matarás; e, Quem matar será réu de juízo.”
Mateus 5:27 - Êxodo 20:14 “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás.”
Mateus 15:04 e Marcos 07:10 - Êxodo 20:12 , Dt 05:16 “Honra a teu pai e
a tua mãe; e, quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá.”
Mateus 19:19 e Marcos 10:19 e Lucas 18:20 - Êxodo 20:12-16 , Dt 5:16-20
“Sabes os mandamentos: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás
falso testemunho; a ninguém defraudarás; honra a teu pai e a tua mãe.”
Jesus citou outros 3 versículos em ocasiões diferentes além dos Dez
Mandamentos:
Oséias 06:06 “Pois misericórdia quero, e não sacrifícios; e o
conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” em Mateus 9:13 e Mateus 12:07
e seu paralelo em Isaísas 29:13 uma vez, em dois evangelhos.
Levítico 19:18 “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do
teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” em Mateus
05:43 , Mateus 22:39 e com uma repetição em Marcos 12:31.
As epístolas dos apóstolos são cartas de homens cheios do Espírito
Santo que liam o Antigo Testamento e reconheciam nele a inspiração divina. Os
apóstolos citaram 34 livros do Antigo Testamento em suas cartas e somente Paulo
cita versos do Antigo Testamento por 268 vezes, sem contar as inferências e
referencias indiretas, observem que não estou contando as referencias na Carta
aos Hebreus.
Se Timóteo morreu no ano 97 d.C., e assumindo por evidencias indiretas
que Paulo não foi executado em 64 d.C. mas foi libertado da prisão algum tempo
antes, e visitou lugares como Creta, Macedônia, Nicópolis na Acaia, Trôade,
Mileto e Corinto, e talvez até possa ter visitado a Espanha, e depois voltou a
ser preso, julgado e finalmente executado em 67 d.C. e durante suas viagens ele
escreveu duas de suas cartas "pastorais" a primeira carta à Timóteo e
a carta à Tito, pergunto: De que “sagradas letras” Paulo se refere a Timóteo,
observando também que o conjunto de livros o qual chamamos Novo Testamento
foram reunidos somente no ano 323 d.C. pelo concílio de Niceia, a que
Escrituras Paulo se refere senão ao Antigo Testamento?
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado,
sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes as sagradas
letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus
seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” II Timóteo
3:10-17
Pessoas tendem a assumir que a "escritura" de que fala esta
passagem incluía tanto o Antigo e o Novo Testamento quando na realidade, não
havia nenhum Novo Testamento quando esta declaração foi feita.
Certamente que não há dúvida alguma sobre a inspiração Divina do Novo
Testamento, porém duvido muito que qualquer dos apóstolos consideravam suas
cartas pessoais, as quais escreveram para determinadas pessoas e grupos, parte
do canon bíblico ao lado do Antigo Testamento. Imaginava Paulo que estivesse
aumentando um livro na Bíblia quando escrevia uma carta ao seu amigo Filemon?
Isso é improvável.
Do começo ao fim, os autores do Novo Testamento atribuem autoridade
absoluta as Escrituras do Antigo Testamento. Em nenhum lugar encontramos uma
tendência a questionar, discutir, ou repudiar a verdade das antigas Escrituras.
Passagens por vezes usadas como argumento de que Jesus ou seus apóstolos
desafiavam a autoridade do Antigo Testamento, quando cuidadosamente examinadas,
vem a reforçar, em vez de prejudicar, a evidência de que eles aceitavam o
Antigo Testamento como a Palavra de Deus.
Por duas décadas a igreja primitiva se susteve apenas com o Antigo
Testamento e a tradição oral transmitidas pelos apóstolos até que as primeiras
epístolas começaram a circular por volta do ano 51 d.C. Os evangelhos, escritos
a partir do ano 70 d.C., endereçados em principio à particulares, ainda não
circulavam. O primeira carta apostólica, provavelmente I Tessalonicenses
escrita em 51 d.C. ou, possivelmente, Gálatas, que pode te sido escrita em 50
d.C., há alguma controvérsia sobre a data de Gálatas, e os últimos livros
escritos foram, provavelmente, as epístolas de João e Apocalipse escritos no
fim do primeiro século levaram alguns anos para se espalharem e permaneciam na
região geográfica endereçada, e até a primeira metade do século II somente a
“Lei”, (Pentateuco) os ”Profetas”, e o “Senhor” (evangelho) estavam
disponíveis.
Até a metade do primeiro século não havia um Evangelho escrito,
somente a tradição oral recebida dos apóstolos. Irenaeus, 130 d.C. - 200 d.C.,
Bispo de Lyon, por sinal um grande apologista, usava apenas o Antigo Testamento
e a tradição oral passada pelos apóstolos para pregar e defender a fé até que
lhe foi chegado, já no final de sua vida, copias escritas dos evangelhos.
Maior testemunho para a autoridade do Antigo Testamento não poderia vir
senão do próprio Jesus quando disse em João 5:39:
“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são
elas que dão testemunho de mim”
A pergunta ainda é a mesma, se não havia todavia um Novo Testamento que
veio a ser canonizado senão séculos mais tarde, a quais Escrituras Jesus se
refere como portadora da “vida eterna” e “testemunha” dEle?
A conclusão que chego é que se o fundamento da nossa fé, segundo as
palavras de Paulo em sua carta aos Efésios 2:20, é fundamentado nos apóstolos e
nos profetas:
"Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de
que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina"
E, aceitando o fato de que Moisés era um profeta, e que profetizou
sobre Jesus em Deuteronômio 18:15:
"O Senhor teu Deus te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos,
um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás"
Não vejo nenhuma razão para a rejeição dos escritos de Moisés ou do
Velho Testamento. Sobre a prática dos ritos culturais judaicos a decisão já foi
tomada pelo concílio de Jerusalém no ano 50 d.C., que foi claro sobre o tema
não deixando mais o que debater, além do mais o concílio não julgava a
inspiração das Escrituras, nem o valor da lei moral de Deus, mas as
responsabilidades de Israel como nação, que nesse aspecto, são diferentes da
responsabilidade da multicultural igreja gentílica.
Existe uma explícita diferença entre desejar que as igrejas sigam com
retidão o evangelho, e desejar que as igrejas deixem de existir. Os
apologistas, e aqui eu humildemente me incluo, se encontram na primeira opção.
PS. Dos livros do Antigo Testamento, somente estes cinco nunca são
citados no Novo Testamento: Esdras, Neemias, Ester, Eclesiastes, Cântico dos
Cânticos.
***
Meu irmão
ResponderExcluirArtigo muito atual e relevante para a Igreja Brasileira!
Deus o abençoe neste ministério!!
Em Cristo!
Eliezer Freitas