Durante a mais recente fase de atrito entre a Rússia e Ocidente, foi publicada pela primeira vez em língua russa “O Filho Vermelho” (Superman – Entre a Foice e o Martelo, na publicação em português), uma versão alternativa da lendária história em quadrinhos da DC Comics, na qual o Super-Homem é um fiel devoto da utopia comunista.
O livro, na verdade, é uma sátira da Guerra Fria, período de conflito entre Estados Unidos e União Soviética, que colocou o mundo mais próximo que nunca do apocalipse nuclear.
Na versão alternativa, a espaçonave do super-herói mais famoso da história não caiu no meio dos Estados Unidos, como na história original, mas, ironicamente, ao lado de uma fazenda coletiva na Ucrânia. Também, ao invés do S, que quer dizer Esperança na língua do planeta Krypton, o herói ostenta no peito uma foice e martelo, símbolo do comunismo e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – uma dentre tantas inovações promovidas pelo roteirista Mark Milllar.
Há diversas outras surpresas na história, como o fato de que o amor platônico, na versão original, do herói, Lois Lane, é casada com o Doutor Lex Luthor, que, a mando do presidente dos EUA, entra numa jornada obsessiva de caça à mais nova arma soviética – o Super-Homem.
“Está sendo um grande êxito de vendas, embora para mim não seja uma surpresa, já que os leitores de histórias em quadrinhos em nosso país estão há anos esperando sua publicação em russo”, disse Aleksandr Zhikarentsev à Agência de Notícias Efe, diretor da editora Ázbuka, responsável pela publicação dos quadrinhos.
“Uma das razões que nos encorajou a publicar a história é que é muito respeitosa com a Rússia. Millard não se limitou à Balalaica e aos ursos polares vagabundeando pelas ruas. Além disso, não é só uma aventura, é uma história com argumento”, acrescentou.
O comics tem 140 páginas, bem mais do que o habitual no gênero, e cativou russos de todas as idades. As história em quadrinhos vivem uma explosão no país, processo que foi iniciado com a Perestroika de Gorbatchev e acelerado com a queda do bloco soviético.
“Durante a União Soviética, ninguém lia Superman, mas havia gente que o conhecia [por ouvir falar]. A Rússia vive agora uma mudança geracional e os novos leitores buscam um gênero alternativo à literatura clássica, já que a história em quadrinhos não é mais exclusivamente infantil”, apontou o editor.
A ideia da publicação vem do projeto Elseworlds da DC Comics, produtora do Superman, no qual pequenas mudanças de personalidade – e no meio – dos super-heróis afetam completamente suas histórias. A versão alternativa do Super-Homem, em particular, mantém-se fiel à original em três questões: ele continua irredutível, com os mesmo poderes e com a chata invencibilidade de sempre. Entretanto, as semelhanças param por ai.
O enredo
As divergências na história começam logo no início: o Superman, como já dito, não aterriza nos Estados Unidos, mas sim União Soviética – e durante o auge da Guerra Fria. Também, como se pode perceber através da imagem, ele, ao invés de um patriota yankee, se torna um ferrenho comunista e tem sua visão de mundo completamente modificada.
Na história original, o Superman sempre interveio nos assuntos da humanidade respeitando a individualidade das pessoas e acreditando que os seres humanos merecem ter o livre-arbítrio mantido. Entretanto, a versão soviética do herói acredita que liberdades individuais são bobagens e faz uso de seus poderes, após assumir o controle do regime comunista, para empurrar quase todas as nações do mundo ao comunismo.
No fim das contas, o único país que ainda consegue resistir ao comunismo é os Estados Unidos, comandado – adivinha por quem? – pelo Doutor Lex Luthor.
A arte
O trabalho realizado com os desenhos é fantástico e realmente ajudam você a dissociar o herói dos Estados Unidos e associá-lo com os comunistas, o que é imprescindível para o desenvolvimento da história.
Na verdade, a construção alternativa (e a evolução do personagem) é mais completa que a original, pois a figura – quase – onipotente e sobrehumana do Super-Homem é mais humana e, por isso, se encaixa melhor na colocação de ditador soviético do que na posição de herói americano, já que seus poderes são usados, em sua totalidade, visando o interesse próprio e não o abstrato bem da humanidade.
Alem disso, é louvável o trabalho feito pelos artistas na adaptação das inovações tecnológicas: ao ler a história, por conta da ambientação estética ao estilo soviético, tem-se a impressão que os avanços modernos foram quase todos criados por cientistas russos, colocando a influência ocidental em segundo plano.
A adaptação
A escrita no Filho Vermelho se concentra muito menos nas ações heróicas do Superman e, paradoxalmente, apesar de ser visto como um deus pelos soviéticos, mais nas ações comuns do herói. Há um foco muito maior nas questões que a maioria das pessoas têm perguntado sobre o Super-Homem: como ele é na vida privada, quando não está preso pelo nível agudo de moralismo esperado do herói numero 1 dos EUA?
A adaptação é tão boa no, agora, anti-herói que você não chega a torcer por ele. Seus métodos cruéis de controle da “dissidência” – como tortura e lavagem cerebral – nos impedem de sentir qualquer empatia. Ainda, seus poderes – e sua imagem – são tão bem usados para a promoção dos valores soviéticos, que a ideia do Super-Homem como herói comunista deixa de parecer absurda a cada linha. Ao fim, esquecemo-nos de Clark Kent e tudo que resta na mente é o camarada Super-Homem.
Via: http://spotniks.com/
Jesus e deus não existem
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