Uma das características mais marcantes de uma política conservadora é a clara delimitação entre o papel do indivíduo e do Estado. Este deve ter sua atuação restringida, sendo que sua intromissão deve ser considerada uma exceção, devendo ocorrer apenas naqueles momentos e áreas estritamente necessárias para a manutenção da ordem e da segurança das pessoas.
Essa perspectiva em relação ao governo, porém, está cada vez mais distante da forma como as pessoas o enxergam. O Estado se tornou, cada vez mais, essencial na visão de qualquer cidadão comum, que esperar que ele se afaste da vida do indivíduo parece que significa abandono, ao invés de liberdade.
O homem médio moderno não consegue mais enxergar sua vida como responsabilidade apenas sua. Ele acredita que é o governo que deve, por uma questão de direito natural, prover o seu sustento, sua educação, sua saúde, sua segurança e tantas outras necessidades, mesmo aquelas que não tão básicas.
O cidadão da sociedade contemporânea não enxerga mais sua vida sem a condução pelas mãos estatais. Seus planos, sua rotina e até sua felicidade dependem da concessão do governo. E ele acredita, sinceramente, que as coisas são assim por natureza, que é esse mesmo o papel do Estado e que os benefícios são, simplesmente, seu direito.
Isso significa claramente a vitória do pensamento progressista, principalmente no campo cultural. Se economicamente o socialismo não vingou plenamente e se o capitalismo ainda parece ser o único sistema econômico viável, culturalmente foi a esquerda que impôs seu pensamento, o qual foi absorvido plenamente pela sociedade.
Essa vitória cultural praticamente extinguiu da comunidade ocidental a possibilidade de afastamento do Estado das questões privadas. O estatismo esquerdista tomou a mentalidade das pessoas de tal maneira que falar em responsabilidade individual e Estado mínimo soa como despreocupação com as questões sociais, ódio aos pobres e falta de amor com os necessitados.
De fato, a esquerda monopolizou a retórica da compaixão e vendeu a ideia de que seus projetos estatizantes são fruto de sua preocupação com os excluídos, com os marginalizados. Parece que ela é composta pelos mocinhos da estória, enquanto conservadores e liberais são os elitistas, preocupados apenas com a manutenção de seus próprios privilégios.
E a vitória cultural esquerdista é tão vasta que mesmo os conservadores e liberais de hoje não conseguem se desvencilhar do discurso populista de distribuição de benefícios e do Estado paternal. Fazem isso não apenas porque não fazer significa derrota política certa, mas também porque eles mesmos já se impregnaram dessa visão segundo a qual o Estado existe para caminhar lado a lado com as pessoas, mesmo em seus projetos pessoais.
A retórica do governo compassivo, paternal e amigo foi absorvida por quase todos os políticos e não se ouve mais nada, seja entre esquerdistas e mesmo entre conservadores, algo diferente disso.
No final das contas, a caridade, que é uma característica do indivíduo, foi transferida para o Estado. A inversão ficou evidente: se um dia se imaginou que o papel do governo é se intrometer o mínimo possível na vida do cidadão, deixando que este conquiste suas coisas e atuando apenas quando ele precisar de proteção contra abusos externos, atualmente é o Estado que provê tudo, inclusive a caridade, enquanto o indivíduo o observa, agindo apenas como auxiliar no trabalho do Grande Irmão.
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