Por Augusto Brayner
Há algo em comum entre o primeiro homem, Adão,
e qualquer outro da presente era. Não importa o lugar nem a época, desde que o
homem caiu no jardim do Éden ele sempre tenta se esquivar de suas
responsabilidades(Gn.3:12,13). Desde cedo quando os pais flagram uma atitude
desobediente dos filhos, estes geralmente buscam se explicar com motivações que
os fazem inocentes. Toda estratégia parece ser válida para se ver livre das
reprimendas. As pessoas crescem com a tendência de, sempre que confrontadas com
o erro, ter como a melhor saída procurar algo que lhe sirva de "bode
expiatório". Afinal, não há nada mais cômodo do que repassar a culpa adiante.
Esse sentimento é tão comum que nos dias atuais
deu origem a uma grande militância. Existem pessoas que doam suas vidas com
vistas a fazer uma releitura de situações onde claramente há um culpado pessoal
que deveria ser responsabilizado. Contudo, para esses militantes de causas pouco
nobres o que os acusados precisam ser entendidos em seu contexto. Inúmeros são
os casos, como o do jovem que foi arrastado no Rio de Janeiro ao longo de vários
quilômetros por ladrões em fuga desesperada, que encontraram nos grupos dos
defensores dos direitos humanos (estão mais para “direitos dos manos”) aliados
fieis para apresentar desculpas para uma atitude incompreensível.
A estratégia é
sempre colocar a culpa nos problemas sociais do país, no sistema econômico, nos
empresários, na Igreja, ou em qualquer coisa, e tem que ser uma coisa (algo
impessoal), que não diga respeito ao próprio acusado. Este tipo de argumento
leva a conclusão que não existem responsáveis pessoais, pois a culpa é externa e
foge ao controle do acusado que agora passa a ser uma vítima da situação. No
final das contas, o erro reside na vítima que por algum infortúnio estava na
hora errada e no lugar errado.
Quando os olhos se voltam para Escritura no
intuito de entender melhor o que a mente do Senhor pensa sobre culpa, fica claro
que Ele não tem o culpado por inocente (Nm. 1:3). De fato, determinadas
circunstâncias podem contribuir para que alguém cometa um delito, mas, diante do
Deus da Bíblia, quem erra deve ser responsabilizado. O alerta dado a Adão se
cumpriria "pois no dia que comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e
do mal, certamente morrerás" (Gn.2:17). Adão morreria, não outro! Todavia, o
Senhor sendo infinitamente misericordioso, desde a eternidade, decidiu salvar
alguns desses culpados.
Entretanto, não se utilizando de estratégias ímpias como
as citadas no início deste texto. Deus providenciaria alguém que pudesse
satisfazer a sua Santa Justiça. A Sua lei diz que o pecado leva a morte,
portanto, alguém teria que morrer. O Senhor, ainda prefigurando o que ocorreria
mais adiante na revelação, institui sacrifícios de animais que serviriam de
substitutos para a morte dos verdadeiros culpados. O animal seria morto para
satisfazer a justiça do Justo Juiz. Entretanto, o sacrifício do animal que em
algumas ocasiões era efetuado no meio da congregação (Ex.12), em outras
oportunidades era realizado fora. Na cerimônia do dia de purificação, após o
ritual da transferência dos pecados, era lançado o animal para longe da
congregação (Lv.16).
A culpa de todo israelita era posta sobre e o bode que
carregava para longe da comunidade as iniquidades, prosseguindo para morrer
sozinho no deserto. Tal instituição divina, como se pode perceber, não invalida
a lei, nem muito menos declara o culpado como inocente sem que a pena seja
aplicada em alguém, inicialmente no animal que apontava para um ser pessoal e
humano, Cristo.
Portanto, há uma imensa diferença entre desviar
a culpa para outrem de uma forma que ninguém seja penalizado, e aplicar a lei,
mesmo que a um substituto. No primeiro caso o final é a injustiça e a
conivência, no segundo é justificação e cumprimento da lei. Deus, em Cristo,
cumpriu a lei no lugar do seu povo. Alguns ímpios que mereciam a morte eterna
foram declarados justos pela justiça do perfeito cordeiro de Deus (Jo.1). A lei
foi plenamente aplicada em Jesus.
Toda a ira Santa de Deus foi derramada sobre
Cristo para que o que Nele crer não pereça, como perecia o bode expiatório no
deserto, mas tem a vida eterna (Jo.3:16). Percebe-se, então, que buscar
desculpas externas para invalidar a lei é estratégia ímpia e que apenas reflete
o estado espiritual do presente século, assim como no Éden. Diante de Deus a
única forma de não receber sobre si o castigo da lei é tendo fé no substituto
que morreu no lugar dos seus, pois sua justiça é imputada a todo que em sua obra
manifestar fé.
***
Augusto Brayner é Pastor na Igreja
Presbiteriana do Brasil e este texto foi sua redação apresentada ao Mestrado em
Divindade com Ênfase em Pregação da Universidade Presbiteriana Mackenzie
(CPAJ-SP).
De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.
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