Milhares de pessoas de várias nacionalidades no mundo todo estarão formando filas enormes hoje para comprar o novo iPhone 6, da Apple. Só que os brasileiros precisarão levar o dobro da quantia que os americanos levarão na carteira, para comprar o mesmo produto. Em nosso país, a novidade chegará bem mais cara do que no resto do mundo:
O que isso significa? Por que é assim? Devemos dar importância a isso, ou é coisa que interessa apenas aos mais ricos da elite, que querem usufruir do luxo capitalista?
Em primeiro lugar, entendo a crítica dos intelectuais de esquerda sobre o consumismo descontrolado da modernidade, e cheguei a escrever um texto sobre a seita da Apple. Dito isso, e rejeitando alguns excessos, é claro que todos têm direito de desejar comprar o que bem entendem, e se isso lhes traz a sensação de felicidade, ainda que efêmera, quem somos nós para condená-los? Até porque muitos desses intelectuais criticam esse consumismo com seus próprios iPhones ou bolsas da Louis Vitton.
Mas óbvio que o iPhone não é apenas isso. Ele é lazer legítimo, comodidade, e também produtividade. É um aparelho fantástico que reúne inúmeros aplicativos úteis. Eu, por exemplo, aposentei o GPS do carro com o Waze no telefone. Câmeras fotográficas foram abandonadas. Gravadores digitais idem. Tem tudo nele, e muito mais. Torna nossa vida mais prática, aumenta a eficiência de muita gente trabalhadora.
Portanto, já temos aqui a primeira enorme desvantagem para o Brasil, que todos deveriam levar em conta, não apenas os viciados em Apple: insumo tecnológico serve para aumentar a produtividade de nossa economia, e quanto mais caro for, menos eficiente seremos. O que acontece com o iPhone é replicado para todos os demais aparelhos eletrônicos. Pagamos mais caro por tudo, e isso prejudica nossa produtividade.
Além disso, comparar o preço de produtos iguais ou similares no mundo todo serve para se ter uma ideia do valor de nossa moeda, se está cara ou barata. A revista britânica The Economist todo ano divulga o Índice BigMac, que compara o preço do sanduíche do McDonald’s no mundo. Existem diversos fatores que devem ser levados em conta, mas sendo uma commodity, isso dá uma boa noção do valor relativo das moedas.
No caso dos produtos eletrônicos, há um agravante: não é apenas o real valorizado artificialmente pelas intervenções do Banco Central que torna o iPhone tão caro para os brasileiros, mas a carga tributária também. Nossos impostos são absurdamente altos para importar esses produtos. O consumidor de classe média ou alta paga o dobro do que paga o americano pelo mesmo produto, sendo que aquele é cinco vezes mais rico na média. E faz isso para financiar o governo!
Pergunto: vale a pena? Compensa? Será que nosso governo é mais eficiente que o americano, para ter que arrecadar mais impostos? Será que o retorno em nossos serviços públicos é tão espetacular assim? Nossas estradas são melhores do que as americanas? Nosso metrô? Nossos aeroportos? Isso sem levar em conta que os Estados Unidos agem como a polícia do mundo ainda por cima…
Por fim, há um último aspecto ignorado por aqueles esquerdistas que não dão importância ao preço mais caro do iPhone, como se fosse algo que prejudicasse apenas os mais ricos: o recurso extra destinado ao mesmo produto deixa de ir para outros destinos. É aquilo que não se vê, como falava Bastiat.
Se o consumidor de classe alta pudesse pagar os mesmos R$ 1.672 que os americanos pagam pelo novo iPhone, em vez de R$ 3.199, ele economizaria R$ 1.527. Para onde iria tal economia? Ora, cada um tem uma resposta, pois é subjetiva. Alguns comprariam mais produtos, estimulando o comércio. Outros poderiam contratar uma diarista por mais um dia. Outros poupariam, o que seria mais oferta de capital para investimentos, pressionando o juro para baixo.
Eis o que esses críticos de esquerda não levam em conta: o preço mais caro pago pelo iPhone não pune somente os “ricos da elite”, mas toda a economia brasileira. Favorece apenas os consumidores de impostos, os governantes e burocratas, aquela categoria mais rejeitada pela população em geral.
Provavelmente, o consumidor paga mais caro para financiar a corrupção do governo. Será que é uma boa troca? Ou será que faria mais sentido cada um ter o direito de escolher o que fazer com o recurso extra?
Rodrigo Constantino
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