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sexta-feira, 8 de junho de 2018

Genocídio Armênio: Violenta Repressão da Turquia

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O genocídio cristão na Turquia otomana durou 10 anos, de 1913 a 1923, visando armênios, gregos, assírios e demais cristãos. Resultou no aniquilamento de cerca de três milhões de pessoas. Lamentavelmente a agressão turca contra os armênios remanescentes continua.

Segundo o mito turco, na verdade foram os "traiçoeiros" armênios que perseguiam os turcos e os turcos agiam em legítima defesa para se livrarem dos armênios assassinos. Uma alegação turca amplamente difundida: "eles mereceram".

As mentiras e a propaganda estatal, que responsabilizam as vítimas pelo seu próprio aniquilamento, são o que permitem a incessante perseguição turca em curso contra os armênios remanescentes do país, incluindo a transformação de suas igrejas em mesquitas e a escavação de túmulos e igrejas armênios por caçadores de tesouros atrás de ouro.


O ato público em memória ao Genocídio Armênio que ocorre anualmente, organizado pelo seção de Istambul da Associação de Direitos Humanos da Turquia (IHD) e pelo Movimento Popular Antirracista Europeu (EGAM), programado para 24 de abril, que ocorria todos os anos desde 2005, foi proibido pela polícia, que confiscou faixas e cartazes sobre o genocídio e realizou checagem de antecedentes criminais dos participantes. Três ativistas dos direitos humanos foram detidos e em seguida liberados.

Em entrevista exclusiva concedida ao Gatestone Institute, Ayşe Günaysu, ativista da Comissão Contra o Racismo e Discriminação da IHD, disse que "a caminho da delegacia, os detidos foram obrigados a ouvir músicas racistas com palavras hostis sobre os armênios".

A solenidade que ocorre todos os anos lembra o cerco, prisão e massacre de mais de 200 intelectuais e líderes comunitários armênios em Istambul pelas autoridades otomanas em 24 de abril de 1915, culminando no genocídio armênio. As vítimas foram levadas para uma prisão que hoje abriga o Museu de Arte Islâmica Turca (Türk İslam Eserleri Müzesi). Os armênios foram logo levados para a estação ferroviária de Haydarpaşa de onde foram transportados para a Anatólia onde foram exterminados. Segundo Günaysu:

"Durante nossas homenagens mostramos as cenas do crime. Nós mostramos o Museu de Arte Islâmica Turca e a estação ferroviária de Haydarpaşa , os locais do crime. Nós lemos em voz alta e registramos os nomes de mais de 2 mil cidades, municípios e aldeias armênias destruídas durante o genocídio. Nós escrevemos seus nomes e os exibimos em placas e cartazes. De modo que, não só homenageamos os mortos, como também compartilhamos com o povo da Turquia a verdade sobre o genocídio".

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Desde 2010, a IHD se reúne na estação ferroviária de Haydarpaşa para a homenagem. Neste ano se planejava realizar a homenagem na praça Sultanahmet. Günaysu ressaltou:

"Nós não pedimos a permissão do gabinete do governador de Istambul para lembrar o genocídio. Apenas telefonamos para informar a hora e o local do evento. Nossas faixas dizem: 'Genocídio! Reconheçam! Peçam Perdão! Indenizem!' em inglês e turco. A polícia nos avisou que poderíamos realizar o evento com a condição de que não usássemos a palavra 'genocídio'. 

Nós dissemos que não aceitaríamos a autocensura e que nos concentraríamos na praça Sultanahmet para homenagear as vítimas do genocídio. Também havíamos preparado um comunicado à imprensa em memória do genocídio, mas não pudemos lê-lo nem distribuí-lo à imprensa devido à intervenção policial. A polícia também confiscou nossos cartazes e as fotos dos intelectuais armênios presos em 24 de abril de 1915."

O comunicado à imprensa da IHD, que a polícia impediu de ser distribuído, dizia em parte o seguinte:

"Na raiz de todos os males deste país está o genocídio perpetrado contra os povos cristãos da Ásia Menor e do Norte da Mesopotâmia, contra armênios, assírios e gregos.

Agora, mais uma vez mostramos reverência à memória das vítimas armênias, assírias/siríacas e gregas vítimas do genocídio. E nós, descendentes dos perpetradores do genocídio, repetimos nosso sentimento de vergonha por não termos sido capazes de impedir a continuação do genocídio por meio da negação e de sucessivas ondas de destruição através das gerações."


Lamentavelmente a agressão turca contra os armênios remanescentes continua. Em 28 de dezembro de 2012, uma armênia de 85 anos chamada Maritsa Küçük foi espancada e esfaqueada até a morte em sua casa no bairro de Samatya, onde se encontra uma das maiores comunidades armênias de Istambul.

Günaysu disse que:

"em meio à intervenção policial e às detenções durante a homenagem às vítimas do genocídio em Sultanahmet, a filha de Küçük, Baydzar Midilli, gritou: 'minha mãe é uma vítima de genocídio, no entanto vocês ainda dizem que não há genocídio?!' Quando integrantes do departamento de polícia começaram a se aproximar dela, ao que tudo indica, para detê-la por protestar, Eren Keskin, advogada defensora dos direitos humanos, interferiu e disse que a mãe de Midilli foi assassinada por ser armênia. O chefe de polícia então impediu que os policiais a prendessem".

Em 24 de abril de 2011, 96º aniversário do genocídio, Sevag Balıkçı, armênio, prestando serviço militar obrigatório no exército turco, foi morto a tiros por um nacionalista turco. O assassino ainda não foi apresentado à justiça. 

Em meio à homenagem às vítimas realizada no mês passado, sete anos depois de seu assassinato, a família e os amigos de Balıkçı permaneceram diante de seu túmulo em Istambul para prestar homenagem a ele. Segundo Günaysu, os policiais disseram aos que estavam reunidos diante do túmulo que eles não podiam mencionar em seus discursos a palavra "genocídio":

"Havia muitos policiais armados no cemitério. Enquanto as pessoas oravam, os policiais estavam prontos a intervir. Dois ativistas pediram aos policiais que respeitassem os que oravam e que estavam de luto. Felizmente os policiais deram ouvidos aos pedidos e se afastaram um pouco da congregação."

O genocídio cristão na Turquia otomana durou 10 anos, de 1913 a 1923, visandoarmênios, gregos, assírios e demais cristãos. Resultou no aniquilamento de cerca de três milhões de pessoas. Embora tenha passado um século desde então, ainda é uma ferida aberta tanto para as vítimas quanto para seus descendentes. O jornal online Artı Gerçek informou recentemente que as ossadas das vítimas ainda estão visíveis em um lago na região leste da Turquia.


Civis armênios, escoltados por soldados otomanos, marcham em Harput a caminho da prisão próxima a Mezireh (hoje Elazig) em abril de 1915. (Imagem: Cruz Vermelha Americana/Wikimedia Commons)

Moradores daquela região chamavam o lago de "Gvalé Arminu" ("lago armênio") após o massacre de mais de mil homens, mulheres e crianças que aconteceu há 103 anos. Segundo o relato, somente duas crianças, escondidas pelos camponeses, sobreviveram. Até as ossadas que aparecem quando o lago seca no verão não produziram uma investigação pelo governo turco, que continua negando o genocídio e procura de forma agressiva silenciar aqueles que tentam se manifestar a respeito.

Em 24 de abril, a Agência Anadolu (AA) financiada pelo governo, publicou uma história com a seguinte manchete: "A Fonte da Renda dos Lobbies Armênios: A Indústria do Genocídio", alegando que a diáspora armênia e a república da Armênia fazem afirmações falsas sobre "a mentira do genocídio armênio" para obter ganhos financeiros.

Naquele mesmo dia, a AA publicou outra história: "os turcos se lembram de terem fugido da opressão armênia". Segundo o mito turco, na verdade foram os "traiçoeiros" armênios que perseguiam os turcos e os turcos agiam em legítima defesa para se livrarem dos armênios assassinos. Uma alegação turca amplamente difundida: "eles mereceram".

As mentiras e a propaganda estatal, que responsabilizam as vítimas pelo seu próprio aniquilamento, são o que permitem a incessante perseguição turca em curso contra os armênios remanescentes do país, incluindo a transformação de suas igrejas em mesquitas e a escavação de túmulos e igrejas armênios por caçadores de tesouros atrás de ouro.

O governo turco precisa acabar com isso.

Uzay Bulut é jornalista da Turquia e membro do grupo de notícias e políticas públicas do Haym Salomon Center. Ela está presentemente radicada em Washington D.C.

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