O pastor Silas Malafaia classificou a selfie feita pela jovem Murielle Facure, dentro de um avião, na última sexta-feira, como “preconceito religioso”. Em entrevista ao EXTRA, Malafaia voltou a comparar o episódio ao caso da torcedora do Grêmio Patrícia Moreira, acusada de injúria racial por promover insultos racistas contra o goleiro Aranha, do Santos, durante a Copa do Brasil. Com o mesmo tom enérgico utilizado em seus cultos e pregações na internet, Malafaia conversou com a reportagem por telefone.
— Selfie irônico uma ova! É preconceito religioso. Selfie irônico uma ova pra vocês. Selfie irônico, nada. A garota lá no Rio Grande do Sul, a imprensa devia botar assim: “Menina movida por emoção ofende com racismo”. Não. Mataram, crucificaram, arrebentaram. Agora, eu estava dentro do avião, pacificamente com a minha esposa, não estava discutindo nada com ninguém, não estava brigando com ninguém, a mulher levanta uma câmera, bota um papel pra me ridicularizar, fala meia dúzia de abobrinhas, e é selfie irônico. Quando eu falo uma coisa de gay eu sou homofóbico! Quando eles fazem da gente é selfie irônico! Isso é um absurdo — afirmou Malafaia, em comentário sobre a matéria publicada pelo EXTRA contando a história.
Quando questionado sobre qual atitude da jovem — a mensagem ou a publicação da foto — ele considerava intolerante, Malafaia acusou a imprensa de “defender gay”.
— O que é preconceito, minha filha? Vocês estão de brincadeira comigo. Que país é esse, que droga é essa que imprensa defende gay? Não é uma imprensa imparcial. Vocês estão aqui é pra perguntar o que que eu acho, o que que eu penso.
De acordo com Malafaia, desde que teve seu nome envolvido na mudança do programa de governo para a população LGBT da candidata à Presidência da República Marina Silva, as ameaças nas redes sociais aumentaram. Mesmo assim, ele não pretende fazer nenhum registro de ocorrência na polícia. As acusações a Murielle também não serão levadas à Justiça.
— Isso é coisa pra gay fazer. Gay é que quer cercear a liberdade do outro. Minha filha, eu provo. Ó! Quatro vezes eles tentaram me cassar no Conselho de Psicologia. Eles perderam. Tudo com factoide mentiroso. Quatro vezes me denunciaram no Ministério Público como homofóbico. Perderam na Justiça. Isso é uma vergonha. É o grupo mais intolerante da pós-modernidade. Isso é que é a verdade. Não suportam a crítica.
Sobre uma lei que proibisse a homossexualidade, semelhate a Uganda, na África, Malafaia se posicionou contra e afirma que sua luta é contra a “ideologia gay”, que em sua opinião, “quer destruir a família tradicional”.
— Estou discutindo no campo legal, democrático. É isso que eu sempre digo. Eu nunca discuti isso no campo religioso, minha filha. Porque no campo religioso é uma palavra só. Pecado. Acabou. Eu não discuto isso. Eu discuto é no campo sociológico. Perguntaram: “Pastor, se fizessem uma lei, igual tem lá em alguns países da África, pra proibir o homossexualismo (sic)”, eu falei: “Eu vou me levantar e dou um ‘não’ pra uma aberração dessa, porque nem Deus proíbe prática nenhuma”. Deus não proíbe. Eu, proibir alguém? Isso é coisa louca. Eu não estou aqui pra proibir prática sexual de ninguém. Eu estou pra discutir quem quer destroçar a família tradicional.
“Não é intolerância”
Após a entrevista, a assessoria de imprensa de Silas Malafaia enviou uma nota, informando quais os crimes a jovem teria cometido, segundo o advogado do pastor. “Preconceito, injúria, difamação, invasão de privacidade. E nem por isso vai processá-la”, diz o texto.
Para o especialista em Direito Constitucional e membro do Conselho Pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rodrigo Mascarenhas, o caso não pode ser enquadrado na Lei Caó (7.716/89), que prevê o crime de preconceito religioso.
— Não tem rigorosamente nada a ver com intolerância religiosa. Ela não chegou nem longe do que pode ser intolerâcia. A jovem usou apenas o direito dela de expressão do pensamento, garantido pela Constituição.
De acordo com a legislação, a prática de intolerância religiosa é definida pela prática, indução ou incitação a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena pode variar de um a três anos de reclusão e multa.
O presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), o Babalaô Ivanir dos Santos, também não partilha da opinião de Malafaia. Ele destacou que a jovem não mencionou a religião do pastor na mensagem e pediu apenas respeito.
— Ele pode dizer que se sente constrangido, mas ela não está associando a religiosidade dele a essa questão. Intolerância é perseguir, demonizar, incentivar ódio. Não é uma foto com sentido de ódio à religão dele. Neste caso, ela está expressando uma opinião e pedindo aquiescência dele, a acolhida dele, que é a obrigação de um religioso. Ela não o está atacando. Se fosse um caso de intolerância, ele contaria com toda nossa solidariedade.
Através do Facebook, Murielle informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Fonte: Extra
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