Metade da população das grandes cidades brasileiras acredita que “bandido bom é bandido morto”.
A constatação aparece em pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG que reúne especialistas em violência urbana do país.
O levantamento foi realizado no final de julho e fará parte do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado nesta semana.
O instituto ouviu 1.307 pessoas em 84 cidades com mais de 100 mil habitantes.
Para a pergunta se bandido bom é bandido morto, 50% disseram concordar, 45% discordaram e o restante não soube responder ou não concorda nem discorda.
Como a margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, há empate técnico, e a pesquisa indica a sociedade dividida.
Para o sociólogo Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, essa divisão no país é um bom sinal.
“Como o copo está meio cheio e meio vazio, metade da população é contra [à afirmação], e isso pode ser visto com uma janela para a construção de políticas públicas. Há espaço para mudança.”
A mudança prioritária desejada por Lima é no sistema da polícia, que privilegia o enfrentamento a criminosos e o confronto violento.
Esse resultado da pesquisa reforça a sensação de especialistas da área de que a sociedade é tolerante com a matança de suspeitos por policiais —PMs e policiais civis mataram ao menos 3.022 pessoas em 2014 no país, como a Folha revelou no sábado (3).
Fomento à letalidade
Para o ouvidor das polícias de SP, Julio Cesar Fernandes Neves, essa fatia dos brasileiros que defende o “bandido morto” fomenta a letalidade das corporações policiais.
“Estão autorizando o mau policial a fazer Justiça com as próprias mãos. Esse tipo de pessoa induz o mau policial a cometer o maior erro da sua vida”, avalia o ouvidor.
O efeito perverso dessa prática está tanto nos crimes provocados por policiais como na mortes deles: em 2014, 398 foram assassinados.
Considerando a margem de erro da pesquisa, homens e mulheres pensam da mesma forma sobre o tema, assim como ricos e pobres.
Há distinção, por exemplo, quando o recorte é pela cor da pele: 53% dos brancos acham que bandido bom é bandido morto, índice que recua para 44% entre os pretos.
Entre as regiões do país, a maior diferença está entre Sudeste (48%) e Sul (54%), mas ainda dentro da margem.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de SP, Martim Sampaio, quem defende o argumento de morte aos bandidos coloca na mão da polícia o poder de julgar e aplicar a pena capital, por exemplo.
“Como a sociedade não vê uma saída concreta para a violência, ela passa a achar que o único jeito de acabar com ela é por meio do extermínio físico do criminoso, tendo como seu agente a polícia”, afirma Sampaio.
Para o coronel Alvaro Camilo, ex-comandante da PM de SP e deputado estadual pelo PSD, o policial que se desvia dos ensinamentos da corporação está contaminado pelo sentimento de insegurança —algo que acomete toda a sociedade do país.
“A sensação de impunidade é tão grande que leva o povo a querer que a Justiça seja feita de imediato. O policial age assim, não pela vontade da população, mas pela impunidade que reina”, afirma.
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