Número de vítimas continua incerto até hoje; relembre como foi o acidente.Nova estrutura de proteção para usina deve estar pronta até 2017.
A tragédia estava ficando esquecida mais recentemente, até que o terremoto que atingiu o Japão em 2011 provocou um grave acidente nuclear em Fukushima, reavivando os receios sobre os riscos deste tipo de fonte de energia.
À 1h23 da madrugada de 26 de abril de 1986, o reator nuclear número 4 da usina explodiu durante um teste de segurança. Durante 10 dias, o combustível nuclear ardeu, liberando na atmosfera nuvens tóxicas que contaminaram com radiação até três quartos do território europeu.
O acidente
As nuvens tóxicas atingiram especialmente a Ucrânia e os vizinhos Bielorrússia e Rússia.
Moscou tentou esconder o acidente ocorrido na ex-república soviética e as autoridades esperaram o dia seguinte para evacuar os 48 mil habitantes da localidade de Pripyat, situada a apenas três quilômetros da usina.
O primeiro sinal de alerta foi lançado pela Suécia no dia 28 de abril, quando as autoridades detectaram quantidades anormais de radiação, mas o líder soviético Mikhail Gorbachev não falou publicamente do incidente até 14 de maio.
No entanto, cerca de 5 milhões de ucranianos, russos e bielorrussos vivem em zonas onde a quantidade de radiação segue alta.
Em quatro anos, 600 mil pessoas, principalmente militares, policiais, bombeiros e funcionários, trabalharam como "liquidadores" para conter o incêndio nuclear e criar uma barreira de concreto para isolar o reator.
Chernobyl: desastre nuclear na Ucrânia completa 30 anos
Número de vítimas continua incerto até hoje; relembre como foi o acidente.
Nova estrutura de proteção para usina deve estar pronta até 2017.
Usina de Chernobyl, danificada após a explosão, em foto de maio de 1986 (Foto: AP)
O mundo rememora nesta terça-feira (26) os 30 anos da catástrofe de Chernobyl, na Ucrânia, o pior acidente com usina nuclear da história, cujo número de vítimas continua sendo um mistério.
A tragédia estava ficando esquecida mais recentemente, até que o terremoto que atingiu o Japão em 2011 provocou um grave acidente nuclear em Fukushima, reavivando os receios sobre os riscos deste tipo de fonte de energia.
À 1h23 da madrugada de 26 de abril de 1986, o reator nuclear número 4 da usina explodiu durante um teste de segurança. Durante 10 dias, o combustível nuclear ardeu, liberando na atmosfera nuvens tóxicas que contaminaram com radiação até três quartos do território europeu.
O acidente
As nuvens tóxicas atingiram especialmente a Ucrânia e os vizinhos Bielorrússia e Rússia.
Moscou tentou esconder o acidente ocorrido na ex-república soviética e as autoridades esperaram o dia seguinte para evacuar os 48 mil habitantes da localidade de Pripyat, situada a apenas três quilômetros da usina.
O primeiro sinal de alerta foi lançado pela Suécia no dia 28 de abril, quando as autoridades detectaram quantidades anormais de radiação, mas o líder soviético Mikhail Gorbachev não falou publicamente do incidente até 14 de maio.
Depois que as autoridades reconheceram o acidente, 116 mil pessoas precisaram deixar seus lares situados na zona de exclusão, para a qual até hoje em dia seguem sem poder voltar. Nos anos seguintes, outras 230 mil pessoas tiveram o mesmo destino.
No entanto, cerca de 5 milhões de ucranianos, russos e bielorrussos vivem em zonas onde a quantidade de radiação segue alta.
Em quatro anos, 600 mil pessoas, principalmente militares, policiais, bombeiros e funcionários, trabalharam como "liquidadores" para conter o incêndio nuclear e criar uma barreira de concreto para isolar o reator.
Foto tirada de Prypiat este mês mostra o reator 4 com sua cobertura antiga (à esquerda) e o novo sarcófago em construção (à direita) (Foto: Gleb Garanich/Reuters)
Os agentes mobilizados chegaram ao local quase sem proteção ou com um equipamento inadequado para enfrentar a nuvem tóxica. Além de conter o incêndio, precisaram limpar as zonas adjacentes e construir o sarcófago para conter a radiação.
Três décadas depois do acidente, o balanço de vítimas continua sendo alvo de polêmica. Um controverso relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005 estimou em cerca de 4 mil as vítimas nos três países mais afetados. Um ano depois, a organização ambientalista Greenpeace situou o número em cerca de 100 mil.
Segundo o Comitê Científico sobre os Efeitos da Radiação Atômica da ONU, ocorreram 30 mortes entre os agentes enviados para conter os efeitos do acidente nos dias posteriores ao desastre.
O parque de diversões é visto no centro da cidade abandonada de Pripyat, perto da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (Foto: Gleb Garanich/Reuters)
A estrutura criada imediatamente depois do acidente, de maneira apressada, ameaçava começar a vazar para o ar 200 toneladas de magma radioativo, razão pela qual a comunidade internacional se comprometeu a construir uma nova camada de concreto mais segura.
A construção de uma urna com altura de 110 metros de 25 toneladas começou finalmente em 2010. Esta estrutura, um pouco mais alta que o Big Ben em Londres, permitiria cobrir a catedral de Notre Dame de Paris.
Este novo sarcófago deve estar plenamente operacional no fim de 2017 e terá um custo total de US$ 2,4 bilhões.
Com uma vida útil estimada em um mínimo de cem anos, esta estrutura deve dar tempo para os cientistas encontrarem novos métodos para desmantelar e enterrar o resto do reator, para que algum dia o local possa se tornar seguro novamente.
Como informa a agência AFP, até o momento ainda não está claro de onde será obtido o financiamento para manter a estrutura. A questão pode ser abordada em 25 de abril em uma assembleia de doadores em Kiev.
Segundo a agência Reuters, testes de radioatividade em áreas contaminadas pelo desastre foram cancelados ou reduzidos em razão da crise econômica na Ucrânia, na Rússia e na Bielorrússia, mas um levantamento do Greenpeace diz que as pessoas da região continuam a consumir alimentos e bebidas com níveis de radiação perigosamente altos.
De acordo com testes realizados por encomenda da organização, a contaminação geral por isótopos perigosos como o césio-137 e o estrôncio-90 diminuiu um pouco, mas ainda está presente, especialmente em locais como as florestas. "Está no que eles comem e bebem. Está na madeira que usam na construção e queimam para se aquecer", afirma o relatório do Greenpeace divulgado em março.
Rússia corta subvenção
Das 4.413 localidades russas afetadas pelo acidente de Chernobyl, 383 verão suas subvenções diminuírem por cortes orçamentários, como o povoado de Starye Bobovitchi. Outras 558 cidades serão simplesmente retiradas da lista.
Das 4.413 localidades russas afetadas pelo acidente de Chernobyl, 383 verão suas subvenções diminuírem por cortes orçamentários, como o povoado de Starye Bobovitchi. Outras 558 cidades serão simplesmente retiradas da lista.
"Com este decreto, o Estado se nega a reconhecer que são necessários 2.000 anos, e não 30, para descontaminar uma zona", denuncia Anton Korsakov, biólogo e especialista nas consequências de Chernobyl para a região de Briansk.
"Mesmo que consigamos descontaminá-la, terão que se passar várias gerações até que as crianças voltem a nascer saudáveis", afirma, lembrando que o índice de mortalidade infantil na região é cinco vezes maior que a média nacional.
Quando as crianças sobrevivem, 80% delas desenvolvem uma ou várias doenças crônicas, de acordo com estatísticas oficiais, citadas pelo especialista.
Em Novozybkov, cidade a 180 km de Chernobyl cujos 30 mil habitantes nunca chegaram a ser retirados como era previsto, os corredores do hospital estão cheios de crianças e idosos que esperam durante várias horas.
O cirurgião Viktor Janaiev estima que um terço dos seus pacientes vêm ao hospital por doenças causadas ou pioradas pelas radiações.
Viúva mostra foto de seu marido, morto no acidente nuclear de Chernobyl, durante ato em memória às vítimas. (Foto: Sergei Supinsky/AFP)
"Muitos não podem se cuidar, visto que os medicamentos subvencionados não são os mais eficazes", e seriam necessários outros remédios, mais caros, explica. O salário mínimo russo é de 6.204 rublos (cerca de R$ 320).
A partir de julho, Novozybkov passará de "zona a ser evacuada" para "zona habitável", e as ajudas econômicas serão reduzidas.
"É uma má notícia", lamenta Janaiev. "As pessoas terão que pagar pelos seus medicamentos, que até agora eram gratuitos. E as crianças não poderão ir ao sanatório no verão", afirma, lembrando que sair da cidade na estação mais quente do ano, quando as radiações são mais fortes, é uma necessidade.
Aleksander, seu paciente, confirma a observação: "Tenho a saúde boa? Depende. Quando estou em outra região, estou ótimo. Aqui, noto as radiações todos os dias", conta. Esse homem de 30 anos, pai de uma menina, gostaria de "ir embora da região". "Mas com que dinheiro? Ninguém nos ajuda", diz com tristeza.
Viver em uma zona contaminada pelas radiações de Chernobyl tem consequências na saúde; porém, é possível limitá-las sempre e quando "se esteja informado", afirma Liudmila Komorgotseva, da ONG russa União pela Segurança Radioativa.
"Mas o governo não faz nada e as pessoas colhem frutas e cogumelos no bosque contaminado", conta.
*com informações das agências AFP e Reuters.
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